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M. Eugénia Prata Pinheiro

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Habilitações

Pelo que dizem os jornais, esperam-se alterações às habilitações consideradas necessárias para a profissão. Os mestrados, as post-graduações vão ser obrigatórias para o acesso. Lá pagarão, e bem, por estes canudos. E, obtidos os canudos, a qualidade está garantida. Braga à vista.

Independentemente da formação com que chegam às escolas, conheço jovens colegas dedicados com seriedade à tarefa. Conheço outros pelos quais não dou um tostão furado. Curiosamente estes são os trepadores.

Uma destas cridas culegas aqui há tempos trazia-me a acta de uma reunião que eu secretariara para que corrigisse o português. A cachopa, que mal sabia ler e escrever e muito menos falar, era atrevida. Pelo meio dos quaisqueres que houveram estava o errastes estas frases. De arrepio. E eu que naturalmente chamo cuidadosamente a atenção para o deslize e a chamada de atenção é bem aceite e até solicitada, com esta serigaita nunca me passara pela cabeça fazê-lo que a criatura tinha escrito na testa "ignorante e reles". Chamou-me ela a atenção para erros inexistentes. Tirocínio para mestra já que está a concluir um mestrado cujo tema será "A arte de trepar" ou coisa quejanda, mestrado que servirá para galgar uns quantos degraus na famigerada carreira.

Isto de habilitações tem que se lhe diga. Há dias um jovem colega de Educação Musical (não, não é o noivo) queixava-se do seu investimento na música. Fez o curso no Conservatório e é agora ultrapassado por muitos dos que fizeram os cursos de Educação Musical nas ESEs. Estes, podendo igualmente ser professores do 1º ciclo, aí vão fazer uma perninha para acumular tempo de serviço e passar adiante no concurso.

Estes cursos "dois em um" das ESEs são fantásticos. Quase todos servem para o 1º ciclo. Um jovem que toda a vida tenha reprovado a matemática, que odeie a disciplina, faz uma licenciatura em Português e Inglês ou Educação Musical ou, ou, que a panóplia é vasta e fica miraculosamente habilitado para professor do 1º ciclo. Como se desenvencilhará para pôr os meninos a gostar de matemática é coisa a que não sei responder. Mas lá que entram no concurso em pé de igualdade com os que fizeram a licenciatura dedicada ao 1º ciclo - porque era mesmo isso que queriam- lá isso entram. E, depois de ganhar um ou dois anos de serviço no 1º ciclo, voltam já bem posicionados para o concurso do 2º ciclo, ultrapassando quem não pode usar o mesmo estratagema.

É a concorrência de crise.

12 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Poder-se-à dizer que tem razão quando aponta falhas ao sistema, MAS deveria ter mais cuidado e atenção quando fala e escreve deste modo. (chamar a alguém ignorante é uma coisa, reles é outra bem diferente). Compete a cada um de nós contribuir para alterar o que consideramos que está errado. Posso perguntar-lhe o que tem feito neste sentido?

4:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E são essas cridas colegas que mais tarde são reconhecidas....
Haja paciência, setora!!!
007

5:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

De Bolonha, só mesmo a massa à bolonhesa.
Das ESE´s...

11:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá setora

Os meus parabéns pelo excelente blog. A força tranquila e o evidente gostar das crianças e jovens realmente existentes constituem um prazer para o leitor, e a certeza que, apesar do “colapso da modernização”, ainda há humanos que continuam gostosamente a aprender uns com os outros (e parece que não há mesmo ensino unilateral, contrariamente à cassete leninista que continua por aí sob vários pseudónimos, mesmo no poder, a qual pensa que basta ao “partido” formar os seus quadros e enfiar na cabeça das massas o saber conveniente…). As “INSOLVÊNCIAS”, essas deliciosas crónicas de ensinar e aprender, que a Setora em boa hora "publicou" há uns anos (infelizmente em reduzida edição artesanal, onde fala a professora e falam ainda mais as alunas e alunos, também mereciam uma segunda vida, no esplendor das ondas da Net.

