Pano para mangas - escola segura
Vi ontem a desoras um documentário sobre problemas nas escolas do Reino Unido. O que achei mais perturbante foi descobrir que em variadíssimas escolas há um polícia residente. Polícia mesmo, membro das forças policiais.
Pensando em acontecimentos relativamente próximos, a ideia põe-me os cabelos em pé.
Há uns anos, num tempo final de uma tarde de sexta-feira, uma funcionária veio à minha aula chamar um aluno. Como o rapaz participava na organização de uma apresentação de um grupo de danças, imaginei que a chamada teria a ver com isso. E lá foi com a funcionária. A aula acabou e eu deixei tranquilamente a escola. Na segunda-feira o assunto da turma era a ida do Nuno (nome fictício) à esquadra. Percebi então que fora retirado da aula com esse objectivo. Que se passara?
Na manhã de sexta-feira, nos pátios da escola, um aluno insultara outros (provocações xenófobas) e recebera de troco uns quantos murros. A pancada não deixara mal o esmurrado mas um irmão mais velho veio à tarde à escola pedir satisfações. A gestão da escola chamou o piquete de polícia que integrava a Escola Segura e decidiram levar para a esquadra não só os quatro alunos da escola que tinham reagido mas também o Nuno, o meu aluno, que apenas presenciara a cena. O jovem queixoso ficou fora do assunto.
Chegados à esquadra, os cinco rapazes foram obrigados a despir-se mantendo apenas as cuecas. Esta deferência não impediu que, sobretudo da parte de uma mulher polícia que integrava o piquete, ouvissem comentários obscenos e humilhantes relativos às dimensões dos respectivos pénis. Seguiu-se a cena das flexões, muitas, muitíssimas, que os cinco foram forçados a fazer. O ramalhete terminou com os rapazes a pares obrigados a esbofetearem-se mutuamente de forma metódica e violenta. Desta parte o Nuno escapou. Assistiu.
Confirmei a versão com os outros quatro rapazes e dirigi-me indignada ao Conselho Executivo. Havia queIapresentar queixa de um tal comportamento. Os alunos estavam sob a nossa protecção, não podíamos admitir que, impunemente, fossem tratados deste modo selvagem e ilegal. Não convenci ninguém pelo que informei que eu própria participaria.
Apresentei ao Forum Justiça e Liberdades uma exposição. Melhor que eu saberiam como actuar. E actuaram. Enviaram a minha exposição ao Ministério da Administração Interna e ao Ministério Público. Passados quinze dias o MAI, dirigido então por aquele homem extravagante conhecido pelo desvairamento das gravatas, estava na escola procedendo a averiguações com uma eficácia que me espantou. O inspector vinha acompanhado de um secretário que procedia à transcrição imediata das declarações dos inquiridos. (Dou alguma ênfase a este procedimento pensando que a inspecção do ME podia tomá-lo como exemplo; tanto quanto vi - e tenho alguma experiência - os inspectores do ME chegam às escolas e um funcionário dos serviços administrativos da própria instituição vai secretariar, tarefa de que não tem prática e situação que pode ser geradora de constrangimento). Eu e os alunos fomos ouvidos. Não sei se mais alguém dentro ou fora da escola. Esta parte foi rápida e eficaz. Não fui oficialmente informada da conclusão mas ouvi dizer que os agentes teriam sido alvo de uma qualquer medida disciplinar e retirados destas funções.
O Ministério Público, uns largos meses mais tarde, também abriu o seu processo de inquérito. Fomos mais uma vez ouvidos. Não soube das conclusões.
Penso que os alunos tiveram, neste processo todo, um manancial de aprendizagens. Eu também aprendi e nunca mais deixei que me retirassem um aluno da aula sem informação clara do seu destino.
É claro que um episódio destes me impede de confiar nestas intervenções.
Será que aquele polícia inglês instalado na escola faz jus ao seu nome, isto é, defende a polis, a cidadania, estando para isso preparado?
Por aqui, estas instituições - polícias e escolas - são fautores de socialização ou de medos?
Pensando em acontecimentos relativamente próximos, a ideia põe-me os cabelos em pé.
