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M. Eugénia Prata Pinheiro

quinta-feira, outubro 19, 2006

Odeio substituições

Odeio substituições. Odeio-as desde o meu tempo de liceu, já lá vão mais de 40 anos. Nessa altura, no liceu, de dois em dois anos passava qualquer coisa pela cabeça da reitora e instituia substituições nas faltas dos professores. Pois, de dois em dois anos, a minha turma ostentava um garboso currículo de faltas colectivas. Nunca pusemos os pés em nenhuma dessas aulas-fantoche. Mantive o ódio que se acicatou agora que sou obrigada, em posição de palco, a fazê-las.

Outro dia, tratava-se de fazer de conta que os alunos estavam a ter um bloco de dois tempos de inglês. A professora teria deixado um "plano de aula". Entregaram-me o dito já mais de dez minutos depois do início do primeiro tempo do bloco. Dirigi-me para a sala e os alunos lá foram chegando enquanto eu olhava desconsolada para os papeis que tinha nas mãos. Deveria escrever no quadro meia dúzia de palavras com os respectivos significados ( hoje, amanhã, antes, depois...) e distribuir aos alunos uma fichazita sobre os dias da semana. Incipiente para um 2º nível. Rapidamente este tempo chegou ao fim e eu tinha que abandonar a turma para cumprir plantão na sala P (dos parvos - um dia explico, que a esta até acho alguma graça). Não tive hipótese de apoiar todos os alunos na escrita daquela dúzia de frases. Chegou um colega das artes, para cumprir o segundo tempo do bloco, um pouco atarantado com a ideia da aula de inglês "com plano" desconhecido. Acalmei-o. Ele teria que servir aos alunos apenas uma sopita de letras - a segunda ficha- com os sete dias da semana escondidos no emaranhado. E assim se cumpririam dois tempos de aula, por certo devidamente numerados e sumariados.

É faz de conta ou não é? Gato por lebre. Mas a senhora ministra gosta e os professores faltadores deliram - há sempre um idiota de plantão para aquele jogo de enganos.

Hoje então abespinhei-me a sério. Não é que me mandaram substituir o professor de religião! Eu que não tenho deus nenhum, que me arrepio quando subo a escada apainelada pela paixão de cristo executada a roxo faz de conta que pelos alunos, eu, eu, eu vou substituir o professor de religião. Em estado de choque nem consegui puxar pelo estatuto de objector de consciência ou outro estatuto (ele há tantos!) qualquer que permitisse safar-me desta brincadeira de mau gosto. Será que o estatuto da carreira docente serve para isto no blá, blá, blá dos direitos ou dos deveres? Ingenuidades, ilusões... não deve servir para nadinha.

Era o último tempo da tarde daqueles seis alunos (turmas curtas estas de moral!) e tive a esperança que tivessem desaparecido. Não, quatro queriam mesmo a aulazinha. Lá tive de explicar que estava fora daquele contexto, religiões não eram comigo. Pensei propor-lhes que ficassem os três quartos de hora de joelhos, uma penitência jeitosa que os prepararia para outras práticas sadomasoquistas - aulas em salas insalubres (bela aliteração), aulas de substituição, filas para tudo, piercings, tatuagens, azulejaria roxa, trezes de Maio, morangos com açucar e até aulas de religião para não falar de outras práticas aberrantes. Contive-me. Arranjei um exercício de matemática que deu para nos divertirmos. Ainda assim, quando voltei para a sala dos professores (fumadores, claro) tive que fumar um cigarro para lá da conta. Está muito stressante esta profissão! Qualquer dia entro pelo pastilhame dentro (redundância).

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Desculpe-me o mau português, sou do Brasil. Mas achei muito divertida a história de ter que substituir um professor de religião sem sequer acreditar em Deus. E também a descrição do que se poderia fazer de joelhos. Encantaram-me a narrativa e mais precisamente a forma da língua, um deleite para quem vive em um país que tem a sua maneira particular de tratá-la.

6:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Eugénia. Resolvi tratar-te pelo nome próprio porque não gosto de subterfúgios e encapotamentos, mas, ao contrário, gosto muito das coisas no seu devido lugar. Além do mais também não simpatizo com a palavra “setora”.
Como sou visado neste teu desabafo, que pretende, no entanto, passar da categoria privada de desabafo à do domínio público através da publicação na internet, sinto-me no direito de utilizar a mesma ferramenta e manifestar-te o meu desagrado pela forma como te referes a mim, à disciplina curricular que lecciono, ao trabalho que desenvolvo com os alunos, às religiões em geral e à religião católica em particular. Lamento que tenhas activado a aprovação prévia dos comentários.
Também não entendo o que te motivou a vires, depois, dar-me o endereço do teu blog. Um pouco sádico não achas? Fair play não me parece! Queres acicatar-me? Não faz muito o meu género, sou pacifista por natureza. De início ainda hesitei entre duas posições: a de “os cães ladram e a caravana passa” ou “quem não se sente não é filho de boa gente” e eu considero muito os meus pais e a formação que me deram para os desiludir.
Apesar de desde o início do ano, pelo convívio, ter percebido que estás sempre no contra em relação a quase tudo, até te achava alguma graça e pensava que existia entre nós uma relação cordial na sala de professores, de fumo é claro, porque é a mais calma, apesar de eu só ser fumador passivo. Está visto que ainda me deixo iludir com as pessoas.
Mas vamos ao que verdadeiramente interessa:
“Odeio substituições.” Pois não és só tu. A grande maioria de nós professores, eu incluído, discorda, no mínimo, da forma como elas são feitas e do seu tão divulgado benefício para os alunos. Mas com um facto tens que concordar – pelo menos não andam nos pátios a criar problemas – como diz a raposa ao Principezinho a propósito dos caçadores criarem galinhas, “é o único interesse que lhes acho”.
Claro que sabendo através do convívio diário e do que escreveste no blog que a tua posição contra as aulas de substituição é tão radical, não me admira nada que fiques incomodada por teres que fazer substituições de vez em quando. Contudo “abespinhada a sério por que te mandaram substituir o professor de religião?” Francamente…
Já agora um esclarecimento porque parece que não conheces a diferença entre um professor de religião e um professor de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) ou de outra qualquer religião. É que o professor de religião só existe no âmbito das igrejas. É um catequista, ou seja, alguém que lecciona as bases de uma fé e ajuda a fazer uma caminhada nesse sentido e, minha cara colega, devias saber que não é esse o objectivo da disciplina de EMR. Nós contribuímos para a formação integral do aluno leccionando Educação Moral (trabalhando os comportamentos, a formação pessoal, os valores) e Educação Religiosa (abertura para o divino e para a dimensão espiritual – porque nós não somos apenas materialidade). Já agora, isto tem a ver com os tais quatro pilares da educação que tu, há dias, dizias desconhecer (saber ser, saber estar, saber fazer e saber viver com os outros). Claro que esta educação não é feita de forma neutra, mas há educação neutra? Sabes bem que não! Por isso seja qual for o cariz confessional da disciplina de EMR (católica, evangélica, muçulmana, indiana – as quatro que já existiram ou existem em Portugal), esta utiliza os paradigmas, os testemunhos e as vivências que fazem parte da fé e da tradição próprias.
Eu que não tenho deus nenhum – estás no teu direito, afinal vivemos num país que, pelo menos, também a este nível nos permite a liberdade de opção. Nunca te tinha dito porque, para mim, as pessoas valem para além das suas posições pessoais, mas já agora que vem a talho de foice, vou dizer-te – entendo que as pessoas tenham outras religiões para além daquela que eu professo, até compreendo o politeísmo e as formas primárias de uma crença em Deus, como o animismo em povos que não gozam da nossa evolução (???) (são magníficos os textos dos pigmeus do Iturí acerca das suas florestas), que se seja praticante empenhado ou apenas crente numa fé também entendo, mas não ter Deus nenhum não consigo entender. É para mim um non-sense, uma sobrançaria, uma arrogância, uma falta de inteligência.
