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M. Eugénia Prata Pinheiro

sexta-feira, setembro 25, 2009

Entrevista a mim próprio...

Texto enviado por mail. Destinado a publicação num jornal ficou na gaveta.
Aqui fica para ser lido.



Entrevista a mim próprio
José Fernandes
Professor, Pai e Cidadão

Há maus professores?

Há, sim senhor. Há os que se baldam para os seus deveres, não ligando nada ou quase nada à profissão e aos seus alunos.

São a maioria dos professores?

De modo nenhum. A esmagadora maioria dos professores é dedicada e é competente.

Não é isso que o ministério diz…

O ministério não é capaz de reconhecer a qualidade dos professores. Quando a ministra da educação teve estampada na primeira página do Jornal de Notícias, dito por ela: “ Os professores são os culpados do insucesso escolar” está tudo dito! É uma frase cientificamente incorrecta e intelectualmente desonesta e que ela não consegue provar.

Como se percebe este ataque ao professores?

O PS e o governo, com alguma ponta de verdade numa ínfima parte da classe docente, apregoaram muitas mentiras, aproveitando o desconhecimento da população. E como nunca é demais, sou eu que digo que MENTIROSOS são os que dizem que os professores faltam muito, MENTIROSOS são os que dizem que os professores têm muitas férias, MENTIROSOS são os que dizem que os professores não querem trabalhar… Como dizia João Ruivo, “o PS e o governo mentem sobre a Escola e sobre os professores. Todos os dias lhes exigem mais e dizem que fazem menos. E não é verdade”.

Mas há realmente quem pense que os professores trabalham pouco…

Há uma maneira muito fácil de resolver isso: Pôr os professores a trabalhar 35 horas por semana – a sua carga horária -na escola. E aí preparavam as aulas, utilizavam os recursos da entidade empregadora e não os próprios e estavam 100% disponíveis. E terminado o dia de trabalho, os professores poderiam ir para a família, para o jardim, para serviços à comunidade, etc. Só voltavam a trabalhar no dia seguinte. Mas o governo não quer isto…

Porquê?

Porque assim pode continuar a afirmar que os professores não trabalham…

E o futuro próximo?

Quatro anos e meio de governo PS são maus demais para poderem continuar…

E o que acha desta última aparente aproximação do primeiro-ministro aos
professores?

Aparente! Diz-se bem. Quando Sócrates diz que “houve falta de comunicação com osprofessores, e daí as coisas não terem corrido tão bem quanto ele quereria, mas que estava agora disposto a negociar e a tomar um novo rumo para com os professores” só me apetece mandá-lo dar uma curva, porventura estudar Resistência de Materiais, e propô-lo para melhor actor de comédia. Então, depois de frequentemente chamado à atenção, inclusive por mim, vem com este paleio?! Tentou virar o país todo contra os professores e agora vem com esta treta?!

Mas o que podem fazer os professores?

O mesmo que fizeram nas eleições europeias. Chega.

No fundo, o que renegam os professores?

Em primeiro lugar este estatuto da carreira docente, com a cessação imediata da divisão da carreira entre professores de primeira e de segunda e ainda, mas não só, uma alteração profunda deste modelo de avaliação e o fim das quotas para subida de escalão!

E não há diferenças entre os professores?

Claro que há!

Mas então os professores não devem ser avaliados?

Onde ouviu dizer que os professores não queriam ser avaliados? Isso não passa de uma atoarda que o governo ps lançou para desacreditar os professores! O governo ps tudo fez para que a opinião pública interiorizasse que os problemas da educação passavam pela avaliação dos professores, mas é uma grande mentira!…

Explique melhor…

A avaliação de desempenho docente é importante, mas não é o mais importante. Verifique que, agora, a escola tem de fazer um grande número de coisas que desvirtua o modelo de escola que sempre tivemos. Não estou a fazer de Velho do Restelo. Mas o que é verdade é que o Conhecimento deixou de ser o mais importante da Escola Pública.