Quem vê a farsa neo-realista dos telejornais, com professores acossados e alunos desencabrestados, seria levado a crer que o mundo já acabou; é que nem faltam as bestas do apocalipse, a rogar as pragas milenaristas, do alto dos seus poderes. Talvez estejamos no fim de uma época. Mas as raparigas e rapazes que hoje crescem para grandes (e até nós mais velhos, que já nem por isso, mas ainda somos capazes de pensar no assunto) talvez não estejam todos interessados em fazer jus á “pulsão de morte” do moderno sujeito da concorrência, cuja última corrida, na economia do faz-de-conta pós-moderna, já só lembra aquela anedota do ditador militar brasileiro dos anos 70, que exigia rápidos passos em frente, porque o país estava à beira do abismo…

Como diz o Negroponte (um dos pais da Internet, com brilhante curriculum de professor e de aluno, apesar de disléxico profundo) a Net promete. Agora a troca de ideias, em vez de troca de mercadorias. Não há guarda-fiscal que possa impedi-lo. Nem se intimide com a reunião de todos os ideólogos em Teerão.

Lembrei-me do delicioso artigo de um “soixanthuitard” alemão, zurzindo o consulado Schröder em fase terminal há já quase 3 anos (como o tempo voa…), a propósito da crise do ensino. Aqui lho deixo, repescado da Net, esperando que não dê cabo da caixa dos comentários.

Beijinhos.





CRISE GERAL NA EDUCAÇÃO
Robert Kurz
Mais uma vez correm abundantemente as lágrimas de crocodilo da classe política, dos media e do management. Desta vez o objecto de consternação é o estado de calamidade do ensino, como se ninguém fosse altamente responsável por isso. Mas tal "pensamento duplo", como George Orwell o descreveu na sua utopia negativa, é de qualquer modo necessário para poder suportar e exprimir enfaticamente as autocontradições, lamentando o modo de vida e de produção dominante, sem ter que declarar-se a si mesmo como doido.

Educação e ciência não são excepção. Por um lado a concorrência obriga à contínua inovação no uso dos conhecimentos científicos e das criações culturais; por outro lado, estes domínios constituem apenas "custos mortos", do ponto de vista da economia empresarial. Eles constituem um fundo de cujo conteúdo uma pessoa gostaria de servir-se no interesse da valorização do capital, mas pelo qual gostaria de pagar o mínimo possível. Na crise, quando até os lucros se evaporam, os rendimentos e a cobrança de impostos diminuem em paralelo e agrava-se esta contradição. Do jardim de infância ao instituto de pesquisa teórica, todo o sistema de educação, cultura, formação e ciência se arruína, exactamente como todos os outros domínios não directamente lucrativos. E quando as consequências do colapso se fazem sentir, retroagindo sobre a valorização, fica todo o mundo em ressaca e a exigir "mais esforço da educação".

Há muito que se impôs também na educação e ciência uma determinada lógica de administração da crise. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha foram pioneiros nesta orientação, porque foram os primeiros a executar todas as consequências da crise do capitalismo. Esta lógica integra dois elementos fortemente unidos um ao outro. O primeiro estabelece o postulado de uma "educação de elites". Educação e ciência devem ser alta e massivamente financiados "em cima", no resto pelo contrário devem ficar à míngua. É típico do novo espírito do tempo elogiar as escolas e universidades privadas pelos seus "altos talentos". A reivindicação de propinas pesadas pertence a esta linha, tal como a reivindicação de constituir universidades de elite ou a de voltar atrás na disponibilização do material escolar. À sobrelotação de escolas e universidades públicas corresponde um desempenho menos elevado. E espera-se colocar sob o mesmo chapéu reduções orçamentais drásticas e um ensino concorrencial.

O segundo elemento da administração de crise no âmbito da educação e ciência está na redução funcionalista, de acordo com critérios de possível valorização do capital. Estudos culturais, humanidades, ciências sociais, vistas como especializações em floreados, emagrecem até à invisibilidade; o mesmo acontece com a pesquisa teórica "sem objectivo" em ciências naturais. Pelo contrário, são unilateralmente fomentadas as "disciplinas valorizáveis" ou como tal consideradas: informática, engenharias, estudos de economia empresarial, etc. O ideal é o "cientista empresarial", a escola organizada sob o "ponto de visita da economia" ou o projecto científico administrado como uma empresa lucrativa. Para os estudantes a divisa é: Estudes tu o que estudares, é sempre economia empresarial.

