Tantos manifestos...
Já por aí estão três manifestos sobre "o investimento" em tempos de crise.
Agradou-me este "quarto manifesto" que José Manuel Fernandes escreve no editorial do Público:
[...]
Primeiro que tudo: que critérios devem presidir ao investimento público num tempo de crise económica, elevados índices de desemprego e crescimento exponencial da dívida externa e, também, da dívida pública? Sugerimos quatro, mas há outros possíveis:
a) Os investimentos devem procurar resolver problemas existentes, por vezes microbloqueios que tornam tão difícil a vida dos cidadãos e das empresas em Portugal, em vez de olharem para problemas futuros, sempre eventuais, e criando dívidas, essas, sim, bem reais;
b) Entre um investimento que cria muita mão-de-obra, mesmo que não muito qualificada, e um investimento capital-intensivo, deve-se escolher o primeiro;
c) Os investimentos devem ser preferencialmente locais e seguir, no processo de decisão, o princípio da subsidiariedade. O Governo deve ficar o mais longe possível das decisões de investimento, que devem antes do mais caber à iniciativa privada e implicar uma co-responsabilização, assim como uma partilha de riscos quando houver dinheiros públicos envolvidos.
d) O factor inovação é essencial, mas não é o Governo que diz o que é inovador ou é antiquado: a este só deve competir ajudar os portugueses a arriscar mais.
Olhando para o país e para o papel do Estado com estas lentes, de imediato surgem inúmeras ideias sobre onde o investimento público pode ser aplicado sem sobrecarregar as gerações futuras, com efeitos na qualidade de vida e tornando o país mais atractivo para o investimento estrangeiro. Algumas sugestões:
- investir a sério na reabilitação dos espaços públicos, desde as casas que estão a cair (pertencendo muitas delas ao Estado) às pequenas estradas esburacadas, desde a requalificação das cidades à recuperação dos monumentos. São trabalhos que empregam muita gente, da construção civil aos gabinetes de projecto, são trabalhos que, bem feitos, implicarão inovar, pois passaram pelos investimentos em novas infra-estruturas de todo o tipo;
- investir na conservação de energia, algo tanto ou mais importante como produzir energia "verde". Isto passa tanto pela poupança de energia nos espaços públicos como, por exemplo, por apoios a um melhor isolamento das habitações ou edifícios de escritório, o que passa por utilizar novos materiais na sua recuperação ou por apoiar a substituição das janelas de vidro simples por janelas de vidro duplo, o que só por si criaria oportunidades industriais.
- pensar menos em "planos quinquenais" de investimento em energias renováveis ou carros eléctricos, operações de comando central, mas estimular os consumidores a também eles produzirem ou armazenarem energia de forma mais eficiente, o que talvez diminuísse o poder da EDP mas nos permitiria ter uma rede de distribuição de energia bidireccional e inteligente. Ou seja, levar o conceito da interactividade da Net ao sector energético, uma das apostas fortes da administração Obama.
Poderíamos continuar, mas é preferível deixar um alerta: estes milhares de micro e pequenas obras, de micro e pequenos investimentos não são apreciados nem pelos Governos nem pelos gigantes dos diferentes sectores. Os Governos porque controlarão menos e farão menos inaugurações. Os gigantes dos sectores porque perderão quotas de marcado para os que hoje não têm o privilégio de se sentar à mesa do Orçamento mas são empreendedores, trabalhadores, sabem inovar e, aqui talvez necessitando de alguma ajuda, são capazes de arriscar. Por isso é que até há muitos programas que poderiam responder a estas necessidades mas não funcionam porque morrem nas mãos de burocratas ou fenecem sob pilhas de outros processos. Quanto mais não seja porque se se aprecia o gosto por controlar tudo em São Bento (agora como no passado), a nossa administração está cheia ora de tiranetes, ora de gente em busca de prebendas, ora simplesmente de incompetentes e de gente sem sensibilidade moral ou cultural.
Para vencer a crise, este exército de empatas também teria de ser tirado do caminho.
Agradou-me este "quarto manifesto" que José Manuel Fernandes escreve no editorial do Público:
[...]
