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M. Eugénia Prata Pinheiro

sábado, setembro 18, 2010

Escola caviar

Por Henrique Raposo, no Expresso. Vou intercalando os meus comentários pedindo ao senhor Henrique Raposo desculpa pelo atropelo ao seu texto.

Acompanhar a atual ministra da Educação é o mesmo que entrar numa montanha russa emocional. Isabel Alçada consegue provocar risadas intermináveis e iras homéricas. Esta terça-feira, por exemplo, foi mesmo o "carrossel Alçada". Ao almoço engasguei-me a rir enquanto ouvia a nossa ministra numa cerimónia engomadinha: o tom afetado que Isabel Alçada colocava na palavra "carrairas" era delirante. Entre as gargalhadas, comecei a pensar em algumas perguntas ululantes: então ninguém faz uma rábula com esta ministra? Ou será que o tom afetado só tem graça quando o alvo da paródia é uma filha de um capitalista anafado, uma beata católica ou uma simples senhora da "direita social"? Se Alçada fosse uma ministra do CDS já teríamos por aí um pagode com as "carrairas".

Claro que se fazem rábulas em lugares esconsos das escolas e em casa. Para rábula ligeira a senhora fornece muito mais material que a antecessora. Mesmo sem sabermos se tem pai anafado capitalista, se é beata católica ou uma simples senhora da direita social, do PS.

Ao jantar a risada deu lugar ao ranger de dentes. Uma amiga mostrou-me um video onde podemos ver a Drª Alçada a revelar um enjoativo paternalismo em relação aos alunos do ensino público e, pior, em relação aos pais e professores. Se colocassem um crucifixo atrás da ministra, aquele video seria uma peça "vintage" do Estado Novo. Enquanto consumia a minha neura [falta de sentido de humor que o video é engraçadíssimo, tamém memo memo engraçado], comecei a imaginar outro video. Nesse video redentor, alguém teria a coragem de perguntar o seguinte à senhora ministra: caríssima, onde é que colocou os seus filhos e/ou netos a estudar? Na escola pública que tanto defende ou no Liceu Francês? E, depois, esta pergunta seria estendida ao primeiro-ministro: V. Exa. tem os seus filhos na idílica escola pública ou num colégio privado?

O senhor Henrique Raposo pode propor ao Expresso este questionário. Que diabo, está no semanário, há de haver por lá alguém com coragem. Por que não o próprio Henrique Raposo? E já agora poderia estender a pergunta a muitos outros senhores de outros setores de atividade, jornalistas e professores incluídos.

Meus amigos, o problema, obviamente, não está na colocação de crianças e dos adolescentes nos liceus franceses desta vida. O problema está, isso sim, na hipocrisia da esquerda caviar. De manhã, os nossos progressistas metem os seus filhotes no colégio privado (ou naqueles liceus públicos que, misteriosamente, estão sempre nas mãos de "gente de bem"), e, depois, à tarde, defendem a escola pública e cantam loas ao eduquês. Pior: estes progressistas de limusina atacam aqueles que querem dar aos mais pobres a possibilidade de colocarem os seus filhos nos colégios privados (ou naqueles liceus públicos que, não sei porquê, são sempre monopolizados pelos bem-nascidos). [Suponho que quer referir-se à conversa que anda por aí do cheque-ensino ou da livre escolha da escola. Sim senhor, quero ver uma parte dos alunos da minha escola a frequentarem o S. João de Brito, o Manuel Bernardes ou mesmo a Vasco da Gama, a pública da Expo. Reduzíamos as turmas que já vão nos 28, 29 alunos. Nem era preciso receber alunos por troca que não desejo os nossos barracões para ninguém. Estou absolutamente com o Henrique Raposo e arregaço já as mangas para com ele alcançar este feito. ] Na retórica, esta esquerda continua a defender o ensino ultracentralizado e dominado pelo facilitismo, mas, na prática, reconhece as virtudes de um ensino descentralizado e sem contacto com o ministério do eduquês. No seu dia a dia doméstico, a esquerda caviar coloca os seus filhos nos colégios onde o rigor do "antigamente" ainda existe, mas, no seu dia a dia político, utiliza a escola pública para extirpar o "antigamente" dos hábitos dos mais pobres. Ou seja, as crias progressistas são educadas à moda antiga, mas os filhos do povão são ensinados de forma progressista. Bravo. Os resultados desta hipocrisia estão aí: Portugal é uma sociedade estática, aristocrática, sem mobilidade social. Por outras palavras, a esquerda caviar esticou a sociedade salazarista até ao interior desta sociedade - nominalmente - democrática.

É preciso anular a concorrência... E um povão ignorante aguenta melhor a servidão.
Tsss

Meus amigos, esta esquerda é a principal inimiga dos filhos dos mais pobres. Dezenas de amigos meus "perderam-se" porque a escola das doutoras Alçadas lhes destruiu o futuro logo à nascença. Mas, claro, não se pode falar disto. Porque o burro sou eu. Porque o "fascista" sou eu. Porque o "neoliberal" sou eu.

Agora pergunto - por tudo o que foi escrevendo, a escola das doutoras Alçadas é de esquerda? O que é a esquerda?