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M. Eugénia Prata Pinheiro

sábado, abril 14, 2007

Sócrates peripatético

Não direi que ando banzada com tudo o que vem à luz do dia relativo às habilitações de Sócrates. De há muito constatara as bambochatas que são muitas dessas habilitações que se transportam a tiracolo para promoção das então devidas reverências. Reverências que incluem não apenas a vénia social mas também os acessozinhos a nomeações, cargos, titularidades, negócios, vencimentos...

Sócrates teceu a teia, uma construção ingenhosa (própria de ingenheiros). Como qualquer obra de engenharia civil em que ele metesse a mão, também esta construção ingenhosa de currículo se esboroa. Mas tal como quando a ponte cai convém que se acredite que foi a mão de Deus que quis assim, também agora convirá que acreditemos nos lapsos, na inépcia dos pequenos funcionários, em bruxas e feitiços demolidores. E, sobretudo, convirá que se ponha pedra (betão armado) sobre o assunto.

O nosso Sócrates não deve muito à maiêutica do grego. O Sócrates antigo buscava o conhecimento, desprezava os bens materiais e desdenhava da escrita que permite a passagem de certidões. Nesse tempo os analfabetos podiam ser cultos, não havia necessidade de títulos académicos.

Mas peripatético o nosso Sócrates é - ISEC, Lusíada, ISEL, Independente, ISCTE- passeou, sem dúvida, atrás dos mestres. Não era bem o conhecimento que perseguia, era mais as certidões mas, que diabo, de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades. (Onde é que eu li isto? valha-me santo Alzheimer)

Deixando de lado este acrescentar de perda de sentido para a escola, com todas estas ridículas peripécias em busca de vãos títulos académicos, passo a uma incómoda pergunta.

Como pode o ME, tutorado por este peripatético Primeiro Ministro, considerar excluídos do concurso para titulares de quê os professores que até hoje tiveram a sua habilitação considerada própria para a função que exercem muitos deles há mais de vinte anos?

Como exemplo, cursos do tão falado ISEL, onde o ingenheiro não conseguiu acabar a licenciatura, feitos nos anos 80, são agora fraca habilitação que não dá acesso ao concurso. Estes professores fizeram os seus estágios pedagógicos e leccionaram física ou química ou matemática durante vinte anos. Ganharam nova categoria - excluídos. Gente instruída nestas coisas da economia dirá - exclusões arbitrárias mas a que a gestão da crise obriga. Eu cá, ignorante nessas matérias, só posso dizer - da-se, grande descaramento, grande lata.

Também se pode depreender que este afã em mandar os professores fazer mestrados, condição agora sine qua non para a profissão, estas pontuações acrescidas para mestrados e doutoramentos, venham de onde vierem, sejam o que forem, será uma espécie de protectorado a essas universidades de vão de escada, protegidas de há muito por todos os governos, avalizadas por todos os MEs e respectivos organismos inspectivos. A tal exclusão, embora arbitrária, ainda não chegará a estes.

Há aliás que mandar números para as estatísticas - muitos mestrados, muitos doutorados engrandecem qualquer rincão.

Cada sociedade tem as personagens que merece. (Onde é que eu li isto? valha-me santo Alzheimer.)

O rei vai nu. É tudo faz de conta, é mesmo uma espécie de ...




3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bem os "gatos" já se tratam todos por sr. engº. e eu também não quero ficar atrás. Aliás, até quero mais, engenheiros há muitos, para mim quero o título de sr. comendador (nem dá para abreviaturas...). Não deve servir de muito, mas dá muito mais estilo.
Sr. comendador para aqui e para ali, faça favor sr. comendador, por quem é sr. comendador...
E isto serve mesmo em família, não quero cá desculpas. E tudo afinadinho, que não vos fuja a língua.

Quanto aos mestrados, que já pouco valem até no mercado do simbólico (de resto só os mais técnico e os realizados por quem tinha realmente um tema para trabalhar e/ou investigar valem algo que não o simbólico dilpoma e são poucos) com o tratado de Bolonha passam a ser a medida standard e portanto nada distintos em qualquer currículum.
Para quem se licenciou antes, azar, muito azar mesmo.
Mas também acho que a regulação social acabará por funcionar nestes casos. Só mesmo nos vossos concursos é que todos os diplomas têm o mesmo valor...

4:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Subscrevo todas as suas palavras. E, já reparou, que o silêncio começa a cair?
"É só fumaça...o povo é sereno..."
O prémio "Lurditas de ouro" já aí está a ser concretizado e, logo, logo, o concurso para a titularidade. No primeiro parece que os candidatos são escassos, no segundo não vai haver falta de gente a preencher a sua lista de merceeiro. E siga o baile...

1:08 da manhã  
Blogger emn said...

:)
Valha-nos o santo Alzheimer!

3:47 da manhã  

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