Primeiro que tudo: que critérios devem presidir ao investimento público num tempo de crise económica, elevados índices de desemprego e crescimento exponencial da dívida externa e, também, da dívida pública? Sugerimos quatro, mas há outros possíveis:
a) Os investimentos devem procurar resolver problemas existentes, por vezes microbloqueios que tornam tão difícil a vida dos cidadãos e das empresas em Portugal, em vez de olharem para problemas futuros, sempre eventuais, e criando dívidas, essas, sim, bem reais;
b) Entre um investimento que cria muita mão-de-obra, mesmo que não muito qualificada, e um investimento capital-intensivo, deve-se escolher o primeiro;
c) Os investimentos devem ser preferencialmente locais e seguir, no processo de decisão, o princípio da subsidiariedade. O Governo deve ficar o mais longe possível das decisões de investimento, que devem antes do mais caber à iniciativa privada e implicar uma co-responsabilização, assim como uma partilha de riscos quando houver dinheiros públicos envolvidos.
d) O factor inovação é essencial, mas não é o Governo que diz o que é inovador ou é antiquado: a este só deve competir ajudar os portugueses a arriscar mais.
Olhando para o país e para o papel do Estado com estas lentes, de imediato surgem inúmeras ideias sobre onde o investimento público pode ser aplicado sem sobrecarregar as gerações futuras, com efeitos na qualidade de vida e tornando o país mais atractivo para o investimento estrangeiro. Algumas sugestões:
- investir a sério na reabilitação dos espaços públicos, desde as casas que estão a cair (pertencendo muitas delas ao Estado) às pequenas estradas esburacadas, desde a requalificação das cidades à recuperação dos monumentos. São trabalhos que empregam muita gente, da construção civil aos gabinetes de projecto, são trabalhos que, bem feitos, implicarão inovar, pois passaram pelos investimentos em novas infra-estruturas de todo o tipo;
- investir na conservação de energia, algo tanto ou mais importante como produzir energia "verde". Isto passa tanto pela poupança de energia nos espaços públicos como, por exemplo, por apoios a um melhor isolamento das habitações ou edifícios de escritório, o que passa por utilizar novos materiais na sua recuperação ou por apoiar a substituição das janelas de vidro simples por janelas de vidro duplo, o que só por si criaria oportunidades industriais.
- pensar menos em "planos quinquenais" de investimento em energias renováveis ou carros eléctricos, operações de comando central, mas estimular os consumidores a também eles produzirem ou armazenarem energia de forma mais eficiente, o que talvez diminuísse o poder da EDP mas nos permitiria ter uma rede de distribuição de energia bidireccional e inteligente. Ou seja, levar o conceito da interactividade da Net ao sector energético, uma das apostas fortes da administração Obama.
Poderíamos continuar, mas é preferível deixar um alerta: estes milhares de micro e pequenas obras, de micro e pequenos investimentos não são apreciados nem pelos Governos nem pelos gigantes dos diferentes sectores. Os Governos porque controlarão menos e farão menos inaugurações. Os gigantes dos sectores porque perderão quotas de marcado para os que hoje não têm o privilégio de se sentar à mesa do Orçamento mas são empreendedores, trabalhadores, sabem inovar e, aqui talvez necessitando de alguma ajuda, são capazes de arriscar. Por isso é que até há muitos programas que poderiam responder a estas necessidades mas não funcionam porque morrem nas mãos de burocratas ou fenecem sob pilhas de outros processos. Quanto mais não seja porque se se aprecia o gosto por controlar tudo em São Bento (agora como no passado), a nossa administração está cheia ora de tiranetes, ora de gente em busca de prebendas, ora simplesmente de incompetentes e de gente sem sensibilidade moral ou cultural.
Para vencer a crise, este exército de empatas também teria de ser tirado do caminho.
3 Comments:
Olha que nunca tinha visto o senhor JMF tão lúcido.
Pois, é a primeira vez que o cito!
Olá, bom dia!
envia-me um e-mail para:
manuelbap@yahoo.com
Sol.
Manuel
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