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M. Eugénia Prata Pinheiro

quarta-feira, novembro 29, 2006

Substituições parte IV - até as vozes de burro

Até as vozes de burro às vezes chegam ao céu!

Hoje, pelas onze horas, vieram trazer-me o plano de uma aula de substituição que iria fazer às catorze horas. A coisa melhorou. Ia dar uma aula de música, pôr os alunos a cantar e disso até gosto e faço na minha própria disciplina ou com textos criados na aula ou de outros, ou para decorar listagens tipo preposições, advérbios..., ou quando preciso de quebrar uma actividade monótona e interrogo a cantar e quero resposta cantada, exercício para além do mais desinibidor, ou quando quero ralhar em tom menor, allegro ma non troppo.

Tive tempo para requisitar o leitor de CDs, para com um outro colega de música procurar o CD indicado e, para aquecer as cordas vocais, até pude participar no primeiro ensaio de um coro professoral para a festa de final de período. Digo professoral porque os funcionários, embora também convidados a integrá-lo, não apareceram. Ainda hei-de indagar razões mas suspeito que a sobrecarga de tarefas a que estão sujeitos esteja por trás da falta de presença. Julgo que os que se reformaram e os que estão de baixa não estão a ser substituídos talvez porque se espere chutar para estes postos de trabalho os mobilizados da função pública.

Assim, quando às cinco da tarde saí da escola, vi ficarem agarrados aos computadores na sala dos directores de turma uns colegas tristonhos a enfiar nos processos nome do pai, nome da mãe, número do BI... Com trabalhos para corrigir e aulas para preparar, esta actividade tão intelectualmente estimulante deve anular qualquer possibilidade de ao chegar a casa fazerem seja o que for. Quem falou de qualidade?

sexta-feira, novembro 24, 2006

Substituições parte III - enigmas

Enigma 1

Este foi o problema colocado aos alunos:

Se sete meios dos berlindes do Sérgio são verdes e ele tem 12 berlindes verdes, qual o total de berlindes do Sérgio? Explica o teu raciocínio.

E o enigma é: como foi possível chegar a esta formação de professores de matemática.

A professora que colocou na ficha de trabalho para os alunos este problema garante que está bem, que tem solução (embora ainda não me tenha explicado o seu raciocínio) e ela própria, segundo afirma, está envolvida na formação de professores e está em vias de obter um mestrado em Educação, especialidade em Didáctica da Matemática.

Só não me rio de tudo isto porque fui obrigada numa das tais famigeradas substituições a deixar nas mãos dos alunos a ficha.

À hora da aula foi-me dada guia de marcha para uma substituição de matemática "com plano" que nesse momento me foi entregue. E a tal ficha que os alunos iriam trabalhar continha, para além deste absurdo problema, muitas outras formulações pouco rigorosas.

Saltaram-me as falhas à frente logo que peguei nos papeis mas devia avançar para a aula. Adoptei a estratégia de demorar os alunos na primeira parte do trabalho, leitura de números fraccionários, comparação de números fraccionários, evitando avançar. Mas tive que deixar a ficha nas mãos dos alunos de acordo com as instruções do plano. E sou eu a responsável por esse depósito obscuro.

Reclamei no meu departamento mais uma vez contra o absurdo destas substituições com plano entregues em cima da hora. Referi-me à ficha dizendo apenas que me levantara alguns problemas quanto à formulação de algumas questões e que havia mesmo um problema que eu não sabia resolver. Não disse o nome de ninguém porque tudo isso era secundário e o que me interessava era que este tipo de substituições em cima da hora e de uma área que não é a minha fosse levado mais uma vez à discussão no Conselho Pedagógico.

Segundo me explicaram depois, a coordenadora do meu departamento e a do departamento de matemática entretiveram-se a pesquisar quem tinha sido o professor substituído e passaram-lhe (mal) a informação do meu comentário na reunião.

O professor substituído, a quem passo a chamar X, resolveu enviar documento à presidente do Conselho Executivo requerendo-lhe que me solicitasse explicações e que referisse a minha formação científico-pedagógica na área da Educação Matemática.

A presidente do Executivo, aqui actuando bem, chamou-nos a ambas à sua presença na intenção de resolver ali o assunto. Expliquei a X o que se passara na reunião, que constaria da respectiva acta e onde o seu nome não fora falado nem a ficha discutida. Propus-me, no entanto, dizer-lhe o que me parecera (fui tão doce!) formulado com pouco rigor, o erro do problema e sugeri-lhe argumentos de ultrapassagem "fizeste aquilo à pressa, pegaste numa qualquer ficha dum desses velhos arquivos". Levou algum tempo a aceitar que sete meios é maior que a unidade mas considerou perfeita a ficha, cuja autoria reclamou, falando um eduquês que me dispensei de fixar. E manteve-se na sua - queria tudo escritinho.