Basta-me olhar para mim, para a minha complexidade de pessoa, para perceber a existência de Deus, basta-me sentir o amor e as suas consequências, ver um sorriso, a beleza da natureza numa flor, numa montanha, num prado um pôr-do-sol, por exemplo, para sentir Deus. Sempre que estudo algo na área da Biologia, das Ciências Naturais, da Física e da Química, cada vez mais me emociono por sentir a maravilhosa presença da inteligência e do poder divino nisso tudo, tal como os pequenos pigmeus que sendo incapazes de passar do factual para o espiritual, consideram a floresta o seu Deus porque lhe dá tudo e os protege. Desculpa que te diga, mas como sói dizer-se, o maior cego é o que não quer ver. Porém estou tranquilo, se Deus não te deu fé talvez seja para eu exercitar a minha. Quanto a não teres nenhum deus, também estou tranquilo porque Deus – essência do amor – vela por ti na mesma.
“Que me arrepio quando subo a escada apainelada pela paixão de cristo executada a roxo faz de conta que pelos alunos.” Tens razão, a Paixão de Cristo é mesmo de arrepiar, mas não pelos mesmos motivos que pressinto em ti. É porque ela aconteceu mesmo, não é lenda. Está documentada e é mesmo arrepiante. De facto é algo verdadeiramente bárbaro da parte dos romanos e dos judeus ao crucificarem um inocente, mas, simultaneamente, uma dádiva fantástica de amor pela humanidade. Mas também tens que considerar o nível de civilidade da época e os malditos interesses pessoais dos judeus e de Pilatos.
Quanto aos azulejos, o teu preconceito parece ter uma tal dimensão que nem olhaste bem para a cor dos painéis. Não têm o tão tradicional tom azul do belo azulejo português é verdade, mas dele até ao roxo vai uma boa distância. Aliás, o roxo é a cor própria da época religiosa em que fazemos a anamnese da Paixão. Sabes que as cores para pintar azulejos são difíceis de fazer? É que quando se pinta o azulejo, antes da cozedura, a tinta é esbranquiçada, quase da cor da massa do próprio azulejo, por vezes o resultado não é o esperado.
Cara colega Eugénia, como reza o ditado, pela língua morre o peixe. “Faz de conta que pelos alunos.” Ainda há dias me contavas que, há anos atrás, levaste os teus alunos a produzirem o texto que tu querias para ser apresentado numa recepção do Presidente da República. Desde quando é que um professor não mete a sua colherada de modo a ajudar/levar os alunos a melhorarem os seus trabalhos? Sobretudo trabalhos que se destinam a ter algum destaque e perdurarem? Não é essa também uma das nossas funções? Deves saber concerteza que os alunos produzem muito mais e melhor quando o professor está perto ou ajuda. Vygotsky estudou isso e chamou-lhe Teoria do Desenvolvimento Potencial. Afinal a aprendizagem é sempre uma adição de conhecimento ao que já se possui e isso também se faz por imitação.
“Era o último tempo da tarde daqueles seis alunos (turmas curtas estas de moral!) e tive a esperança que tivessem desaparecido. Não, quatro queriam mesmo a aulazinha.” Aí está Eugénia! Pelo menos alguns alunos têm sentido de responsabilidade e não desapareceram. Ou será porque gostam das aulas e lhes vêem interesse? Se tiveres que me substituir mais alguma vez naquela turma podes perguntar-lhes. Quanto ao facto de serem só seis alunos, foi puro acaso. Essa é exactamente a turma mais curta, mas viste porquê? Sabes quantos alunos tem a totalidade da turma e porquê? Claro que não! Se te deres ao trabalho de verificar o rácio de alunos de EMRC por turma, verificarás que na maioria das turmas a maioria dos alunos frequentam a disciplina. Mais, deves ter presente também que a matrícula na disciplina é facultativa. Teoricamente depende da decisão dos pais, na prática depende bastante do interesse dos próprios alunos que, conforme aconteceu este ano, ainda vieram pedir a inscrição na disciplina mesmo depois do ano lectivo ter iniciado. Lamento que lhes tenhas dado uma aulazinha, eles são merecedores de mais!
“Pensei propor-lhes que ficassem os três quartos de hora de joelhos, uma penitência jeitosa que os prepararia para outras práticas sadomasoquistas – aulas em salas insalubres (bela aliteração), aulas de substituição, filas para tudo, piercings, tatuagens, azulejaria roxa, trezes de Maio, morangos com açúcar e até aulas de religião para não falar de outras práticas aberrantes.” Por acaso deste-te ao trabalho de pensar bem na gravidade e nas possíveis implicações do que aqui escreveste? Eu creio que não. É que com estas insinuações, muito próprias do jacobinismo, passaste à ofensa não só à minha pessoa, mas também à disciplina que lecciono, aos pais, etc. E lembra-te que a disciplina de EMRC é curricular e tem exactamente o mesmo direito de estar na escola que a tua Língua Portuguesa e tem responsáveis ao nível diocesano e nacional.
