Apologia da abstenção
Vasco Pulido Valente, no Público.
Num dos primeiros dias de campanha "formal", Cavaco intimou os políticos a dizer "o que se pretende alcançar com os sacrifícios que se pedem aos portugueses". Muito obviamente, na cabeça de Cavaco, "os políticos" é uma categoria que não o inclui. Não passa de um pseudónimo de Sócrates para efeitos de propaganda populista. Desde 2008, ou mesmo muito antes, que toda a gente responsável previu e anunciou o que ia acontecer, perante o solene silêncio do Presidente da República. Verdade que, de quando em quando, ele se aliviava de algumas frases sibilinas - a situação é "insustentável", por exemplo, ou a situação é "explosiva" -, embora, com toda a sua sabedoria de economista, nunca se desse verdadeiramente ao trabalho de explicar aos portugueses como e porquê o Governo os metera num inominável sarilho. A vontade de não se comprometer e a esperança de um segundo mandato pesavam mais.
Só que anteontem, na improvável cidade da Guarda, o dr. Cavaco depois de anos de generalidades, resolveu mudar de táctica. Agora, prometeu que seria um Presidente activo no próximo mandato e avisou que pode haver "uma crise grave em Portugal, não apenas no plano económico e no plano social, mas também no plano político". E, como pode haver essa crise, declarou que iria usar de grande exigência com o "executivo" e que tencionava "acompanhar com muita atenção as propostas que viessem da Assembleia e do Governo", coisa que de certeza surpreendeu os circunstantes, porque manifestamente implicava que até ali o dr. Cavaco tinha feito vista grossa ou, pior ainda, consentido os desvarios do PS e de Sócrates, sem qualquer tentativa decidida e pública para acabar com eles.
Claro que, apesar disto, muito provavelmente Cavaco ganhará em 23 de Janeiro. Nem Alegre, nem os quatro ou cinco diletantes que andam por aí a fingir que se tomam a sério são um obstáculo. O único autêntico obstáculo é a abstenção, que se exceder largamente o habitual talvez force uma segunda volta. Não admira que o PSD e o próprio Cavaco andem por aí a insistir que a abstenção é ilegítima. Ora a abstenção não é ilegítima. É um acto de recusa total do regime que um cidadão está no direito de não legitimar pelo seu voto (mesmo com um voto em branco). E confessemos que um regime que propõe, como alternativa para a Presidência da República, Alegre ou Cavaco merece amplamente uma recusa total. Chegou a altura de não pactuar em nada com a miséria estabelecida da política portuguesa.
Só que anteontem, na improvável cidade da Guarda, o dr. Cavaco depois de anos de generalidades, resolveu mudar de táctica. Agora, prometeu que seria um Presidente activo no próximo mandato e avisou que pode haver "uma crise grave em Portugal, não apenas no plano económico e no plano social, mas também no plano político". E, como pode haver essa crise, declarou que iria usar de grande exigência com o "executivo" e que tencionava "acompanhar com muita atenção as propostas que viessem da Assembleia e do Governo", coisa que de certeza surpreendeu os circunstantes, porque manifestamente implicava que até ali o dr. Cavaco tinha feito vista grossa ou, pior ainda, consentido os desvarios do PS e de Sócrates, sem qualquer tentativa decidida e pública para acabar com eles.
Claro que, apesar disto, muito provavelmente Cavaco ganhará em 23 de Janeiro. Nem Alegre, nem os quatro ou cinco diletantes que andam por aí a fingir que se tomam a sério são um obstáculo. O único autêntico obstáculo é a abstenção, que se exceder largamente o habitual talvez force uma segunda volta. Não admira que o PSD e o próprio Cavaco andem por aí a insistir que a abstenção é ilegítima. Ora a abstenção não é ilegítima. É um acto de recusa total do regime que um cidadão está no direito de não legitimar pelo seu voto (mesmo com um voto em branco). E confessemos que um regime que propõe, como alternativa para a Presidência da República, Alegre ou Cavaco merece amplamente uma recusa total. Chegou a altura de não pactuar em nada com a miséria estabelecida da política portuguesa.
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