A presidente do Conselho Executivo lá me fez o envio formal do documento e lá terei que gastar tempo com isto. Lá, lá, lá, lá, lá.

E o ridículo de me pedir informação sobre a minha formação em Educação Matemática? Claro que é aquela que tem permitido que faça estas substituições! Só nesta área e com plano em cima do minuto da aula já lá vão uma de 7º ano de decomposição em factores primos, esta de 6º com números fraccionários e uma de 8º com números relativos. Que competência!

Ninguém acaba com esta brincadeira de mau gosto?

Deixem-me reformar-me!

Tirem-me daqui, tirem-me desta matemática post-moderna!

E aproveito para prestar homenagem ao meu querido pai, um excelente professor de matemática, à minha querida irmã que foi uma excelente professora de matemática neste nível até a terem desviado para a investigação e para o ensino universitário e a quem, quando tem que dar alguma aula, os alunos frequentemente aplaudem, à minha jovem ora contratada ora desempregada querida filha que optou por ser maçarica no 1º ciclo e que cuidadosa e rigorosamente trabalha com os alunos esta área. (Elas são capazes de não achar graça à citação mas apeteceu-me e elas não frequentam o meu blog)

Devia estar no estatuto um artigo a autorizar a reforma antecipada aos professores que tenham filhos voluntariamente na profissão!

Enigma 2

Na tal reunião de Departamento informou-me a coordenadora que, de acordo com decisão do Conselho Pedagógico, eu seria obrigada a substituir o professor de religião e moral (até me dou bem com o homem!) sempre que tal for necessário e eu esteja de plantão.(post Odeio substituições, neste blog)

E o enigma é: como é isto possível com uma disciplina de opção, numa escola pública que se diz laica e uma Constituição que diz garantir a liberdade de consciência.

Comuniquei para a acta que faltaria. Que injustifiquem.








domingo, novembro 19, 2006

Terminologias

Ando com pouco tempo para blogar. Escrever actas, ver trabalhos, preparar trabalhos...uma trabalheira. Ainda assim, como há leitores do blog e alguns deixam simpaticamente comentários, aqui venho neste domingo sombrio pouco convidativo para as minhas voltas a pé pela cidade.

Afinal a TLEBS não é assim tão problemática. O Pedro, arredado destas áreas, classificou a pulga sem dificuldade. Embora eu tenha ficado com uma dúvida que os linguistas, que não circulam pelos meus pavilhões, não aceitarão. Será a pulga um nome contável? Tantas e tão saltitantes? Na verdade eu só apanhei uma no meu braço - lá terei que admitir que é contável. Faltou dizer que é um nome concreto, tão concreto que mobiliza o tacto e a visão. E esta classificação pelos opostos concreto/abstracto é mais velha que eu.

Ainda não tive tempo para estudar toda a nova terminologia que nos é sugerida mas estes classificadores do nome permitem nas aulas momentos interessantes para pensar e falar.

PS. Ontem à noite fui ver Uma Verdade Inconveniente. O senhor Al Gore tem acesso a dados. E são dados aterradores sobre este desastre planetário que vamos construindo. É um filme a ver e a discutir. Está no Nimas.
(Se a ministra sabe que vou de vez em quando ao cinema, achará que ando com muito tempo livre e arranjar-me-á mais umas aulazitas.)

quarta-feira, novembro 15, 2006

Tornados

Para ajudar ao bom estado dos pavilhões ditos provisórios há mais de vinte anos, hoje, o senhor vento levou pelos ares alguma da cobertura em lusalite. Claro que alguns alunos foram atingidos julgo que sem grandes consequências físicas mas com um enorme susto. E como os pavilhões têm um pátio interior, pelo menos num deles, houve um efeito de tornado que levantou no ar duas raparigas projectando uma delas contra o portão.

Não sei como as instituições que fiscalizam as condições de salubridade e segurança permitem o funcionamento de instalações como estas ao serviço de umas largas centenas de pessoas.

A minha voz, apesar de grave e forte, é daquelas que não chega a qualquer céu.

E, por sorte, os pais têm mesmo que ir trabalhar.

Pulgas sempre saltitantes.

No diz que diz hoje da escola, constava que foi usada para a desinfestação uma creolina espanhola tóxica mas sem o desejado efeito matador. A aplicação foi feita por dois funcionários da escola não sei com que regras de segurança para os próprios. E parece que terão corrido um risco inútil. A ver vamos, a ver e a sentir na pele.

Não deveria o serviço ser feito por empresa qualificada para o efeito ?