Há uns anos, num tempo final de uma tarde de sexta-feira, uma funcionária veio à minha aula chamar um aluno. Como o rapaz participava na organização de uma apresentação de um grupo de danças, imaginei que a chamada teria a ver com isso. E lá foi com a funcionária. A aula acabou e eu deixei tranquilamente a escola. Na segunda-feira o assunto da turma era a ida do Nuno (nome fictício) à esquadra. Percebi então que fora retirado da aula com esse objectivo. Que se passara?
Na manhã de sexta-feira, nos pátios da escola, um aluno insultara outros (provocações xenófobas) e recebera de troco uns quantos murros. A pancada não deixara mal o esmurrado mas um irmão mais velho veio à tarde à escola pedir satisfações. A gestão da escola chamou o piquete de polícia que integrava a Escola Segura e decidiram levar para a esquadra não só os quatro alunos da escola que tinham reagido mas também o Nuno, o meu aluno, que apenas presenciara a cena. O jovem queixoso ficou fora do assunto.
Chegados à esquadra, os cinco rapazes foram obrigados a despir-se mantendo apenas as cuecas. Esta deferência não impediu que, sobretudo da parte de uma mulher polícia que integrava o piquete, ouvissem comentários obscenos e humilhantes relativos às dimensões dos respectivos pénis. Seguiu-se a cena das flexões, muitas, muitíssimas, que os cinco foram forçados a fazer. O ramalhete terminou com os rapazes a pares obrigados a esbofetearem-se mutuamente de forma metódica e violenta. Desta parte o Nuno escapou. Assistiu.
Confirmei a versão com os outros quatro rapazes e dirigi-me indignada ao Conselho Executivo. Havia queIapresentar queixa de um tal comportamento. Os alunos estavam sob a nossa protecção, não podíamos admitir que, impunemente, fossem tratados deste modo selvagem e ilegal. Não convenci ninguém pelo que informei que eu própria participaria.
Apresentei ao Forum Justiça e Liberdades uma exposição. Melhor que eu saberiam como actuar. E actuaram. Enviaram a minha exposição ao Ministério da Administração Interna e ao Ministério Público. Passados quinze dias o MAI, dirigido então por aquele homem extravagante conhecido pelo desvairamento das gravatas, estava na escola procedendo a averiguações com uma eficácia que me espantou. O inspector vinha acompanhado de um secretário que procedia à transcrição imediata das declarações dos inquiridos. (Dou alguma ênfase a este procedimento pensando que a inspecção do ME podia tomá-lo como exemplo; tanto quanto vi - e tenho alguma experiência - os inspectores do ME chegam às escolas e um funcionário dos serviços administrativos da própria instituição vai secretariar, tarefa de que não tem prática e situação que pode ser geradora de constrangimento). Eu e os alunos fomos ouvidos. Não sei se mais alguém dentro ou fora da escola. Esta parte foi rápida e eficaz. Não fui oficialmente informada da conclusão mas ouvi dizer que os agentes teriam sido alvo de uma qualquer medida disciplinar e retirados destas funções.
O Ministério Público, uns largos meses mais tarde, também abriu o seu processo de inquérito. Fomos mais uma vez ouvidos. Não soube das conclusões.
Penso que os alunos tiveram, neste processo todo, um manancial de aprendizagens. Eu também aprendi e nunca mais deixei que me retirassem um aluno da aula sem informação clara do seu destino.
É claro que um episódio destes me impede de confiar nestas intervenções.
Será que aquele polícia inglês instalado na escola faz jus ao seu nome, isto é, defende a polis, a cidadania, estando para isso preparado?
Por aqui, estas instituições - polícias e escolas - são fautores de socialização ou de medos?
1 Comments:
Caro PJ
"À guarda" parece-me uma coisa destinada a objectos e, enfim, também vamos guardando alguns perdidos por ali.
Não devemos permitir, em qualquer circunstância, que alunos adolescentes saiam da escola acompanhados pelo piquete da polícia para a esquadra sem que um adulto "civil" os acompanhe.
Nunca percebi neste caso a ida à esquadra mas a presença de mais alguém teria impedido este tratamento.
Foram lá para quê?
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