O psiquiatra José Gameiro sobre a institucionalização de menores
Do Expresso
(...)
No Reino Unido um grupo de técnicos defende a institucionalização dos menores obesos (...)
Um psicólogo, o dr Eduardo Sá, e um juiz, o dr Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional das Crianças e Jovens em Perigo, foram ouvidos e, de acordo com o que foi escrito no "Público", concordaram com a medida (o dr Leandro com mais reservas)
Fiquei perplexo.
Aceitar que o Estado se intrometa cada vez mais na vida das famílias é um tremendo disparate.
Permite-se toda a espécie de publicidade, dirigida às crianças, sobre "fast food", sabe-se como a crise económica alimenta fortemente as multinacionais deste tipo de alimentação, lançam-se programas contra a obesidade - que em muitos casos é uma doença - que falham completamente os seus objetivos e, depois, a solução é o afastamento das famílias e uma espécie de tratamento compulsivo...
(...)
Numa sociedade cada vez mais complexa, como a nossa, os técnicos não devem ter uma posição de arrogância e megalomania, cujos danos podem ser bem maiores do que os benefícios das soluções propostas.
Um menor entra para uma instituição, mas nunca se sabe quando sai e como sai...
Penso ser responsabilidade do Estado fazer com urgência uma auditoria independente, o que significa ser feita por técnicos de saúde mental, serviço social e juristas, que avalie um número significativo de situações de institucionalização e nos permita compreender as suas motivações, evolução e "follow-up".
A negligência parental e o abuso sobre os menores são factos indesmentíveis, mas alargar a institucionalização a situações como a obesidade é um grave disparate que abre a porta a um Estado cada vez mais intrusivo e fortemente discriminador em relação às famílias de menores recursos e com mais difícil acesso aos cuidados de saúde. (...)
Fico contente por ver um especialista defender estes pontos de vista que coincidem com o que venho pensando sobre este assunto.
Atrevo-me a acrescentar algumas coisas em resultado do que fui vendo ao trabalhar junto de populações pouco alfabetizadas e de fracos recursos.
Incomoda-me ver técnicos de serviço social prantados nos gabinetes a "conhecer" as famílias através de um monte de papeis e a tomarem decisões em resultado destas falsas análises. Como podem prestar informação fiável aos juízes que tutelam os menores? Por que não acompanham as famílias no terreno?
Incomoda-me que as escolas inseridas em zonas carenciadas não tomem em mãos intervenção junto das famílias passando com clareza e sem arrogância informação sobre cuidados de saúde, higiene, segurança... Incomodam-me as "estratégias" de alimentação adotadas em algumas escolas.
Incomoda-me que, apesar do que já devíamos ter percebido sobre instituições de "proteção" de menores, se insista em institucionalizar crianças e jovens em risco. Países há que colocam estes jovens em famílias com filhos mediante pagamento pelo serviço prestado e acompanhando a inserção. Esta solução seria bem mais saudável em termos de educação e estabilidade emocional e bem mais barata, em todos os sentidos, para toda a sociedade. Não falo de experiências já feitas de inserção em famílias e pagamento durante um período findo o qual a família optará por adotar a criança (acabando o apoio económico prestado nesse período) ou devolvê-la à procedência(!). Falo de famílias com filhos que acolhem uma criança até à sua maioridade e recebem pagamento por isso durante todo esse tempo. Por certo mais económico e menos arriscado que alimentar tanta instituição, cujas contas desconheço mas gostaria de conhecer.
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No Reino Unido um grupo de técnicos defende a institucionalização dos menores obesos (...)
Um psicólogo, o dr Eduardo Sá, e um juiz, o dr Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional das Crianças e Jovens em Perigo, foram ouvidos e, de acordo com o que foi escrito no "Público", concordaram com a medida (o dr Leandro com mais reservas)
Fiquei perplexo.
Aceitar que o Estado se intrometa cada vez mais na vida das famílias é um tremendo disparate.
Permite-se toda a espécie de publicidade, dirigida às crianças, sobre "fast food", sabe-se como a crise económica alimenta fortemente as multinacionais deste tipo de alimentação, lançam-se programas contra a obesidade - que em muitos casos é uma doença - que falham completamente os seus objetivos e, depois, a solução é o afastamento das famílias e uma espécie de tratamento compulsivo...
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Numa sociedade cada vez mais complexa, como a nossa, os técnicos não devem ter uma posição de arrogância e megalomania, cujos danos podem ser bem maiores do que os benefícios das soluções propostas.
Um menor entra para uma instituição, mas nunca se sabe quando sai e como sai...
Penso ser responsabilidade do Estado fazer com urgência uma auditoria independente, o que significa ser feita por técnicos de saúde mental, serviço social e juristas, que avalie um número significativo de situações de institucionalização e nos permita compreender as suas motivações, evolução e "follow-up".
A negligência parental e o abuso sobre os menores são factos indesmentíveis, mas alargar a institucionalização a situações como a obesidade é um grave disparate que abre a porta a um Estado cada vez mais intrusivo e fortemente discriminador em relação às famílias de menores recursos e com mais difícil acesso aos cuidados de saúde. (...)
Fico contente por ver um especialista defender estes pontos de vista que coincidem com o que venho pensando sobre este assunto.
Atrevo-me a acrescentar algumas coisas em resultado do que fui vendo ao trabalhar junto de populações pouco alfabetizadas e de fracos recursos.
Incomoda-me ver técnicos de serviço social prantados nos gabinetes a "conhecer" as famílias através de um monte de papeis e a tomarem decisões em resultado destas falsas análises. Como podem prestar informação fiável aos juízes que tutelam os menores? Por que não acompanham as famílias no terreno?
Incomoda-me que as escolas inseridas em zonas carenciadas não tomem em mãos intervenção junto das famílias passando com clareza e sem arrogância informação sobre cuidados de saúde, higiene, segurança... Incomodam-me as "estratégias" de alimentação adotadas em algumas escolas.
Incomoda-me que, apesar do que já devíamos ter percebido sobre instituições de "proteção" de menores, se insista em institucionalizar crianças e jovens em risco. Países há que colocam estes jovens em famílias com filhos mediante pagamento pelo serviço prestado e acompanhando a inserção. Esta solução seria bem mais saudável em termos de educação e estabilidade emocional e bem mais barata, em todos os sentidos, para toda a sociedade. Não falo de experiências já feitas de inserção em famílias e pagamento durante um período findo o qual a família optará por adotar a criança (acabando o apoio económico prestado nesse período) ou devolvê-la à procedência(!). Falo de famílias com filhos que acolhem uma criança até à sua maioridade e recebem pagamento por isso durante todo esse tempo. Por certo mais económico e menos arriscado que alimentar tanta instituição, cujas contas desconheço mas gostaria de conhecer.
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