Porquê?

Implícita ou explicitamente os professores são obrigados a passar alunos que não sabem
nada. Mais, os professores devem ter autoridade e dignidade e devem ser sempre uma referência. Mas, actualmente, os professores sentem-se desvalorizados e humilhados.
Por exemplo, o regime de faltas dos alunos é uma palhaçada: então um menino que se
balde à escola para fazer o que lhe apetece, tem de ser levado ao colo, com planos e provas de recuperação até passar?! E quem paga pelo desleixo do menino? Outra vez os professores… Medina Carreira disse há tempos que “se os pais tivessem a verdadeira percepção do que se está a passar na Escola em Portugal, viriam para a rua”. Disse ainda que “o ensino em Portugal é uma intrujice. Uma intrujice cara. E depois inverte-se isto. Vamos avaliar os professores, nem sei quais são os critérios. No estado em que aquilo está parece-me uma tontice, mas não se avaliam os alunos. Isto tem pés e cabeça? Isto é de uma sociedade de gente com juízo?”. E ainda: “Este país não vai de habilidades nem de espectáculos. Este país vai de seriedade. Enquanto tivermos ministros a verificar preços e a distribuir computadores, eles não são ministros! Eles não são pagos nem escolhidos para isso!”

Mas há diversas coisas que são bem vindas pela população: o Inglês, as Novas
Oportunidades, a Escola a Tempo Inteiro…

Assim parece, mas não é! Carece de fundamentação científica a eficácia da aprendizagem de uma 2ª língua no 1º ciclo; é louvável, e eu sou testemunha disso, a vontade de muitos adultos melhorarem as suas qualificações e o esforço que fazem para o conseguir, mas é um absurdo fazer crer a estes adultos que meia dúzia de meses são equivalentes a três anos de escolaridade. Não são e acaba por complicar a auto-estima dos formandos quando confrontados com o que realmente beneficiaram.

E a Escola a Tempo Inteiro?

A Escola é um lugar de Conhecimento, de Estudo e de Trabalho. Não é um local para entretenimento e guarda de crianças. Muito menos pelos professores. Como já disse, se a escola estivesse organizada para que alunos, funcionários e professores exercessem as respectivas tarefas e funções num horário fixo, bem definido, e não levassem a escola para casa, tudo bem. Como disse alguém: “Erro estratégico mais grave em termos de modelo de desenvolvimento: não perceber que a Escola a Tempo Inteiro é útil para muitas famílias mas é um sinal de subdesenvolvimento do nosso país e não o seu contrário”.

Que balanço faz do trio que esteve à frente do Ministério de Educação, nestes quatro anos e meio?

Começando pelos secretários de estado, Valter Lemos parece-me um chico esperto como foi o primeiro-ministro no caso da licenciatura. Para além daquela questão das faltas na Assembleia Municipal de que ele fez parte, alguém me explica a sério, como é que o homem sem ter um doutoramento chega a presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco!? Jorge Pedreira é um malabarista: então de sindicalista passa a secretário de estado? E andou ele com histórias de os professores serem como ratos a comer bolachas e a quererem copos de leite… Parece uma grande indigência mental!… A ministra… Bem ela não percebia literalmente nada de Educação. Recordam-se de um debate no “Prós & Prós” em que lhe disseram abertamente que qualquer um(a) servia para ministro da educação? Ela não foi para o governo para tratar da Educação: foi para destruir a Escola Pública e humilhar os professores, usando tácticas que fariam corar qualquer agente ou chefe da PIDE!

Essa é forte…

Pois é. Mas parece que se esquecem de quem mandou polícias verificar quem ia às manifestações, do caso do professor Charrua ou dos alunos pressionados para imputarem culpas aos professores no caso dos ovos de Fafe… Pronto! Já sei que vão dizer que não foi ela… pois… pois…

Uma última palavra…

É simples: este PS nunca mais terá o meu voto! E não é parte de uma reacção corporativa! É o futuro de Portugal que está em causa!!!