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M. Eugénia Prata Pinheiro

sábado, junho 13, 2009

Santos populares

Marchismos odeio, mas gosto da folia nas cidades, das pessoas à solta.

Lá fui ontem para a rua. Uns cunhados estreantes obrigaram a descida da avenida. Miraram as marchas e depressa admitiram não querer ser figurantes daquela seca organizada. E seguimos para pátios mais animados. Pelo meio da multidão de jovens descobri os filhos e muitos dos seus amigos. E a filha, em final de gestação, dançava "por receita médica". O último metro permitiu um regresso fácil. Saudei e agradeci ao funcionário que acompanhava a saída para fechar a estação. Olhou-me com algum espanto mas também desejou boa-noite. Foi bom.

Guardo na memória os risos, os cheiros, as cantorias e as bailações das noites de São João no Porto - guardo na memória porque raramente os horários escolares me permitem que para lá desande.

Prefiro a festa à moda do Porto. Ninguém ali é arregimentado para ficar horas de basbaque a ver as marchas passar. Anda-se pelas ruas sem destino, parando aqui e ali porque há bailarico, mais além porque se lançam balões. E pelo caminho esfrega-se o alho porro ou o molho de cidreira na cara do desconhecido passante que retribui animadamente. Agora tudo à mistura com os plásticos martelos.

E revejo o meu pai com um sorriso a distribuir cravos ou rosas às jovens raparigas que com ele se cruzavam enquanto a mãe se envolvia nas batalhas aromáticas dos alhos ou das ervas. Lembro-me da avó respondendo com vénia de bonomia às alhadas no seu belíssimo penteado branco. Lembro-me do velho tio que se enfiava no comboio sozinho para passar a noite de São João na cidade que tivera de deixar para trás.

As vésperas de São Pedro ocupavam-se com cerimónias de fogo no pátio da casa. Lá estavam as bichas de rabiar e outros fogos de vista. O ponto alto era o lançar de um balão construído por nós com arame fino e papel de seda que obrigava a gestos coordenados e conjuntos e ensinava um pouco de física. Os bonecos da cascata que todos os anos montávamos assistiam do seu canto.

Para além das sardinhas, era da praxe o cabrito assado. Lá o recupero mais uma vez este ano em Lisboa. Pois que viva o António, o João, o Pedro e até o Bento que já teve este ano muitas romarias.