Por que não diz a verdade, srª ministra?
Acabo de ouvir uma parte da intervenção da ministra da educação, hoje, na Assembleia da República.
É falso que os professores no final de carreira trabalhassem, no regime diurno, 8 ou 10 horas. Estou no 36º ano de serviço e nunca tive menos do que 14 horas lectivas. E nunca acumulei nem com o ensino particular, nem com explicações.
Havia quem trabalhasse poucas horas? Provavelmente havia e até professores longe do final da carreira. Mas a regulação faz-se com a avaliação do modo como se organizam e gerem as escolas. Essa avaliação externa das escolas foi ficando pelo caminho.
E pelo modo como se organizou o concurso para titulares, favorecendo os professores que acumulavam cargos reduzindo desse modo a atividade letiva, conclui-se que esta não era a preocupação da ministra.
E a ministra fala que fala nos professores velhos, os únicos incomodados com tudo isto do seu ponto de vista. Esquece-se de dizer que plantou agora nas escolas estes velhos professores por pelo menos 26 horas de trabalho na própria escola em cada semana. Considerando reuniões e muitas outras tarefas, nenhum destes professores está agora nas escolas menos de 30 horas semanais. Com todo o trabalho de preparação de aulas e correção de trabalhos dos alunos, estão estes velhos professores cumprindo horários de mais de 40 horas semanais.
A senhora não percebe, porque não está no terreno, não deve ter memórias da sua adolescência e não pensa com base no real, as dificuldades acrescidas para esses professores na conquista dos alunos. A força anímica e mesmo física que lhes é exigida . Não existia por acaso a redução da atividade letiva e a reforma mais cedo. E é nestes professores que assenta aquela obra, que a senhora continua a considerar excelente, de substituir um professor que por qualquer razão inesperada falta. Se já estão em esforço com as aulas das suas turmas, defrontam-se de repente, no tal tempo não letivo, com turmas estranhas que prefeririam ocupar por sua conta aquele furo e que os recebem mal. Esta "obra" é um dos fatores para o aumento da indisciplina nas escolas. Mas a senhora ministra, que não está nas escolas, insiste em gabar-se dela.
Bem tenta levantar poeira quando se refere à avaliação. Diz que foi pensada para dignificar a profissão porque é injusto que não se distingam os muito bons e os excelentes professores. Mas esquece-se de dizer que há quotas. Por cada escola e ao sabor de análises extravagantes, só pode haver uns quantos (poucos) muito bons e excelentes. Por aqui se vê que não vai distinguir nada. Diz também que há elementos essenciais neste modelo de avaliação concebidos para proteger a complexidade da profissão. Pois, pois, daí a "complexidade" dos instrumentos concebidos, a tragicomédia que representam que levará a que não se distinga coisa nenhuma mas é suficiente para impedir que a "complexa profissão" se pratique de facto, é suficiente para impedir que os professores dêem as suas aulas com alegria, sabedoria e energia.
Pede desculpa aos professores por lhes causar desmotivação mas, diz, é do interesse do país. Do país de "maravilhas" que se quer construir em que educar/instruir não interessa nada. Quanto mais ignorantes, quanto menos preparadas para pensar estiveram as pessoas, mais facilmente se subjugarão.
É falso que os professores no final de carreira trabalhassem, no regime diurno, 8 ou 10 horas. Estou no 36º ano de serviço e nunca tive menos do que 14 horas lectivas. E nunca acumulei nem com o ensino particular, nem com explicações.
Havia quem trabalhasse poucas horas? Provavelmente havia e até professores longe do final da carreira. Mas a regulação faz-se com a avaliação do modo como se organizam e gerem as escolas. Essa avaliação externa das escolas foi ficando pelo caminho.
E pelo modo como se organizou o concurso para titulares, favorecendo os professores que acumulavam cargos reduzindo desse modo a atividade letiva, conclui-se que esta não era a preocupação da ministra.
E a ministra fala que fala nos professores velhos, os únicos incomodados com tudo isto do seu ponto de vista. Esquece-se de dizer que plantou agora nas escolas estes velhos professores por pelo menos 26 horas de trabalho na própria escola em cada semana. Considerando reuniões e muitas outras tarefas, nenhum destes professores está agora nas escolas menos de 30 horas semanais. Com todo o trabalho de preparação de aulas e correção de trabalhos dos alunos, estão estes velhos professores cumprindo horários de mais de 40 horas semanais.
A senhora não percebe, porque não está no terreno, não deve ter memórias da sua adolescência e não pensa com base no real, as dificuldades acrescidas para esses professores na conquista dos alunos. A força anímica e mesmo física que lhes é exigida . Não existia por acaso a redução da atividade letiva e a reforma mais cedo. E é nestes professores que assenta aquela obra, que a senhora continua a considerar excelente, de substituir um professor que por qualquer razão inesperada falta. Se já estão em esforço com as aulas das suas turmas, defrontam-se de repente, no tal tempo não letivo, com turmas estranhas que prefeririam ocupar por sua conta aquele furo e que os recebem mal. Esta "obra" é um dos fatores para o aumento da indisciplina nas escolas. Mas a senhora ministra, que não está nas escolas, insiste em gabar-se dela.
Bem tenta levantar poeira quando se refere à avaliação. Diz que foi pensada para dignificar a profissão porque é injusto que não se distingam os muito bons e os excelentes professores. Mas esquece-se de dizer que há quotas. Por cada escola e ao sabor de análises extravagantes, só pode haver uns quantos (poucos) muito bons e excelentes. Por aqui se vê que não vai distinguir nada. Diz também que há elementos essenciais neste modelo de avaliação concebidos para proteger a complexidade da profissão. Pois, pois, daí a "complexidade" dos instrumentos concebidos, a tragicomédia que representam que levará a que não se distinga coisa nenhuma mas é suficiente para impedir que a "complexa profissão" se pratique de facto, é suficiente para impedir que os professores dêem as suas aulas com alegria, sabedoria e energia.
Pede desculpa aos professores por lhes causar desmotivação mas, diz, é do interesse do país. Do país de "maravilhas" que se quer construir em que educar/instruir não interessa nada. Quanto mais ignorantes, quanto menos preparadas para pensar estiveram as pessoas, mais facilmente se subjugarão.
2 Comments:
Cara Eugénia,
É com muita satisfação que vejo alguém escrever tão bem tudo aquilo que me vai na alma...
Já não dispenso a leitura diária deste blog!
Obrigada.
Lamento não conseguir dar-lhe diariamente textos novos. Falta-me o tempo mas, às vezes, não resisto à raiva e cá venho mais amiudadamente.
Volte sempre.
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