Sem que de nada se tivesse falado sobre o assunto, no final da primeira aula, uma aluna veio dizer-me se o meu pai não tivesse que ir trabalhar hoje vinha cá à escola! Arregaçou uma das pernas das calças e surgiu a sua perna com nódulos e bolhas resultantes dos ataques da bicharada.

A sorte é que os pais têm mesmo que ir trabalhar.

Lá pelos gabinetes ministeriais haverá pulgas? Serão só carraças e melgas?




segunda-feira, novembro 13, 2006

Pulgas e sabe-se lá mais o quê...

Nos pavilhões há mais de vinte anos provisórios, a bicharada picante reproduzia-se animadamente. Alunos e professores comparavam as marcas deixadas nos corpos. E coçavamo-nos. Actividade que deve fazer parte do saber estar! Finalmente, neste fim de semana, houve desinfestação. Os dois pavilhões desocupados a arejar e lavar que o ambiente estava intoxicante. Impossibilidade de dar as aulas que aí decorreriam e novo dia de balbúrdia mas talvez a coçagem sossegue.

Curiosamente as moscas ocupam sobretudo a sala dos professores. Não há segundo sentido, falo mesmo de moscas, insectos voadores e pousantes que obrigam a gestos frequentes de enxotamento. Imagine-se a cena.

Faltas, faltas, faltas...

Greve da Função Pública. Na escola faltam sobretudo funcionários que os professores já ficaram de bolsos bem menos cheios com a greve do sector. A chefe dos contínuos, feita borboleta, lá anda saltando de pavilhão em pavilhão para os abrir, permitindo assim que as duas primeiras aulas da manhã decorram. Correm-se alguns riscos pois não há qualquer apoio imediato para o caso de doença súbita ou acidente de qualquer aluno ou professor. Para não desafiar demasiado a sorte e porque não há sequer casas de banho a funcionar, os pavilhões têm que encerrar. Apenas um tem abertura de instalações garantida.

Instruções: de tempo a tempo, isto é, de 45 em 45 minutos, os professores devem ir verificar se os alunos se mantêm na escola e devem marcar falta aos que tenham desistido de por ali andar sem aulas.

Mas os alunos faltam a quê?

quinta-feira, novembro 09, 2006

Diversidade Linguística

Chegou à escola a informação, que nos foi comunicada em reunião do departamento, de que no dia 7 deste mês iria ser apresentado o resultado do trabalho até aqui desenvolvido no âmbito do projecto do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) e ME Diversidade Linguística na Escola Portuguesa, na Fundação Gulbenkian, entidade financiadora. Sendo assunto que me ocupa e preocupa, inscrevi-me e fiz, em vinte e tal de Outubro, requerimento escrito, com entrada pela secretaria da escola, à presidente do C.E. da escola para que as faltas dadas a dois tempos de estada na biblioteca fossem consideradas como formação. Continuo à espera de resposta ao requerimento, embora tenha como tal justificado as faltas. As minhas aulas desse dia, nos dois primeiros tempos da manhã, foram dadas, o que implicou algum atraso na chegada à Fundação e me fez perder a intervenção introdutória da senhora ministra da educação. Quel dommage!

Ouvi sobre o assunto intervenções interessantes, recolhi dados que me espantaram. Espantou-me saber que são 58 as línguas faladas em casa em Portugal. Fiquei a saber que o projecto fizera recolha de dados junto de alunos duma escola do meu agrupamento.

Pareceram-me auxiliares úteis os materiais apresentados visando cumprir o objectivo do projecto criar linhas de orientação e materiais capazes de melhorar a competência em língua portuguesa dos alunos de outras línguas maternas.

Julgo, no entanto, que o ILTEC desconhece o que se passa nas escolas. Embora não estando a trabalhar para o boneco, poderá ter um resposta reduzida relativamente ao seu esforço e investimento. Explico.

Chegam-nos alunos com línguas maternas distantes do português e só depois de muita insistência por parte dos professores se consegue que seja permitido que um professor de língua portuguesa ocupe, para lá dos seus tempos lectivos, quarenta e cinco ou noventa minutos semanais para trabalhar com estes alunos. E conto histórias verdadeiras.

Este ano lectivo chegaram dois irmãos ucranianos que tinham acabado de entrar em Portugal. O rapaz para o oitavo ano, a rapariga para o quinto. Desde o primeiro dia que em quase todas as aulas corriam lágrimas pela cara do rapaz. Na matemática resolvia tudo bem, tinha cem por cento nos trabalhos. Ciências, física, história ... tendo como exclusiva língua de trabalho o português serão horas de tortura. Depois de alguma batalha lá se conseguiu que a professora de português da rapariga se ocupasse deles noventa minutos semanais. Fora dos seus tempos lectivos e sem que lhe seja atribuído tempo para preparar materiais. Que trabalhe 40 ou 50 horas semanais!E espero que estes jovens ucranianos sejam fora de série porque não estou a ver um filho meu a chegar a uma escola ucraniana e a seguir com êxito o plano normal de estudo para os alunos ucranianos com um apoio de noventa minutos de ucraniano. Brincadeiras.

