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M. Eugénia Prata Pinheiro

domingo, novembro 09, 2008

Cegueira, surdez...

Falo da ministra da educação. Cega e surda mas não muda. E com propensão suicida. Estão 120 mil professores na rua manifestando a sua indignação e a senhora fala, fala...

E que diz?

Diz que o Conselho Científico validou o modelo de avaliação em curso. Ora sabemos todos como nasceu torto o Conselho Científico, como a senhora presidente do dito por lá andou abandonada e como, quando arranjou companhia, tão poucas vezes a reuniu. E em julho finou-se. E sabemos como foram ignoradas as poucas indicações que produziram.

Diz que os professores têm horários de 22 horas. Só a senhora é que conhece professores com horários de 22 horas. Os que eu conheço têm pelo menos 26 ou 27 marcadas nos horários, não contando todas as outras de reuniões, furos, preenchimento deste e daquele papel... E tem a coragem de declarar que os velhos professores em fim de carreira é que têm dificuldade em se adaptar. Insinua portanto que os novos professores aderem com facilidade a estas absurdas permanências e quererá também dizer aos velhos que se vão embora.

E paradoxalmente diz que este modelo é excelente porque assenta nos professores seniores. Até aqui entre os professores não havia diferenciação e agora há, há os seniores titulares. Os titulares que a senhora num golpe de magia empossou - todos sabemos como foi espantoso este concurso e como mais inquinada ficou a situação nas escolas. Sabemos como, a partir destes valorosos seniores, tirou da cartola os avaliadores - uma ação de formação rápida e que, descobri agora, os formandos pagaram do seu bolso e ficaram prontos para tudo, verdadeiros generais. Também se vai percebendo a qualidade destas ações deste novo ramo de negócio que o modelo constitui. Serviu para desastradamente desatarem a confecionar grelhas, parâmetros, indicadores, o que lhes deu na veneta inspirada. Recuam muitos deles agora deparando com a dificuldade de aplicação do monstro que foram gerando. Estão finalmente confrontados com a iníqua tarefa de que estão incumbidos - dar notas aos colegas - e entram em processo de rejeição.

Diz a senhora ministra que não pode parar agora que já foram avaliados no final do ano letivo passado com a benção dos sindicatos plataformados 20 mil. E alguns dos avaliados tiveram muito bom, que diabo! Nem a senhora nem os sindicatos explicam as fundamentações e o rigor dessas notações que vão já viciar as contratações de escola. A tal comissão de acompanhamento andou entretida com o seu próprio umbigo. O real passa-lhes ao lado.

Diz a senhora ministra que a sobreocupação é da responsabilidade das escolas. Mal organizadas e que inventaram más fichas. Ora podia ter começado por aqui. Avaliar as escolas era o que lhe competia. Conhecer as condições de trabalho e de organização das escolas em lugar de jogar na second life - isso é que tinha sido um bom início.

Diz a senhora ministra que se trata apenas de preencher uns meros objetivos. Tem-me doído a alma a ver os jovens colegas discutir agora em outubro, novembro os alunos x, y e z, os que naquela turma e na outra e na outra podem reprovar de modo a cumprir o objetivo de melhoria previsto. E têm de reprovar mesmo porque, se passarem, isso significará má previsão e, zut, má avaliação - assim lhes prescreveu a competente senior avaliadora. E para que se lhes desvaneçam as dúvidas que estas contabilidades podem suscitar-lhes, lá os enfiam numas patéticas ações de formação para avaliados. Continuamos no fecundo ramo de negócio.

Diz ainda a senhora ministra que os sindicatos querem minar o ambiente nas escolas. Está cega e surda. Não percebe o que minou o ambiente. Não percebe que seniores e juniores, avaliadores e avaliados vêm descobrindo o logro e se recusam a ser atores desta tragicomédia. Ficará em palco, sozinha, a senhora ministra. Agora, depois dos 120 mil lho terem vindo dizer na rua, talvez nem os sindicatos plataformados se atrevam a contracenar com a senhora.

Estive lá e no regresso a casa, na curta viagem de metro que fiz, ouvi as conversas/avisos dedicadas aos sindicatos - eles perceberam que já não estamos na infância, até aqui tínhamos medo, mas crescemos... e galhofavam com aquela greve tããããão longe que tinham ouvido anunciar. Parece-me que o mesmo se passou nessas camionetas todas que levaram os professores de volta às suas terras fazendo tantas muitíssimos quilómetros.

E a vontade da manifestação de 15 crescia. Para que não ficassem dúvidas.




1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Uma 'educação do povo a cargo do Estado' é absolutamente inadmissível. Determinar por uma lei geral os recursos das escolas primárias, as aptidões exigidas ao pessoal docente, as disciplinas ensinadas, etc., e, como acontece nos Estados Unidos da América, fiscalizar por meio de inspectores do Estado a execução destas prescrições legais é completamente diferente de fazer do Estado o educador do povo! Pelo contrário, é preciso, pelas mesmas razoes, banir da escola qualquer influência do governo e da Igreja. Sobretudo no Império prussiano-alemão (e não se recorra à evasiva falaciosa de falar num certo 'Estado do futuro'; nós já vimos o que ele é) é, pelo contrário, o Estado que precisa de ser rudemente educado pelo povo.
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Dixi et salvavi animam meam."

Karl Marx, Crítica do Programa de Gotha, 1875

12:05 da manhã  

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