A mulher que não conhecia a alface
Há já uns anos, numa aula de português, uma aluna guineense contou a história:
Uma mulher veio da Guiné juntar-se em Portugal ao seu companheiro aqui imigrante. Pouco depois de chegar, desconhecendo a alface, planta inexistente na sua região de origem, cozeu-a. O marido, usando como pretexto aquela "estupidez", abandonou-a.
A história deu azo a larga conversa - relações entre as pessoas, na família, os formatos da violência, os conceitos de estupidez/inteligência, as experiências novas...
E com base na história e na conversa, escrevemos e representamos um drama em três soluções (ou três atos). A cena I é igual nos três atos, terminando numa cantoria que repesco de um video de um professor de música que há mais de vinte anos vi brincando com Vivaldi. As cenas II contêm as três soluções e terminam também com cantigas que construímos com música do nosso folclore.
Compõem o cenário uma mesa (vazia nas cenas I e posta nas cenas II) e quatro cadeiras. Embora haja apenas duas personagens - a mulher e o homem - conseguimos que todos participassem. Numa espécie de "casting" caseiro, selecionámos três pares, um par para cada ato. Os coros têm a vantagem de alargar as entradas em cena e as claquetes em cartão que usámos para marcar mudanças de atos e cenas permitiram a participação dos que não foram nas cantigas.
Uma mulher veio da Guiné juntar-se em Portugal ao seu companheiro aqui imigrante. Pouco depois de chegar, desconhecendo a alface, planta inexistente na sua região de origem, cozeu-a. O marido, usando como pretexto aquela "estupidez", abandonou-a.
A história deu azo a larga conversa - relações entre as pessoas, na família, os formatos da violência, os conceitos de estupidez/inteligência, as experiências novas...
E com base na história e na conversa, escrevemos e representamos um drama em três soluções (ou três atos). A cena I é igual nos três atos, terminando numa cantoria que repesco de um video de um professor de música que há mais de vinte anos vi brincando com Vivaldi. As cenas II contêm as três soluções e terminam também com cantigas que construímos com música do nosso folclore.
Compõem o cenário uma mesa (vazia nas cenas I e posta nas cenas II) e quatro cadeiras. Embora haja apenas duas personagens - a mulher e o homem - conseguimos que todos participassem. Numa espécie de "casting" caseiro, selecionámos três pares, um par para cada ato. Os coros têm a vantagem de alargar as entradas em cena e as claquetes em cartão que usámos para marcar mudanças de atos e cenas permitiram a participação dos que não foram nas cantigas.
A MULHER QUE NÃO CONHECIA A ALFACE
- drama em três soluções -
Solução 1
Cena I
- drama em três soluções -
Solução 1
Cena I
Homem - Estou muito contente por teres vindo para ao pé de mim!
Mulher - E eu estou feliz por estar contigo!
Mulher - E eu estou feliz por estar contigo!
Homem - Para festejar a tua chegada a Portugal, vamos convidar para o almoço a Joana e o Pedro.
Mulher - É boa ideia!
Homem - Dou-te este dinheiro e vais ali comprar duas dúzias de sardinhas, batatas, tomate, alface, cebolas, azeitonas e pão.
Mulher - Alface? Não sei o que é alface!
Homem - É um vegetal que há cá em Portugal. Pedes lá na loja e aprendes logo o que é.
Mulher - Alface? Não sei o que é alface!
Homem - É um vegetal que há cá em Portugal. Pedes lá na loja e aprendes logo o que é.
Coro
Que dia tão lindo que hoje está...
Que dia tão lindo que hoje está...
O sol brilhando assim, assim...
O sol brilhando assim, assim...
O sol brilhando,
O sol brilhando,
O sol brilhando assim.
Cena II
[A mulher está a acabar de pôr na mesa a comida e numa travessa estão as batatas e a alface cozida. O homem entra em cena]
Que dia tão lindo que hoje está...
Que dia tão lindo que hoje está...
O sol brilhando assim, assim...
O sol brilhando assim, assim...
O sol brilhando,
O sol brilhando,
O sol brilhando assim.
Cena II
[A mulher está a acabar de pôr na mesa a comida e numa travessa estão as batatas e a alface cozida. O homem entra em cena]
Homem - Que bem! Já tens tudo pronto. Tudo bem arranjado - as sardinhas, o tomate, as batatas... O que é isto verde? O que é isto verde aqui?
