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M. Eugénia Prata Pinheiro

sexta-feira, maio 28, 2010

A culpa é nossa - diz Vasco P.Valente no Público

O que tem vindo ao de cima é o acessório. Não se admite, de facto, que o Estado tenha uma frota de 29.000 carros, nem que gaste 90,8 milhões de euros só em gasolina. Ou que haja, ao que parece, 12 motoristas no gabinete do primeiro-ministro ou ministros com quatro e cinco assessores de imprensa. Ou que se gastem em viagens 2.252.679 euros por ano, ou à volta de 1.300.000 numa coisa chamada "brindes promocionais", que estranhamente não incluem o consumo regular de mais 700.000 e tal em agendas de trabalho, daquelas que se trazem no bolso. A lista não acaba e quem tiver a paciência de procurar encontra de certeza extravagâncias muitíssimo piores. Não sei quanto tudo isto custa ao contribuinte. Sei que me enfurece e escandaliza, na medida em que sou "escandalizável" com os vícios da Pátria. Mas também sei que não se trata do essencial.

Quando saímos do PREC e Cavaco, por assim dizer, "normalizou a economia", os portugueses resolveram viver "como na Europa". Depois de 60 anos de miséria, não custa a compreender. Faltava o dinheiro para esse exercício consolador? O país não ganhava, e nunca ganhou, o que gastava? Esse pormenor não comoveu ninguém. Da "Europa" vinham, sob várias formas, subsídios sem fim e, depois do "euro", apareceu, providencialmente, a dívida externa e o crédito barato. Na televisão, os bancos não paravam de oferecer empréstimos. No governo, os governos prometiam um Estado-providência exemplar, inesgotável, único. Na oposição, os partidos berravam sempre que era pouco e que o bom povo, coitadinho, ainda sofria muito.

De ano em ano, o delírio continuou, apesar de um aviso ou outro, invariavelmente atribuído a "velhos do Restelo" e pessimistas profissionais, quando não a reaccionários sem senso ou sem vergonha. Sendo uma sociedade democrática, Portugal precisava de igualdade e fartura. O português precisava de um Estado pressuroso e pródigo desde que nascia até que morria. Excepto por inveja ou mau carácter, quem negava esta gloriosa evidência? O PS de Guterres conseguiu instalar este absurdo como ortodoxia de Estado. O país foi vítima de uma fraude consciente e continuada durante 20 anos. Agora, dia a dia, devagarinho, volta a miséria do costume: na saúde, nas pensões de reforma, no ensino e por aí fora. E as pessoas, sem perceber o que se passa perguntam: de quem é a culpa? De Sócrates, do estrangeiro, do azar? De quem? A culpa é delas.