Mas tal como em todos os outros domínios, também na educação nunca a contradição capitalista será bem administrada através da administração de crise restritiva e repressiva. A educação elitista unilateral assemelha-se a um cérebro de alto rendimento a que foi cortada a irrigação sanguínea. O filtro financeiro do acesso eleva aos lugares de comando os burros da classe alta arrivista, enquanto a massa dos talentos da sociedade definha ou se dedica (oxalá!) a objectivos subversivos. Donativos e sponsoring, bolsas de estudo e fundações, não podem substituir o sistema de educação em toda a sua extensão.

Ironicamente, acontece com a educação o mesmo que com a publicidade: só uma parte atinge o alvo, mas não se sabe qual é. Com a sujeição directa a critérios económico-empresariais, a lógica própria não económica da educação, ciência e cultura acaba por sufocar. Professores, biólogos, físicos, historiadores e sociólogos medíocres ou abaixo da média tornam-se hábito nas instituições de educação e ciência: é o melhor caminho para a desqualificação e abandalhamento continuado dos conteúdos. Quando em todo o lado já só restam vendedores em acção, já nada se consegue vender.

O sistemático apoio aos idiotas funcionais de vistas curtas serve da melhor maneira o objectivo de arruinar o capitalismo. Contava-se ironicamente acerca da monarquia K.u.K. (1) que o inimigo teria proibido os seus soldados de atirarem sobre os oficiais K.u.K. Talvez a crítica radical do capitalismo deva saudar com idêntica ironia as ideias elitistas da classe político-económica alemã-federal. Vendo bem, o governo vermelho-verde e até a respectiva oposição representam já o surgimento desta "elite" à Dr. Eisenbart (2).

Notas da tradutora:
(1) Monarquia K.u.K. (de Kaiserin und Kaiser, imperatriz e imperador, a partir da dupla Elisabeth/Sissi e Francisco José), refere-se ao império dos Habsburgos, 1848/1918, aqui como paradigma da decadência. Tal como em português, em alemão também há homofonia com cuco (Kuckuck).

(2) Médico alemão que viveu entre 1663 e 1727, cuja figura é explorada no turismo e no folclore como protótipo da charlatanice. Eisenbart quer dizer literalmente barba de ferro.

Original alemão Notstand für alle bei der Bildung em Neues Deutschland, 09.01.2004
Tradução de Ana Moura
http://obeco.planetaclix.pt/rkurz155.htm

8:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ao menos os professores com curso tirado nas ESE´s possuem formação pedagógica para os dois ciclos, o que é que a colega pode dizer em relação à componente pedagógica da sua formaçao?

9:23 da tarde  
Blogger pedro macieira said...

Continuo a ler os "posts", com muito interesse,sobre quotidianos das coisas da educação, e também os comentários....e hoje fiquei a saber das "Insolvências", concerteza edição esgotada, mas como se poderá conseguir, ler esses textos?

11:05 da tarde  
Blogger Setora said...

Fui reles no "reles". Tem o/a prof razão.

Também o anonymous tem razão e, embora eu ainda não saiba se é uma coisa boa ou uma coisa má, a verdade é que tenho cada vez mais paciência.

O outsider oferece-nos um texto interessante. Dá para pensar e aprender.

Tentando corresponder ao interesse do brutus, dir-lhe-ei que, andando há trinta e quatro anos nisto, ainda não sei muito bem o que é "formação pedagógica".

Por isso não sei se tenho.

Recorrendo ao meu santo Alzheimer, lembro-me de há muitos muitos anos, ter feito um curso com o pomposo nome de Ciências Pedagógicas onde nos propunham que aprendessemos matérias diversificadas que iam das teses dos psicólogos e dos pedagogos até à higiene escolar (quantos dentes e em que estado deviam ter as crianças e outros ensinamentos que tais). Sobrevivi. Mas não sei se fiquei com alguma formação pedagógica.

Fiz um estágio, uma acções de formação e até tive de fazer exame a meio desta dita carreira docente. Sobrevivi a tudo isto mas não sei se tenho formação pedagógica.

