Os não aprovados
Afinal, ao contrário do que a senhora ministra apregoava, interessa pouco que se tenha dado as aulas, que não se tenha faltado. Interessa é que se tenha tido muitos cargos, que se tenha feito muitos cursos. Se os cargos foram bem desempenhados, se os cursos serviram para alguma coisa, isso não interessa nada.
Se te ocupaste com as turmas que tinhas distribuídas no horário, se te dedicaste a conhecer os alunos, a perceber e estimular cada um, se tentaste preparar as aulas e fazê-las o melhor possível de modo a que os alunos avançassem, se te preocupaste em faltar o menos possível porque os alunos estavam lá à tua espera, então caro/a colega estás lixado/a. Acho até que deixaste de ser professor porque não tens carreira que te enquadre.
Podias ter ido fazer um daqueles cursos do artº 56 do ECD, baldando-te para isso às aulas (ganhavas muitos pontos), podias ter negociado com o executivo a troco de uns abanamentos favoráveis de cabeça uns cargos (reduziam-te as aulas, até podias ganhar horas extraordinárias porque tinhas tanta redução legal que para dar as aulas tinhas, coitado, que fazer horas extraordinárias, e gerias cá fora os teus negócios e ganhavas muitos pontos), podias ter negociado uns clubes (reduziam-te as aulas, os poucos alunos que aparecessem, se aparecessem, não te dariam muito trabalho e ganhavas muitos pontos), podias ter arranjado uns projectos, mesmo daqueles que causam grandes prejuízos aos alunos (ganhavas mais pontos). Presidente da Assembleia também teria sido um bom negócio, pouco cansativo e bem pontuado. Podias até ter-te candidatado para um conselho executivo. Mesmo que só fizesses asneiras, ilegalidades sobre ilegalidades, pequenos crimes, que abusasses do poderzeco que tinhas, que usasses do mais feroz nepotismo, nada disso estava em avaliação e ganharias prestígio e, sobretudo, muitos pontos. (Como as avaliações externas não estão feitas (nem as internas) dou de barato que isto corresponda à realidade de poucas escolas).
Se só te ocupaste das aulas ganhaste 49 pontos, 7 por cada ano;
1 pontito para um satisfaz (ou 5 se te deste ao trabalho de requerer um bom, mas duvido que o tenhas feito);
Admitindo que em dois anos faltaste 2 dias, apenas mais 14 pontos, 7 pontos por ano, 7 pontos mais do que aquele professor que faltou 15, 20, 30 ou 40 dias; em dois outros anos faltaste entre 4 a 6 dias, apenas mais 10 pontos, 5 por cada ano; nos outros anos, por uma qualquer razão, tiveste que ultrapassar os 9 dias de falta, mesmo faltas em período já não lectivo que escolheste para fazer aquela cirurgia ou para acompanhar o pai ou a mãe doente, não ganhaste ponto nenhum.
Assim este belo cenário dá-te 74 pontos.
Vamos até admitir que numa eleição que o conselho executivo não tenha conseguido controlar, ficaste por um mandato de dois anos numa coordenação de departamento, ganhaste mais 12 pontos.
Basta fazer as contas para perceber que estás longe dos 120 requeridos para seres um candidato aprovado.
Não te deixaram fazer aquele mestrado - que queres, és velho, fizeste o curso num tempo em que os alunos razoáveis ou bonzinhos tinham 12 ou 13 valores não tendo por isso média para acesso. Terias mais 15 pontos mas não chegavas lá. Nem com um doutoramento - valeria mais 30, ainda não dava.
Estás a falar daquele exame que tiveste que fazer a meio da carreira para passares para o 8º escalão, até tiveste muito bom, pois é, blá, blá, blá, não conta para nada.
E se aquela já era uma avaliação absurda, esta consegue ser mais.
Que se pretende avaliar? Que se pretende premiar? Que se pretende incentivar?
E a dúvida mantém-se. Há afinal um nível novo para lá dos professores e dos professores titulares. Os não aprovados. Estás lá tu e eu.
Se te ocupaste com as turmas que tinhas distribuídas no horário, se te dedicaste a conhecer os alunos, a perceber e estimular cada um, se tentaste preparar as aulas e fazê-las o melhor possível de modo a que os alunos avançassem, se te preocupaste em faltar o menos possível porque os alunos estavam lá à tua espera, então caro/a colega estás lixado/a. Acho até que deixaste de ser professor porque não tens carreira que te enquadre.
