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M. Eugénia Prata Pinheiro

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Que bons comentadores!

Deixou o Outsider um comentário ao texto Petição on-line contra esta avaliação que, obrigando a reflexão, tomo a liberdade de publicar aqui.

Olá setora

"Aqui ao leme sou mais do que eu..." como dizia o outro. E que somos então?

Seguramente não somos ontológicos animais da concorrência. Foi assim que os filhos dos homens se transformaram, desde a "mudança de episteme" (Foucault), no fim do seculo XVIII, início do século XIX. Aí se formou uma sociedade "baseada no valor" (Marx), no sentido de "fazer do dinheiro mais dinheiro", mas que só pôde andar durante algum tempo, graças à "dissociação sexual" (Roswitha Scholz), expediente que consistia em deixar ao cuidado das mulheres os velhos, as crianças e mesmo a sobrevivência do "macho branco ocidental" (Robert Kurz) que tem devastado o planeta nos últimos séculos em busca do “lucro”.

Esta sociedade está a chegar ao fim com a terceira revolução industrial, que desacoplou a produção de riqueza do trabalho. Os robots de Palmela não podem comprar os carros que produzem. Hoje, quando o "one world" do capital transformou a concorrência em “concorrência de crise” (fusões e aquisições em vez de expansão), quando o ex-operário sem trabalho passa os dias a concorrer por um subsídio, também a escola, que já formou sujeitos da concorrência, não lhe bastando pôr os alunos a “estudar para o desemprego” (Vasco Pulido Valente), ainda faz hara-quiri, ao tentar simular a concorrência com as pseudo-avaliações de professores.

Eu sei que isto não é conversa para blog. Mas, se não quisermos sair da "jaula de ferro" (Max Weber) das categorias sociais do "patriarcado produtor de mercadorias", talvez possamos observar lateralmente (uma estrela distante só se vê pelo canto do olho...) o circo mediático em que nos querem enredar.

1. É sabido que a sociologia (quando havia…) fez trabalhos de campo na América que provaram inequivocamente não haver qualquer correlação entre as notas dos alunos e o seu êxito profissional.

2. Também é sabido que a "avaliação do desempenho" nas empresas nos anos oitenta foi um desastre, que levou à paralisia das unidades de trabalho (o que hoje só não se vê porque as informatização, o outsourcing e a deslocalização as fez desaparecer). E não foi apenas porque o chefe promove a amante e não a que ama trabalhar; mas também, sobretudo, porque o relacionamento de um colectivo humano vai muito para além do "homem unidimensional" (Marcuse), que supostamente se move apenas em função da análise custo/benefício. A extensão do desastre pode ser aquilatada pelo facto de a Volvo ter então decidido constituir as célebres "equipas autónomas" nas fábricas de automóveis, não querendo saber do que cada um fazia ou não fazia e preocupando-se apenas com o resultado da equipa.

3. Talvez por isso é que hoje, em Estocolmo, a guerra nas escolas está de facto polarizada na categoria central da “sociedade da mercadoria”, o dinheiro. A discussão é sobre quantas coroas o Estado vai disponibilizar para cada aluno, em cada grau de ensino. A concorrência faz-se de facto no mercado, procurando cada escola cativar o máximo de inscrições com a performance dos seus alunos. E os profs. procuram repartir o bolo tão amigavelmente quanto possível, sabendo que a receita da escola, de x por aluno, há-de dar para todas as despesas, incluindo investimento e consumíveis (talvez por isso é que a Microsoft não vai para lá e vem pastar para a “rica” ignorância lusa). Sendo a questão de dinheiro, os professores, fazendo jus à sua profissão com alguma elevação, viram naturalmente a animosidade contra os “construtores de pirâmides” da burocracia estatal, chamando para o seu lado a população, que prefere que o Estado pague a alguém qualificado para dar atenção aos filhos, em vez de gastar o dinheiro em computadores e outras “contas de vidro” dos falsificadores no poleiro. Muito menos a população admitiria que se tirasse aos professores dos seus filhos para devastar o país construindo auto-estradas, aeroportos, TGVs, conventos de Mafra e outros elefantes brancos…

4. Eu sei que Estocolmo não tem uma estátua do rei Vasa no poleiro, como Lisboa tem a do terrorista Marquês de Pombal, e mostra em vez disso a prova da imbecilidade da arrogância do dito soberano, no ícone turístico que é o barco de guerra com o seu nome, tirado do fundo do fiorde nos anos sessenta do século XX, e que se afundara ao entrar na água, por causa das imposições despropositadas do dito rei iluminista na construção do mesmo… Não sei se há tempo para apear o marquês, mais o leão de pedra, e pôr lá talvez uma réplica do estrado de madeira, onde foram massacrados os Távoras às ordens daquele terrorista de Estado, para grande escândalo da Europa iluminista que tanto o admirava… Nem sei se com isso os pós-modernos “terroristas da economia” do poder político democrático aprenderiam a ter mais alguma consideração pelas pessoas realmente existentes…

5. Mas uma coisa é certa: existe vida para além da “economia de mercado”. E, na “nova simultaneidade histórica” criada irreversivelmente pela globalização, não será de mais, nesta “ocidental praia lusitana”, esperar dos professores que desmontem perante a sociedade os truques de ilusionismo da barraca dos malabaristas do poder…

Força!

Outsider