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M. Eugénia Prata Pinheiro

sábado, outubro 31, 2009

Outras leituras da Odisseia

A síndrome de Penélope

31.10.2009 José Augusto Lopes Ribeiro
Escola Secundária de Sá de Miranda – Braga

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Não há vento favorável para aqueles
que não sabem para onde vão

Séneca

Sobre a problemática da Educação e do Sistema Educativo todos formulam opiniões e consideram-se habilitados a apresentar soluções, de modo a promover a qualificação das pessoas e o desenvolvimento do nosso país. Contudo, a maioria ignora o estado em que se encontram as escolas e a mistificação que se criou à volta do Ensino.

O professor foi seleccionado como o bode expiatório, causa de todos os males e elemento a sacrificar, de maneira a restabelecer a ordem e a paz social. Assim, o desdém pelos docentes e pela instituição escolar conduziram à confusão e insegurança crescentes, instalando nas escolas uma burocracia kafkiana e uma grande aleatoriedade.

À semelhança do plano astuciosamente arquitectado por Penélope, na Odisseia de Homero, todo o trabalho executado pelos docentes durante o dia é desmanchado de noite. Ensinar tornou-se sinónimo de burocratizar e a burocracia organizativa alimenta-se das suas próprias disfunções, sem qualquer capacidade de corrigir os seus erros. Nem a reabilitação das escolas nem o programa tecnológico para a educação, resistem à irracionalidade da burocracia. A finalidade é dominar os professores, ignorando ostensivamente o seu pensamento e as propostas para mudar o que está a ser feito e o modo como é feito. Trata-se, como refere José Gil, de “fabricar subjectividades obedientes”, desactivando toda a acção e instalando um centralismo autoritário e regulador, de modo a tornar as pessoas parte activa na sua passividade.

A mudança desta situação exige que aqueles que são parte decisiva no processo educativo se manifestem quotidianamente nas escolas e façam ouvir a sua voz, intervindo de modo empenhado e responsável. Ser responsável não significa seguir as regras de modo acrítico, mas sim constituir-se elemento pouco contemporizador e, mesmo incómodo, de maneira a garantir que a educação não seja governada a partir de gabinetes e implique a participação vigorosa dos docentes. Trata-se de exercer, de direito, uma influência naquilo que lhes diz respeito enquanto educadores, ultrapassando a demagogia política e os simulacros que esta produz nas escolas.