Podias ter ido fazer um daqueles cursos do artº 56 do ECD, baldando-te para isso às aulas (ganhavas muitos pontos), podias ter negociado com o executivo a troco de uns abanamentos favoráveis de cabeça uns cargos (reduziam-te as aulas, até podias ganhar horas extraordinárias porque tinhas tanta redução legal que para dar as aulas tinhas, coitado, que fazer horas extraordinárias, e gerias cá fora os teus negócios e ganhavas muitos pontos), podias ter negociado uns clubes (reduziam-te as aulas, os poucos alunos que aparecessem, se aparecessem, não te dariam muito trabalho e ganhavas muitos pontos), podias ter arranjado uns projectos, mesmo daqueles que causam grandes prejuízos aos alunos (ganhavas mais pontos). Presidente da Assembleia também teria sido um bom negócio, pouco cansativo e bem pontuado. Podias até ter-te candidatado para um conselho executivo. Mesmo que só fizesses asneiras, ilegalidades sobre ilegalidades, pequenos crimes, que abusasses do poderzeco que tinhas, que usasses do mais feroz nepotismo, nada disso estava em avaliação e ganharias prestígio e, sobretudo, muitos pontos. (Como as avaliações externas não estão feitas (nem as internas) dou de barato que isto corresponda à realidade de poucas escolas).
Se só te ocupaste das aulas ganhaste 49 pontos, 7 por cada ano;
1 pontito para um satisfaz (ou 5 se te deste ao trabalho de requerer um bom, mas duvido que o tenhas feito);
Admitindo que em dois anos faltaste 2 dias, apenas mais 14 pontos, 7 pontos por ano, 7 pontos mais do que aquele professor que faltou 15, 20, 30 ou 40 dias; em dois outros anos faltaste entre 4 a 6 dias, apenas mais 10 pontos, 5 por cada ano; nos outros anos, por uma qualquer razão, tiveste que ultrapassar os 9 dias de falta, mesmo faltas em período já não lectivo que escolheste para fazer aquela cirurgia ou para acompanhar o pai ou a mãe doente, não ganhaste ponto nenhum.
Assim este belo cenário dá-te 74 pontos.
Vamos até admitir que numa eleição que o conselho executivo não tenha conseguido controlar, ficaste por um mandato de dois anos numa coordenação de departamento, ganhaste mais 12 pontos.
Basta fazer as contas para perceber que estás longe dos 120 requeridos para seres um candidato aprovado.
Não te deixaram fazer aquele mestrado - que queres, és velho, fizeste o curso num tempo em que os alunos razoáveis ou bonzinhos tinham 12 ou 13 valores não tendo por isso média para acesso. Terias mais 15 pontos mas não chegavas lá. Nem com um doutoramento - valeria mais 30, ainda não dava.
Estás a falar daquele exame que tiveste que fazer a meio da carreira para passares para o 8º escalão, até tiveste muito bom, pois é, blá, blá, blá, não conta para nada.
E se aquela já era uma avaliação absurda, esta consegue ser mais.
Que se pretende avaliar? Que se pretende premiar? Que se pretende incentivar?
E a dúvida mantém-se. Há afinal um nível novo para lá dos professores e dos professores titulares. Os não aprovados. Estás lá tu e eu.
4 Comments:
É a educação dos "Lambe Botas".....
Para teres pontos ...tens que fazer amén ao Conselho Executivo. A parte pedagógica passa ao lado.
Quanto aos não aprovados....lá nos encontraremos.....eu e a Setora (desta vez não me enganei.....)
007
Pois, caro anónimo, pelo jeito que as coisas levam, estaremos lá nós e muitos mais.
Estranho limbo este!
Não caberemos no ECD, não estão ali definidas competências para os "não aprovados". Vendo bem, nem poderiam estar definidas competências uma vez que nos tornamos incompetentes.
Eu "achei" este link no fórum do netprof e como sou bem mandada, vim logo cá ver. E não me arrependi: este blog é excepcional!
Mas (há sempre um mas!), neste post tens um erro sério: é que além dos titulares-de-quê, dos aprovados e dos não aprovados, há ainda os excluidos. Não conheces ninguém?
Pois então agora conheces-me. E passei a ser excluida ao quadrado: na lista da ministra e na tua! Apre!
Saltapocinhas, o que dá corda ao meu blog é o que vou vendo e ouvindo à minha volta.
Ora ninguém na escola referiu essa marginalização obscura dos excluídos e, na leitura apressada que fiz então do projecto de decreto,deixei passar. Mea culpa.
Já fui ver ao decreto e lá estão mais esses para o limbo. Também já fui ao teu blog (gostei)e percebi que te exigirão agora uma formação qualquer que até aqui não foi condição sine qua non para andares na "carreira".E, sobretudo estás lá a trabalhar com os alunos e, por artes de um qualquer pífio mágico,tornas-te incompetente.
Admito a exclusão dos colegas que estão fora do serviço lectivo.
Quanto aos outros, está mal, é absurdo, estou solidária com a tua raiva.
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