A aluna senegalesa chegada no ano lectivo passado e a quem dei apoio e que, naturalmente com o esforço dela e meu, conseguiu transitar para o sétimo ano (tendo sido até a melhor aluna em algumas disciplinas mas não dominando ainda suficientemente a língua portuguesa), está este ano praticamente entregue a si própria porque a professora encarregada agora de lhe dar o apoio faz parte do conselho executivo e tem mais que fazer. Já barafustei em vão. O importante é que eu faça substituições dessas magníficas que tenho descrito. Má gestão de recursos? Brincar às escolas? Crimes?

Pelo que percebi na Gulbenkian pelas pessoas com quem fui falando, a situação repete-se em muitas escolas. Quarenta e cinco minutos semanais para apoiar jovens nepaleses, chineses ... recém chegados a Portugal.

Valha-lhes o ILTEC, a Gulbenkian ou um qualquer outro deus. Ao ME não vale a pena apelar.


sexta-feira, novembro 03, 2006

Odeio substituições - parte II

Estava de plantão e lá fui chamada para mais uma espantosa substituição. Uma turma de nono ano, os últimos 45 minutos de uma aula de informática de noventa minutos.

Já para lá estavam todos nos computadores jogando. Julgo que nas pantalhas dominavam os futebóis. Ainda perguntei se havia internet. Não havia. Se houvesse podia ter-me dado para lhes propor umas leituras do meu blog - aumentava o número de visitas e o meu ego cresceria. Nada feito.

Não me atrevi a alterar a cena. Limitei-me a sugerir a um que jogava solitário a passagem para o freecell - sempre pensaria um pouco mais. Que não sabia mas gostaria de aprender. Ensinei-lhe a técnica e a designação dos naipes que ignorava. A umas meninas que faziam de conta que jogavam minesweeper numa primária opção personalizada de dez minas, lá as pus a jogar numa versão intermédia pensando no que estavam a fazer.

Resolvi conversar com um rapaz com um ar vagamente entediado, sentado numa ilha no meio da sala, casaco vestido, mochila arrumada e sem computador. Explicou-me o seu incómodo. Tinham teste de português amanhã e não se sentia bem preparado. Antes queria estar em casa a estudar do que ali a gastar tempo. Aquela era a última aula da turma nesta tarde e sentia noventa minutos perdidos.

Percebi que este era o sentimento geral.

- Para que ficaram?

- Para não ter falta!

- Mas falta a quê?

Valha-me santo Alzheimer!

Pede desculpa, António!

Claro que tens que pedir desculpa, António.

Tu não tens o poder. Quem devia pedir desculpa a quem não interessa nada. Interessa é quem tem o poder e esse não és tu. E há o problema da autoridade, da autoridadezinha que tem que se salvaguardar. E está dito e está escrito e por definição os jovens não respeitam nada nem ninguém e são uns indisciplinados.

Pede desculpa, António.

Estuda história, estuda ciências! Vê lá o exemplo do Galileu. Lá teve que dar o dito por não dito para manter a cabeça em cima dos ombros. Guarda a cabeça e o riso. E vê que o mundo se move.

Pede desculpa, António.

quarta-feira, novembro 01, 2006

A escola mete água

Uns textos atrás declarei a minha absoluta ignorância quanto a empreitadas, valor de obras, concurso para as ditas. Ignoro mas vejo.

Há talvez três anos houve obras de remodelação dos pavilhões originais da minha escola. Falo dos originais e não dos tais de madeira e lusalite que lá estão provisórios há mais de vinte anos. Pois não é que esses recém-saídos das obras estão a meter água! Água a sério, a dar pelos joelhos, a inutilizar materiais, a danificar seriamente toda a instalação. Um destes pavilhões está fechado quase há duas semanas.

Esperar-se-ia dos órgãos de gestão o cuidado imediato de distribuir as aulas deste pavilhão por salas disponíveis, dando disso anúncio a alunos e professores. Nada disso. Salve-se quem puder. Os professores que descobrirem uma sala devoluta e conseguirem passar a informação aos alunos poderão dar aula. Ainda assim alguns alunos ficam fora da descoberta mas paciência. Os professores que não descubram sala não dão aula. E estão na escola. Entretanto seguem alegremente as tais substituições dos que faltaram. Absurdolândia.