A minha foto
Nome:

M. Eugénia Prata Pinheiro

domingo, setembro 26, 2010

Grande descoberta!

Nuno Crato, no Expresso, cita Erik Hanushek, um dos principais fundadores da chamada "econometria da educação" dizendo da não existência de uma relação sistemática nem de relações fortes entre os gastos da escola e o desempenho dos estudantes.

Nuno Crato cita também um estudo de uma universidade americana que seguiu ao longo de cinco anos 150 mil estudantes concluindo que os jovens não melhoram os seus conhecimentos pelo simples uso de computador pessoal. Faz parte das conclusões que os rapazes têm mesmo algum retrocesso escolar.

Isto sabemos nós que andamos pela escola. Podem pôr milhões em magalhães nas escolas e isso não se traduzirá forçosamente em aprendizagens dos alunos.

E por trás dos gastos faustosos que os últimos governos vêm fazendo nas escolas - computadores, banda larga, quadros interativos, obras muitas vezes irracionais - esconde-se um desprezo real pelas necessidades básicas.

Para lá do que vou vendo à minha volta, ouvi no fim de semana coisas espantosas que se passam pelo país, muitas vezes envolvendo as crianças do 1º ciclo e pré-primária.

Mais uma vez as aulas arrancam sem que grande parte dos alunos tenham os manuais. O SASE, essa entidade benfazeja, dentro de um mês, dois meses... há de providenciá-los.

Em muitas escolas, os refeitórios servem refeições apenas a uma parte dos alunos. Os que já não cabem no número fixado que se amanhem. E os sistemas de controlo eletrónico de entradas e saídas está tantas vezes engasgado que os alunos ficam no cárcere, impedidos de sair para ir a casa almoçar travando então batalha com os funcionários/porteiros que, zelosos, obedecem ao fom-fom do aparelho. Noutros refeitórios o "reagrupamento de escolas" elevou de tal modo o número de clientes que deixou de haver condições de espaço físico para o atendimento e é a balbúrdia que marca o tempo da refeição.

Atrapalha-se a vida das famílias - fechou-se a escola do lugar onde vivem e os pais têm de conduzir as crianças à escola na cidade próxima. A falta de funcionários leva a que a escola só abra portas perto das 9 horas mas é às 8h ou 8:30 que os pais entram nos empregos. No lugarejo, os avós, os tios ou os vizinhos encarregavam-se da tarefa de levar as crianças à hora de abertura da escola local, agora para ali hão de ficar ao abrigo da sorte.

Um único funcionário cobre as tarefas necessárias em três pisos de um edifício escolar. Cobre naturalmente mal e apenas enquanto tiver fôlego. A ideia de desorganização instala-se e passa a marcar a vida da escola.

Os passes para os transportes abrangem um número cada vez mais reduzido de alunos. Zonas afastadas deixam de estar cobertas e há que percorrer a pé por vias com poucas condições a distância casa-escola-casa.

Retiram-se quadros de plástico e repõem-se quadros de giz sem condições de escrita e de leitura porque as canetas gordas ficam caras.

Ao que parece as renovações em algumas escolas foram de tal qualidade que deixaram muitas coisas bem piores. O cenário degradar-se-á rapidamente. Armários de madeiras antigas e em bom estado, mesas e cadeiras de qualidade, tudo foi atirado borda fora e nem para resolver faltas de algumas pobrezitas (como a minha) serviram. Os barracões da minha lá continuam. Na sexta-feira, quando com os alunos, junto à porta, saía, na parede oposta uma janela desprendeu-se e caíu para o interior sobre a mesa e a cadeira que estavam por baixo. No festejo do bicentenário da república há de inaugurar-se o pavilhão novo naquela escola de subúrbio pobre. Se ainda houver farsantes e figurantes para inaugurações. E se ainda houver escolas, grrrr.