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M. Eugénia Prata Pinheiro

quinta-feira, novembro 09, 2006

Diversidade Linguística

Chegou à escola a informação, que nos foi comunicada em reunião do departamento, de que no dia 7 deste mês iria ser apresentado o resultado do trabalho até aqui desenvolvido no âmbito do projecto do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) e ME Diversidade Linguística na Escola Portuguesa, na Fundação Gulbenkian, entidade financiadora. Sendo assunto que me ocupa e preocupa, inscrevi-me e fiz, em vinte e tal de Outubro, requerimento escrito, com entrada pela secretaria da escola, à presidente do C.E. da escola para que as faltas dadas a dois tempos de estada na biblioteca fossem consideradas como formação. Continuo à espera de resposta ao requerimento, embora tenha como tal justificado as faltas. As minhas aulas desse dia, nos dois primeiros tempos da manhã, foram dadas, o que implicou algum atraso na chegada à Fundação e me fez perder a intervenção introdutória da senhora ministra da educação. Quel dommage!

Ouvi sobre o assunto intervenções interessantes, recolhi dados que me espantaram. Espantou-me saber que são 58 as línguas faladas em casa em Portugal. Fiquei a saber que o projecto fizera recolha de dados junto de alunos duma escola do meu agrupamento.

Pareceram-me auxiliares úteis os materiais apresentados visando cumprir o objectivo do projecto criar linhas de orientação e materiais capazes de melhorar a competência em língua portuguesa dos alunos de outras línguas maternas.

Julgo, no entanto, que o ILTEC desconhece o que se passa nas escolas. Embora não estando a trabalhar para o boneco, poderá ter um resposta reduzida relativamente ao seu esforço e investimento. Explico.

Chegam-nos alunos com línguas maternas distantes do português e só depois de muita insistência por parte dos professores se consegue que seja permitido que um professor de língua portuguesa ocupe, para lá dos seus tempos lectivos, quarenta e cinco ou noventa minutos semanais para trabalhar com estes alunos. E conto histórias verdadeiras.

Este ano lectivo chegaram dois irmãos ucranianos que tinham acabado de entrar em Portugal. O rapaz para o oitavo ano, a rapariga para o quinto. Desde o primeiro dia que em quase todas as aulas corriam lágrimas pela cara do rapaz. Na matemática resolvia tudo bem, tinha cem por cento nos trabalhos. Ciências, física, história ... tendo como exclusiva língua de trabalho o português serão horas de tortura. Depois de alguma batalha lá se conseguiu que a professora de português da rapariga se ocupasse deles noventa minutos semanais. Fora dos seus tempos lectivos e sem que lhe seja atribuído tempo para preparar materiais. Que trabalhe 40 ou 50 horas semanais!E espero que estes jovens ucranianos sejam fora de série porque não estou a ver um filho meu a chegar a uma escola ucraniana e a seguir com êxito o plano normal de estudo para os alunos ucranianos com um apoio de noventa minutos de ucraniano. Brincadeiras.

A aluna senegalesa chegada no ano lectivo passado e a quem dei apoio e que, naturalmente com o esforço dela e meu, conseguiu transitar para o sétimo ano (tendo sido até a melhor aluna em algumas disciplinas mas não dominando ainda suficientemente a língua portuguesa), está este ano praticamente entregue a si própria porque a professora encarregada agora de lhe dar o apoio faz parte do conselho executivo e tem mais que fazer. Já barafustei em vão. O importante é que eu faça substituições dessas magníficas que tenho descrito. Má gestão de recursos? Brincar às escolas? Crimes?

Pelo que percebi na Gulbenkian pelas pessoas com quem fui falando, a situação repete-se em muitas escolas. Quarenta e cinco minutos semanais para apoiar jovens nepaleses, chineses ... recém chegados a Portugal.

Valha-lhes o ILTEC, a Gulbenkian ou um qualquer outro deus. Ao ME não vale a pena apelar.