Depois, ao longo destes trinta e quatro anos, foram-me acontecendo coisas - tive por perto uns milhares de alunos, três filhos, dezenas de sobrinhos, dezenas de amigos dos filhos, dezenas de filhos de amigos...
Apesar de algumas brigas nunca nenhum se queixou da minha falta de pedagogia.

Francamente, não sei se tenho formação pedagógica.

Mas lamento que tantos dos alunos da minha escola e dos seus jovens pais e mães tenham muito menos dentes do que deviam.


Finalmente para o Pedro
As insolvências virão um dia.
O Ministério da Educação tinha-se comprometido a publicar aqueles trabalhos mas depois esqueceu-se de o fazer. Uma professora/formadora que fazia parte do júri do exame que referi atrás pediu-me autorização para os usar no seu trabalho.Julgou que eu tinha formação pedagógica.

Obrigada a todos pelos comentários.

2:09 da manhã  
Blogger pedro macieira said...

Errata ao meu comentário(sem desculpa da setora)
Ao reler o comentário ao meu comentário,verifiquei um erro ortográfico, sem perdão que cometi ao escrever "concerteza" em vez de, com certeza, nem o teclado mais rápido que o pensamento desculpa a contração,nem que ando a tentar perceber o TLEBS , poderia deixar de justificar e tentar corrigir este erro (mesmo fora de tempo), neste blog com visitantes da área do ensino de português.
PS.Para a próxima terei que usar um corrector ortográfico....

12:06 da tarde  
Blogger pedro macieira said...

Comentário ao meu último comentário
O que eu aprendi com o Ciberdúvidas:

Tema
Com certeza, e não "concerteza"
Pergunta/Resposta
Na última revista "Ler" do Círculo de Leitores – ainda por cima, numa carta assinada por uma escritora tão estimada como Hélia Correia – e na edição de "O Independente" de 5 de Dezembro (num título enorme...), dá-se o mesmo erro: «concerteza» em vez de "com certeza". Existe alguma legitimidade para este «concerteza» que me parece disparatado?
Raul L. M. de Oliveira
Lisboa
Portugal
De facto, é asneira a grafia "concerteza". Mas, além da ignorância, tem a seguinte explicação: com certeza é uma locução adverbial. Tem, pois, o valor duma só palavra – um advérbio. Como facilmente se perde a ideia de ser uma locução, as pessoas inventam esse tal advérbio, escrevendo numa só palavra: "concerteza".
http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=1650J.N.H.

Ps Espero estar perdoado....

12:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A colega devia aproveitar esta época para se tornar um pouco mais doce nos seus comentários e talvez, quem sabe, tentar ao menos fingir ser modesta... só lhe ficava bem. Não tenho os trinta e muitos anos de serviço, mas facilmente reconheço os meus erros, admito mesmo outros... faz fparte, afinal, da minha condição humana

8:38 da tarde  
Blogger Setora said...

Comentário aos comentários do Pedro

Concerteza que nos entendemos.
E sem culpas.

Não se preocupe com as falhas ortográficas. Embora eu trave essa batalha com os meus alunos porque pensar, falar, escrever é tudo (quase) grátis, não leva impostos nem taxas e há que aproveitar tanta liberalidade, na verdade a ortografia é uma roupa da língua que varia consoante os tempos e não nos pode castrar.

Mas hei-de escrever sobre jovens bem pensantes e bem falantes que neste país pequenino, por isso, sofrem maus tratos.

9:44 da tarde  
Blogger Setora said...

Caro Brutus

Estou tentada a dizer-lhe que o pseudónimo que escolheu lhe assenta como uma luva.

A proximidade das férias, o acordeão cigano, o refrão natalício ou do inverno que passei hoje aos meus alunos para entremear quadras que fazemos na aula e aconselho que façam com as famílias deram-me folia para lhe dar troco.

O refrão é assim:

Professores, professores,
Comam pastéis de Belém,
O doce torna-os mais doces
e mais doces ficam bem.

Quer maior doçura?
E já agora digo-lhe a quadra que eles fizeram para mim:

Viva lá a professora
Que ensina muito bem.
É tranquila e divertida
E resmungona também.

Mas o último verso fui eu que o lançei porque eles encalharam no final do terceiro.

Quer maior doçura?

Para a modéstia estou como para a formação pedagógica - ignoro.

10:15 da tarde  

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