Professor robot do aluno estante
De quantas horas de trabalho pessoal precisa um professor de português, com três ou quatro turmas atribuídas no seu horário, para ver com o necessário cuidado os trabalhos dos seus alunos, para preparar com o devido rigor as suas aulas?
E a pergunta fica de pé para muitas das outras disciplinas.
Se se mantêm estes professores nas escolas, onde não há condições para fazer esse trabalho, por períodos de oito, nove, dez, onze tempos diários, imagino que estejam a brincar às escolas num curioso e merecedor de análise regresso à infância.
Espera-se brio profissional?
Ou perguntar-se-á a estes professores: Foste um bom robot hoje, cumpriste na totalidade o teu plantão?
Depois seguir-se-á o coro de lamentações - só quarenta por cento dos alunos conseguiu nota positiva no exame de 9º ano de português! Só dez por cento em matemática!
E os culpados são sempre os mesmos, os alunos incapazes de aprender!
Mas os alunos, acabados de sair da escola do 1º ciclo, chegam à escola "dos grandes" e têm uma imensidão de coisas para aprender:
- Como chegar às onze ou doze salas por onde os diligentes fabricadores de horários lhes distribuíram as aulas.
- Como esperar numa fila enorme e algo conturbada para levantar a senha do almoço do dia seguinte (cerimónia que se repete para quase todos os alunos todos os dias) e comprar a senha para o pão que não houve tempo para trazer de casa, ir levantar o pão, comer o pão, fazer xixi, lavar as mãos, beber água, tudo isto com a mochila carregada às costas e num espaço de meia-hora que é geralmente o tempo atribuído para intervalo da manhã.
- Como esperar de novo meia hora na fila com a mochila às costas ou sempre debaixo de olho para chegar ao refeitório.
- Aprender a comer o que há (que agora, em alguns casos, não tem qualquer qualidade pois também as empresas fornecedoras adoptaram estratégias de contenção de custos reduzindo as horas de trabalho aos funcionários, reduzindo a qualidade e a variedade da refeição).
- Se, decorrendo da má qualidade, não conseguirem tragar o almoço, terão de aprender a aguentar a fomeca.
- Nos primeiros dias do mês terão de aprender a regressar a casa sem senha de autocarro - os serviços atrapalham-se, falta um qualquer papel que viabilize a entrega atempada.
- Muitos têm de aprender a estar na aula sem livros nem materiais porque aqui entra o s.a.s.e, entidade tranquilamenta caritativa que leva o seu tempo a pôr-se em marcha. (Vem à minha memória, aqueles dois professores que andavam de porta em porta, antes do início das aulas, a apresentar às famílias os livros que iriam ser utilizados durante o ano lectivo, entregando aos alunos os materiais necessários ao arranque do ano escolar - vi com os meus olhos num fim de tarde, lá numa vilazinha numa ponta dum fiorde).
Neste brincar às escolas, o objectivo, em eduquês corrente, é que os alunos aprendam a estar.
E por lá estarão todos muitas horas inúteis tornando-se cada vez mais estantes. Darão bons robots.
E a pergunta fica de pé para muitas das outras disciplinas.
Se se mantêm estes professores nas escolas, onde não há condições para fazer esse trabalho, por períodos de oito, nove, dez, onze tempos diários, imagino que estejam a brincar às escolas num curioso e merecedor de análise regresso à infância.
Espera-se brio profissional?
Ou perguntar-se-á a estes professores: Foste um bom robot hoje, cumpriste na totalidade o teu plantão?
Depois seguir-se-á o coro de lamentações - só quarenta por cento dos alunos conseguiu nota positiva no exame de 9º ano de português! Só dez por cento em matemática!
E os culpados são sempre os mesmos, os alunos incapazes de aprender!
Mas os alunos, acabados de sair da escola do 1º ciclo, chegam à escola "dos grandes" e têm uma imensidão de coisas para aprender:
- Como chegar às onze ou doze salas por onde os diligentes fabricadores de horários lhes distribuíram as aulas.
- Como esperar numa fila enorme e algo conturbada para levantar a senha do almoço do dia seguinte (cerimónia que se repete para quase todos os alunos todos os dias) e comprar a senha para o pão que não houve tempo para trazer de casa, ir levantar o pão, comer o pão, fazer xixi, lavar as mãos, beber água, tudo isto com a mochila carregada às costas e num espaço de meia-hora que é geralmente o tempo atribuído para intervalo da manhã.
- Como esperar de novo meia hora na fila com a mochila às costas ou sempre debaixo de olho para chegar ao refeitório.
- Aprender a comer o que há (que agora, em alguns casos, não tem qualquer qualidade pois também as empresas fornecedoras adoptaram estratégias de contenção de custos reduzindo as horas de trabalho aos funcionários, reduzindo a qualidade e a variedade da refeição).
- Se, decorrendo da má qualidade, não conseguirem tragar o almoço, terão de aprender a aguentar a fomeca.
- Nos primeiros dias do mês terão de aprender a regressar a casa sem senha de autocarro - os serviços atrapalham-se, falta um qualquer papel que viabilize a entrega atempada.
- Muitos têm de aprender a estar na aula sem livros nem materiais porque aqui entra o s.a.s.e, entidade tranquilamenta caritativa que leva o seu tempo a pôr-se em marcha. (Vem à minha memória, aqueles dois professores que andavam de porta em porta, antes do início das aulas, a apresentar às famílias os livros que iriam ser utilizados durante o ano lectivo, entregando aos alunos os materiais necessários ao arranque do ano escolar - vi com os meus olhos num fim de tarde, lá numa vilazinha numa ponta dum fiorde).
Neste brincar às escolas, o objectivo, em eduquês corrente, é que os alunos aprendam a estar.
E por lá estarão todos muitas horas inúteis tornando-se cada vez mais estantes. Darão bons robots.
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