Mulher - É a alface. Está bem lavada e bem cozida.
Homem - Cozida! Alface cozida! És muito burra, mulher! Não prestas p'ra nada! Fica-te p'ra aí. Não quero uma mulher tão burra. Governa-te! Adeuzinho! Nem te quero ver mais!
Coro
Ó que amor tão pequenino,
Ó que amor tão pequenino,
Que acaba com uma alface,
Que acaba com uma alface.
É verdade, é verdade,
É verdade, sim senhor!
Este homem é um pateta,
Não merece o seu amor!
Solução 2
Cena I
(igual à Cena I da Solução 1)
Cena II
Homem - Que bem! Já tens tudo pronto. Tudo bem arranjado - as sardinhas, o tomate, as batatas... O que é isto verde? O que é isto verde aqui?
Cena II
Ó que amor tão pequenino,
Ó que amor tão pequenino,
Que acaba com uma alface,
Que acaba com uma alface.
É verdade, é verdade,
É verdade, sim senhor!
Este homem é um pateta,
Não merece o seu amor!
Solução 2
Cena I
(igual à Cena I da Solução 1)
Cena II
Mulher - É a alface. Está bem lavada e bem cozida.
Homem - Oh! Que disparate o meu. Não te disse que a alface era para salada!
Mulher - Arranjei mal, foi?
Homem - Oh! Que disparate o meu. Não te disse que a alface era para salada!
Mulher - Arranjei mal, foi?
Homem - Pois, não era para cozer. A alface come-se bem lavada e crua. Só com sal, cebola, azeite e vinagre.
Mulher - Não sabia. E agora?
Homem - Agora, para a Joana e o Pedro não ficarem a pensar que és ignorante, vou num instante comprar mais alface para salada. Deita essa no lixo.
Coro
Ó que amor tão bonito,
Ó que amor tão bonito,
Este homem nos vem contar,
Este homem nos vem contar.
É verdade, é verdade,
A verdade bem-me-quer,
Este homem sabe amar
E respeitar a mulher.
Solução 3
Cena I
(igual à Cena I da solução 1)
Coro
Ó que amor tão bonito,
Ó que amor tão bonito,
Este homem nos vem contar,
Este homem nos vem contar.
É verdade, é verdade,
A verdade bem-me-quer,
Este homem sabe amar
E respeitar a mulher.
Solução 3
Cena I
(igual à Cena I da solução 1)
Cena II
Homem - Que bem, já está tudo pronto. Tudo bem arranjado - as sardinhas, o tomate, as batatas... e isto verde o que é? O que é isto verde?
Mulher - É a alface. Está bem lavada e cozida.
Homem - Ah! Cozeste a alface! Que engraçado!
Mulher - Engraçado porquê?
Homem -Cá não é costume cozer a alface. Come-se crua, com cebola, azeite e vinagre.
Mulher - E agora?
Homem - Ah! Cozeste a alface! Que engraçado!
Mulher - Engraçado porquê?
Homem -Cá não é costume cozer a alface. Come-se crua, com cebola, azeite e vinagre.
Mulher - E agora?
Homem - Agora come-se assim cozida. Até é capaz de ser bom. Não há problema nenhum. Amanhã faço eu uma salada de alface para tu experimentares.
Coro
Este homem é muito grande
E tem grande o coração,
Está livre p´rá novidade
Ao diferente dá a mão.
É verdade, é verdade,
A verdade vem dançar,
Com esta grande paixão
Este casal vai voar.
Coro
Este homem é muito grande
E tem grande o coração,
Está livre p´rá novidade
Ao diferente dá a mão.
É verdade, é verdade,
A verdade vem dançar,
Com esta grande paixão
Este casal vai voar.
2 Comments:
Parabéns, foi uma ideia mto gira!!
Bjns. Teresa Frazão(do curso de supervisores).
Olá(vírgula!)Teresa,
Calhou bem a história. As conversas desencadeadas foram interessantes e fazer a peça foi um grande gozo. Descobrir as entoações que os homens, nas cenas II, iriam dar ao "e isto verde, que é isto verde aqui" de acordo com o perfil que ficava traçado para cada um, foi muito divertido. Felizmente a primeira solução era rejeitada por todos, mas, quase em partes iguais defendiam a segunda e a terceira e isso correspondia ao modo como estavam nas aulas e na vida.
Um abraço e boas férias
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