Primeiro sugiro-te uma abertura de horizontes, deixa entrar ar fresco porque o jacobinismo já tem mofo. Igualas a aula a uma prática sadomasoquista, lamento que, como condutora de uma aula, te vejas no papel de master sádica, eu decerto que não. Sou professor, sei qual a distância que deve existir entre um aluno e um professor, mas até te devias lembrar como dou importância aos afectos na educação – o tema da minha tese de mestrado – já falámos disso várias vezes. Referes tanto no teu blog o papel dos pais, quase como forma de incitamento à revolta. Não sei muito bem se contra as condições da Escola se contra a direcção da mesma. Eu sei por experiência própria que os pais em colaboração com os professores são fundamentais para o bom andamento da escola. Mas não com revoltas estéreis e uns contra os outros. Afinal como membro de um Conselho Directivo até ajudei a formar uma comissão de pais para se conseguir resolver alguns problemas semelhantes àqueles com que vivemos e fiz parte de uma comissão como pai. Contudo, ousas considerá-los sádicos e masoquistas ao matricularem os seus filhos na disciplina de EMRC. Não tens respeito pela sua inteligência e pela sua decisão?
Já agora quanto a sadomasoquismo, achas que Jesus ao ofertar a sua vida foi masoquista? Eu chamo-lhe um acto de amor.
A Igreja católica é culpada de massacres e de muitos actos reprováveis. Correcto! Que o pedido de desculpa do papa João Paulo II foi um acto positivo mas não remediou o mal feito? Correcto! Contudo não caias no erro de retirares os actos do seu contexto histórico-cultural. Olha que a União Soviética e o historial chinês, numa época dita muito mais evoluída, fizeram bem pior.
Então e todo o bem, todos os valores humanos, sociais e culturais que a Igreja Católica produziu nestes vinte séculos? Isso não te interessa ver!
E todas as vidas que foram sacrificadas no passado e mesmo nos nossos dias, de clérigos ou leigos, homens e mulheres que trabalham em prol dos outros? Para ti, concerteza, é melhor ignorar!
E ao nível pessoal… tu que fumas desenfreadamente, sabendo-se hoje que o tabaco mata, destrói, incapacita, custa muito dinheiro, que cada cigarro fumado são menos uns minutos de vida, não estarás a desenvolver conscientemente uma prática masoquista? Claro! Também não te convém equacionar.
Continuas a descer de nível quando prossegues com a comparação da disciplina a coisas tão deprimentes como aulas em salas insalubres, piercings, tatuagens, morangos com açúcar. A propósito da falta de condições, também te quero dizer que considero um absurdo existir na escola uma sala de fumo com aquelas condições e não existir uma digna sala de trabalho para professores. É que não és só tu que passa muitas horas na escola, mas eu gosto de aproveitar o tempo.
Voltas a mostrar insensibilidade face aos painéis de azulejo e trazes à baila o treze de Maio. É uma situação habitual, não estranho nem me apetece continuar a digladiar-me contigo neste comentário que já vai longo, mas por acaso sabes que o magistério da Igreja nunca se pronunciou no sentido de afirmar como dogma de fé que as aparições aconteceram mesmo? Claro que não sabes, essa não é a tua praia. Pois é verdade! Mesmo com a acção do papa João Paulo II, Fátima pertence ao domínio da fé pessoal, o que quer dizer que mesmo para os crentes do catolicismo, acreditar ou não depende do livre arbítrio. Mas creio que sabes que até fora do catolicismo há crentes de Fátima. Porém ainda não vislumbrei o que é que Fátima tem a ver com aulas de substituição?
Quanto às “práticas aberrantes”… efectuei a minha profissionalização e com boa nota se queres saber, frequentei com bom aproveitamento várias cadeiras de didáctica, desenvolvimento curricular, pedagogia, psicologia e sociologia tanto na licenciatura como na componente lectiva do mestrado. Creio que isto te deve bastar como resposta.
Só me resta dizer-te que fiquei a conhecer-te melhor… e fiquei decepcionado. Perdeste toda a legitimidade ao incluíres tudo no mesmo saco. Mostras aqui até que ponto és preconceituosa, até que ponto maltratas a liberdade que tanto dizes defender como mulher de esquerda e com um passado de luta. Afinal, colocas-te sempre no papel da detentora da verdade, e mostras bem que só respeitas essa liberdade se for da tua conveniência e dos que pensam como tu. A velha sabedoria do Triunfo dos Porcos continua presente: “Todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais que outros”

