Resultados perversos...
A iniquidade do tal concurso para titulares está à vista. Os júris revelaram-se na sua incompetência. Os tais cinco pontos que deveriam ter sido atribuídos aos professores em serviço nas escolas pela avaliação de satisfaz não foram atribuídos e isso deixou de fora inúmeros professores do 10º escalão, aqueles do jurássico com mais de trinta anos de trabalho. Que há situações de injustiça, brada-se. Naturalmente que há. Agora chamam-se alguns desses professores e propõe-se-lhes, assim muito generosamente, que aceitem ficar como titulares, por um ano, em comissão de serviço. Sem mais. Brincadeiras!
E enquanto não nascem crianças, essas universidades privadas e públicas avalizadas pelo sistema dão à luz milhares de "licenciados em professores" que ficam a chuchar no dedo. Mas os tais ministérios ligados ao ensino não têm nada a ver com isso, o problema transcende-os, não é deles. E, na verdade, não seria lícito pedir ao professor Mariano Gago que se pusesse a gerar crianças ao ritmo a que gera profes. Mas e se se alargar a progenitura? Se todos os machos que professam por essas universidades fora forem instados a ter pelo menos dez filhos? Dez filhos em, vá lá, dois anos e endireita-se a ratio. E se estiver aqui, nesta capacidade geradora, a pontuação necessária para acesso às cátedras, o critério para contratações e promoções?
Opto por brincar porque o assunto é demasiado sério. Fica a nu a desintegração desta construção em que nos esforçamos por ir vivendo.
Na escola lá se vai fazendo de conta. Lá se mudam umas coisitas para que tudo fique na mesma. Mas com a expectativa da chegada de computadores e quadros interactivos que tornam o "na mesma" muito mais produzido. Até me contaram nas férias (nunca ficámos tão fora quanto gostaríamos) umas histórias de trapaças nos fornecimentos destes produtos, concursos esquisitos, empresas que vão à falência dum lado para reviverem doutro... sinceramente, não fixei - demasiado déjà vu.
A propósito destas tecnologias feiticeiras tive que travar diálogo na caixa de comentários do texto Com tratantes de escola que analisava os critérios para as colocações de escola. Transcrevo parte...
... antes que me ponham muda e queda na sala de aula.
Cá o meu critério seria medir pelo menos 1,90 metros...
Não é só por gostar de gente alta (homens, já agora...) mas porque tenho na minha sala um quadro interactivo e ninguém com menos dessa altura chega ao tecto para endireitar o projector que passa a vida fora do sítio!
Ó saltapocinhas, estás cheia de sorte. Isso é que é avanço tecnológico! Com que então, quadros interactivos! Sim senhora!
Pensando melhor, os da minha escola, pretos ou verdes rançosos, para escrever com o velho giz poeirento, também promovem significativas interacções.
Escreve-se neles com dificuldade pela sua condição sebosa, o que naturalmente impede a leitura escorreita, problema agravado com a iluminação que provoca reflexos impeditivos da descodificação do escrito, a partir de diversos pontos das sala.
E então, "ó setora, o que é que diz ali?", e movimentam-se para encontrar o melhor ponto de luz, caminham até ao quadro para lhe pôr o nariz em cima ou usam de imediata criatividade e inventam o que não conseguem ler.
As deslocações suscitam sub-reptícias rasteiras, promovem quedas aparatosas dos malfadados dossiers A4 que se estendem para as coxias. Podem seguir-se ligeiras batalhas.
Em suma - comunicação, movimento, acção, imaginação, interacção.
Estava com inveja do teu quadro e, depois deste exercício, fiquei a achar que o meu é melhor que o teu.
Até me esqueci do homem de metro e noventa que, na verdade, faz jeito em qualquer escola. Critério admitido!