Para não cegarmos...
...para não enfiarmos as crianças num parque a ver o canal baby.
Imagens de pensamento, Walter Benjamin, trad. de João Barrento, ed. Assírio & Alvim
Imagens de pensamento, Walter Benjamin, trad. de João Barrento, ed. Assírio & Alvim
É estultícia pôr-se a meditar profundamente, pedantemente, sobre o fabrico de objectos - material didáctico, brinquedos ou livros - destinados às crianças. Desde as Luzes que essa é uma das mais bafientas especulações dos pedagogos. A psicologia, que os cega, impede-os de ver como a terra está cheia dos mais incomparáveis objectos de atenção e de exercício infantis. E dos mais adequados. As crianças gostam muito particularmente de procurar aqueles lugares de trabalho onde visivelmente se manipulam coisas. Sentem-se irresistivelmente atraídas pelos desperdícios que ficam do trabalho da construção, da jardinagem ou das tarefas domésticas, da costura ou da marcenaria. Nestes desperdícios reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta para elas. Com eles, não imitam as obras dos adultos, antes criam novas e súbitas relações entre materiais de tipos muito diversos, por meio daquilo que, brincando, com eles constroem. Com isso, as crianças criam elas mesmas o seu mundo de coisas, um pequeno mundo dentro do grande. Não se devem perder de vista as regras deste pequeno mundo das coisas quando se pretende criar especificamente para crianças sem deixarmos que a nossa actividade, com tudo aquilo que são os seus requisitos e instrumentos próprios, encontre o caminho que leva a elas, e só esse.
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