8:22 da tarde  
Blogger Setora said...

Se me conhecesses saberias que o teu comentário seria publicado. Instalei o modo de autorização não vá a senhora ministra dizer para aqui qualquer coisa menos oportuna.
Se sempre te manifestei as minhas opiniões, dar-te o endereço do blog é a sequência natural.
Tentando agora o ponto por ponto:
Apelidar outro de "do contra", dizer que aquela está sempre contra tudo - ou quase tudo como tu disseste e agradeço o quase - é uma forma redutora e fácil de impedir a discussão mais aprofundada dos assuntos. Como podes verificar nunca na escola se debateu este assunto Substituições e os problemas que suscitam, como se vê bem mais graves do que os alunos andarem pelos pátios.Da idade deles eu adorava andar pelos pátios e detestava substituições. Ficou-me colado à pele.
E não faço substituições de vez em quando. Faço muitas.
Devo dizer-te que até tive catequista durante toda a escola primária e contribuiu para a minha necessidade de contestar. Queria que dissessemos que o bispo do Porto era o Dom (raio de título) Florentino de Andrade e eu tinha que lhe lembrar que era o Dom António Ferreira Gomes.
Abstenho-me de comentar a abertura para o divino não vá ter que censurar o meu próprio comentário.
Não farei como tu que atacas o meu ateísmo chamando-me por tal de arrogante e burra. Não comento as tuas opções religiosas nem te envolvi pessoalmente.
Frequentei e trabalhei sempre no ensino público. Os meus filhos frequentaram sempre o ensino público.
Sempre achei que na escola pública não cabiam nem símbolos nem aulas de qualquer religião. Não se devem confundir os planos.É esta opinião que defendo, mesmo admitindo que seja política e socialmente mal aceite.
Referiste o texto que fiz há anos com os alunos convidados a irem à Presidência da República. O texto era bom e foi e teve destaque, os alunos é que não foram com o texto, foram proibidos. Lembraste-me um exemplar episódio escolar para o blog. Um dia lá irei.
Claro que fico invejosa com o número de alunos das tuas turmas. Acabei de ver uma turma de testes e, dos 24 alunos, há pelo menos 10 que mal conseguem ler e escrever.
E tu leste mal o meu texto. Estar 45 minutos de joelhos é incontestavelmente uma prática sadomasoquista. Não igualei a aula de EMRC a prática sadomasoquista mas se tu o afirmas quem sou eu...
Atribuis os males da humanidade a três origens. Parece-me pouco mas não vou agora dissertar sobre o assunto.
Referes as vidas dos religiosos que foram sacrificadas. Odeio vidas sacrificadas. Não quero que nenhuma vida seja sacrificada seja pelo que seja.
E dou-me ao prazer de fumar, prazer que me foi apresentado pelo meu avô. É um vício mas o meu ateísmo não permite que seja um pecado. Ah,ah.
E também acho que devíamos ter uma sala para trabalhar. Quando me deram este horário de mais de 29 horas na escola imaginei que me iriam dar um gabinete de trabalho. Ainda estou à espera e quando o tiver poderás ir para lá trabalhar que, garanto-te, não fumarei.
Quanto ao 13 de Maio não te preocupes. Ouvi há dias uma tese magnífica que diz que os pastorinhos andaram aos cogumelos.
Quem te disse que eu era uma mulher de esquerda? O que é isso? Duvido que caiba na definição. E dúvidas tenho cada vez mais. Ao contrário do que afirmas, não tenho verdade nenhuma, só dúvidas e mais dúvidas com as quais vou convivendo bem.Liberdade gosto mas sei que só serei livre quando tu também fores, por isso defendo a tua liberdade para ver se lá chego também.
Adopto a tua máxima final "todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais que outros.

4:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ao professor de EMRC,
O meu nome é Zé e estou aqui na pele de filho orgulhoso de uma mãe que não é info-excluída e até tem um blog. Claramente em falta pela fraca assiduidade com que visito a casa dos pais e esta, só da mãe.
Apesar disso, ela já me tinha falado desta pequena polémica, ao que eu lhe respondi “cheia de sorte, as polémicas é que dão vida a estes espaços, multiplicando os comentários”
Antes de passar a uma crítica que não posso deixar de fazer ao seu discurso, deixe-me que lhe diga que a sua resposta está claramente despropositada. Também eu já me vi por aqui referido, na pele de estudante faltoso, num post sobre as justificações de falta. Não estava eu em causa, mas sim uma situação que se passou comigo e que levou à reflexão da minha mãe.
Este era um post sobre substituições de aulas, as suas falhas e problemas, partindo da disciplina que lecciona, que além de ser facultativa, inclui uma componente religiosa. Não era portanto sobre religiosidade, nem sequer sobre a disciplina que lecciona e muito menos sobre a sua pessoa. Quando diz que se sentiu obrigado a reagir, por se sentir alvo do post, obviamente discordo.
Pondo de parte o facto de o nosso Estado ser laico e que por isso nem deveria contemplar este tipo de aulas, que na minha opinião deviam ser feitas em espaços próprios (cada confissão terá os seus, melhores ou piores) e não numa escola pública, aberta a todos (mesmo os ateus), acresce ainda o facto de a minha mãe como outros professores não ser religiosa. Este ponto, mais do que merecer as suas críticas, deveria ser alvo da sua reflexão. Não lhe parece absurdo um ateu a dar aulas de componente religiosa? A mim sim.
Além de que os blogues são espaços que servem para muita coisa, principalmente para expôr os pensamentos pessoais de cada um e permitir que outros tenham acesso a eles. Os jornalistas, cada vez mais presos aos ditames político-económicos dos grupos empresarias que controlam as redacções dos jornais, são um bom exemplo. Acabam por utilizar estes espaços com as opiniões e até factos que as redacções recusam, da mesma forma que fazem tábua raza das próprias regras deontológicas da profissão.
A práctica está hoje generalizada a toda a sociedade e os professores não são excepção. Revendo o post fica-me a ideia de uma reacção despropositada da sua parte.

12:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A sua resposta, que me pareceu despropositada, encerra outros problemas bem maiores.
Proponho-lhe que releia estes seus comentários:
"Nós contribuímos para a formação integral do aluno leccionando Educação Moral (trabalhando os comportamentos, a formação pessoal, os valores) e Educação Religiosa (abertura para o divino e para a dimensão espiritual – porque nós não somos apenas materialidade). Já agora, isto tem a ver com os tais quatro pilares da educação que tu, há dias, dizias desconhecer (saber ser, saber estar, saber fazer e saber viver com os outros)"

"até compreendo o politeísmo e as formas primárias de uma crença em Deus, como o animismo em povos que não gozam da nossa evolução(...), que se seja praticante empenhado ou apenas crente numa fé também entendo, mas não ter Deus nenhum não consigo entender. É para mim um non-sense, uma sobrançaria, uma arrogância, uma falta de inteligência."
Acho que não descontextualizei nenhuma ideia, por isso permito-me fazer-lhe vários reparos:
Da candura missionária passa rapidamente a um discurso de quase cruzada. Como exemplo proponho-lhe a leitura de uma descrição da conquista da cidade de Lisboa aos Mouros em 1147. A certa altura o cruzado descreve a cidade de Lisboa (onde nunca tinha estado) como um antro de perdição, qual Sodoma e Gomorra, apenas porque aí conviviam, pelo menos, as 3 religiões do Livro, e não havia religião oficial. O que não faz muito sentido se pensarmos que a cidade, que nessa altura atraía o jovem rei D. Afonso Henriques, era um importante ponto comercial, que iria emprestar a sua vitalidade ao novo reino. Mas o importante era legitimar a conquista aos “infiéis”.
A sua postura parece mais próxima deste texto com quase 1000 anos do que do ecumenismo do Papa J.P.II...
“formas primárias de crença em Deus”
“povos que não gozam da nossa evolução”
Mas não se fica por aqui e com “uma sobrançaria, uma arrogância, uma falta de inteligência", afirma que não ter Deus nenhum é um “non-sense”.
Espero bem que não seja este discurso que apresenta aos seus alunos, senão a “guerra das civilizações” será mesmo uma realidade, nem que seja apenas nessa mico-sociedade que é a escola da setora e sua também.
As sociedade ocidentais, que me dirá mais avançadas, afirmam-se hoje cada vez mais pelo cosmopolitismo e abertura e acho que era com estes valores que devia reger aulas de formação para a cidadania. Na pior das hipóteses releia os magníficos escritos do Padre António Vieira, que a minha mãe sempre elogiou.
Outro “pequeno” problema da sua exposição, que mais uma vez redunda num discurso quase xenófobo, agora anti-semita, é a sua leitura dos acontecimentos bíblicos. Acredite-se ou não no livro, um facto incontestável é que JESUS ERA JUDEU. Afirmou-se inclusivamente como o Messias dos Judeus e pregou contra os vendilhões do Templo. Por essa e por outras razões, pôs em causa a estrutura eclesiástica existente, que se aliou com os colonizadores romanos para por fim aos problemas. Essa leitura anti-semita foi usada durante a Idade Média para justificar as maiores atrocidades cometidas contra os Judeus, bodes expiatórios para tudo, até para a peste negra.
As mais recentes monografias sobre o período bíblico até já apresentaram Judas, o traidor, como o mais fiel discípulo de Jesus, mas parece que mesmo assim o enviezamento cultural de séculos se mantém...

12:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ao prof. de EMRC:

Colega, pelo seu comentário está tudo dito!
A EMRC é uma disciplina "da Escola" e não mais uma disciplina, "na Escola"!

Cada ano, o professor de EMRC é escolhido pelos seus alunos!!!

Se calhar, é isso que alguns (muitos) não entendem...

3:28 da tarde  

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