O pão
Esperavam pela reunião do Conselho Pedagógico e manifestaram incómodo. Oh, que chato, o homem já chegou! Quem era o homem? O pai, o encarregado de educação, só traz assuntos que não interessam e ali fica a moer...Perdemos tempo, imenso tempo e com coisas importantes para tratar.
- Assuntos que não interessam? Por exemplo?
O pão, a falta de pão na cantina. O homem levara o problema para a mesa da reunião, mesa que só está habituada ao papel. Assunto desinteressante, pois.
Ouvira nesse dia um aluno reclamar por não ter tido pão junto da funcionária que percorria ao meu lado o pátio e que faz trabalho na cantina. A senhora retorquira que o que ele queria era fazer sanduiches e que não podia ser. Ele desandou, nós seguimos caminho e eu manifestei estranheza. Aprendera há muito que muitos dos alunos, com grande sentido de autodefesa, quando não conseguiam, ao almoço, comer tudo o que tinham no prato abriam um pão e enfiavam lá para dentro as sobras. Vi fazer sanduiches de arroz que eram gostosamente papadas ao lanche. Não, não pode ser, ó setora, as sanduiches, bem calha, nem são para eles, são para os que estão cá fora e nem senha de almoço têm...
Não há sanduiches para ninguém, pronto.
Com tantos alunos por ali que pouco comem, onde alguns, sabiamente, ao pequeno almoço comem um resto de massa cozida - o jantar da véspera, montes de meninos magricelas à nossa volta, não há pão, não há sanduiches para ninguém.
Lembro-me de quando há uns anos, por prémio de uma editora, levamos vinte e tal alunos à Eurodisney, diante das pilhas de excelentes croissants e múltiplas iguarias servidas ao pequeno almoço naquele hotel de quatro estrelas onde nos alojamos, os jovens comiam um pãozinho e meio copo de sumo ou de leite porque não suportavam comer mais, os estomagos não tinham capacidade, ficariam, tinham a certeza, indispostos. Claro que a meio da manhã aceitavam sem discussão os frutos secos que íamos distribuindo. O magro pequeno almoço já se gastara.
Esta é uma das tais escolas onde seria indispensável fornecer almoço a todos os alunos. Todos deveriam ter acesso a almoço gratuito. E para os que quisessem um pão a meio da manhã e a meio da tarde. Mas isto é o que eu acho, eu que me entretenho com estas coisas mesquinhas.
Pão, almoço, perdas de tempo... Não há pachorra.
Post Scriptum: Descobri que há escolas onde, a meio da manhã, os alunos que queiram tomam leite e comem pão com manteiga - gratuitamente, claro. E que há escolas onde, se algum professor ou funcionário referencia um aluno mal alimentado, é-lhe de imediato providenciado o acesso às refeições. Descobri que há Escolas com Gente lá dentro.
- Assuntos que não interessam? Por exemplo?
O pão, a falta de pão na cantina. O homem levara o problema para a mesa da reunião, mesa que só está habituada ao papel. Assunto desinteressante, pois.
Ouvira nesse dia um aluno reclamar por não ter tido pão junto da funcionária que percorria ao meu lado o pátio e que faz trabalho na cantina. A senhora retorquira que o que ele queria era fazer sanduiches e que não podia ser. Ele desandou, nós seguimos caminho e eu manifestei estranheza. Aprendera há muito que muitos dos alunos, com grande sentido de autodefesa, quando não conseguiam, ao almoço, comer tudo o que tinham no prato abriam um pão e enfiavam lá para dentro as sobras. Vi fazer sanduiches de arroz que eram gostosamente papadas ao lanche. Não, não pode ser, ó setora, as sanduiches, bem calha, nem são para eles, são para os que estão cá fora e nem senha de almoço têm...
Não há sanduiches para ninguém, pronto.
Com tantos alunos por ali que pouco comem, onde alguns, sabiamente, ao pequeno almoço comem um resto de massa cozida - o jantar da véspera, montes de meninos magricelas à nossa volta, não há pão, não há sanduiches para ninguém.
Lembro-me de quando há uns anos, por prémio de uma editora, levamos vinte e tal alunos à Eurodisney, diante das pilhas de excelentes croissants e múltiplas iguarias servidas ao pequeno almoço naquele hotel de quatro estrelas onde nos alojamos, os jovens comiam um pãozinho e meio copo de sumo ou de leite porque não suportavam comer mais, os estomagos não tinham capacidade, ficariam, tinham a certeza, indispostos. Claro que a meio da manhã aceitavam sem discussão os frutos secos que íamos distribuindo. O magro pequeno almoço já se gastara.
Esta é uma das tais escolas onde seria indispensável fornecer almoço a todos os alunos. Todos deveriam ter acesso a almoço gratuito. E para os que quisessem um pão a meio da manhã e a meio da tarde. Mas isto é o que eu acho, eu que me entretenho com estas coisas mesquinhas.
Pão, almoço, perdas de tempo... Não há pachorra.
Post Scriptum: Descobri que há escolas onde, a meio da manhã, os alunos que queiram tomam leite e comem pão com manteiga - gratuitamente, claro. E que há escolas onde, se algum professor ou funcionário referencia um aluno mal alimentado, é-lhe de imediato providenciado o acesso às refeições. Descobri que há Escolas com Gente lá dentro.
5 Comments:
Gostei deste teu post.
Uma das coisas que mais me custa ver lá na escola são os miudos cheios de fome.
De vez em quando lá aparecem a pedir á "Se Contínua" um pãozito.
Ofereco-me sempre para pagar o pão, mas a escola dá-lhes as sobras da cantina. assim a comida não se estraga e a comidinha fica nas barriguinhas dos míudos!
Gostei deste teu post.
Uma das coisas que mais me custa ver lá na escola são os miudos cheios de fome.
De vez em quando lá aparecem a pedir á "Se Contínua" um pãozito.
Ofereco-me sempre para pagar o pão, mas a escola dá-lhes as sobras da cantina. assim a comida não se estraga e a comidinha fica nas barriguinhas dos míudos!
Pois é, profpardal, somos nós a fazer de SASE e como para a opinião pública somos tãããããão ricos, paciência.
Na minha escola providencia-se, gratuitamente, um lanche a meio da manhã e outro a meio da tarde aos alunos identificados pelos profs e DT.
Também há alunos com esse hábito de fazer "sandes" com o que não comem ao almoço. Ainda bem que aproveitam pois o que mais me dói são os que estragam tudo e não respeitam os alimentos.
Actualmente a margem de manobra das escolas está a diminuir com a gestão dos refeitórios por empresas; quando os refeitórios eram administrados directamente mais facilmente se acudiam a estes casos.
Mas ao nível do bar é sempre possível disponibilizar leite e sandes.
Importa é que a comunidade esteja atenta a estes casos, muitas vezes encobertos e envergonhados, de modo a que não possa haver situações humilhantes de fome.
Ainda bem, Maria Eugénia, que a sua escola é das que resolve.
Na minha, servindo uma comunidade fortemente carenciada, as ideias que vão pelas cabeças não são das melhores. Quando era DT batia-me até conseguir soluções. Resolveram estes problemas deixando de me atribuir direções de turma.
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