Greve geral no dia 30
Não me move a simpatia pelos sindicatos. Quando jovem, nos idos de 74/75, tive ilusões. Embarquei dedicadamente na construção de um sindicato para os professores. Duas listas foram a votos nessas primeiras eleições - a lista A, patrocinada pelo PCP já com larga organização no sector, e a lista B que agregava gente variada, simpatizantes de outros partidos ou independente deles.
Fiz parte da lista B que tinha por lema "Todo o poder às escolas". Rápida organização de um grupo de pessoas desconhecidas (apenas alguns laços de amizade entre algumas ou de actividade cívica desenvolvida). Corremos a região da Grande Lisboa fazendo reuniões de professores fortemente participadas. Debates nas rádios e nos jornais. E perdemos por pouco, o que, com as condições existentes na altura, foi um resultado excelente mas que não pôde impedir a situação de controlo e de marasmo em que o sindicato mergulhou. Há já uns anos largos dessindicalizei-me e registo como curriculo negativo ter de algum modo contribuído para o nascimento e consolidação daquilo que tem sido o SPGL. Lá que foi um passo atrás, foi. E não deram passos para a frente todos os outros sindicatos que, como cogumelos, foram surgindo.
Ficou-me o desagrado da corporaçãozinha, do controleirismo, do combate faz de conta para obtenção de umas quantas regalias personalizadas, dos condomínios fechados e de luxo. Ficou-me o travo amargo das sórdidas alianças com os poderes instituídos, para impedir avanço e largueza de acção.
Não me parece que este tipo de organização nos dias de hoje tenha préstimo. É revelador o modo como esta "greve geral" foi convocada e é defendida pelos timoneiros. Não há entraves ao continuado esboroar do tecido económico e à montagem de um estado policial com bufaria anexa.
Mas vou fazer greve.
A vida de grande parte das pessoas está a tornar-se difícil com um governo que sacrifica os já desprotegidos. O desemprego aumenta, as dívidas à banca deixam famílias no limiar das suas capacidades de sobreviverem com alguma dignidade. Cortam-se apoios e recursos às populações mais carenciadas. Continua estendido o tapete do despedimento escondido por palavrões novos como flexigurança.
No que toca de perto as escolas, as coisas vão mal.
Nem vale a pena referir os problemas que se vivem no ensino superior, sobretudo no privado, com cobertura do ministério de tutela e dos organismos inspectivos.
No básico e secundário, apregoando-se o desejo de qualidade e de combate ao abandono, fecham-se escolas e aumenta-se o número de alunos por turma. As instalações degradadas vão continuando a degradar-se. Um pré-primário abrangente continua miragem.
Reduzem-se funcionários, reduzem-se professores. O processo de colocação perde clareza. Aumenta-se o horário de permanência dos professores nas escolas sem que se criem condições para o aproveitamento desses tempos que constituem apenas uma inútil sobrecarga. Ignora-se a lei e não se paga trabalho extraordinário obrigatoriamente desenvolvido. Aumenta-se a idade de reforma numa profissão que não se compadece com o desgaste.
As absurdas alterações na carreira dos professores geram mal estar e criam fosso entre novos e velhos. Humilham-se professores já com mais de trinta anos de serviço junto dos seus alunos, sem absentismo, excluindo-os do novo concurso para "titulares de quê" e franqueando o acesso àqueles que pouco trabalho fizeram com os alunos, que faltaram mas fizeram cursinhos e/ou ocuparam cargos atribuídos muitas vezes por poderes discricionários e que, logo que a coisa apertou, meteram atestados de longa duração.
O abuso do poder tem o campo aberto como fica claro no tristíssimo episódio da DREN - ninguém varre da história o tiranete. E estas direcções regionais são os organismos que lideram a gestão nas escolas - nada se faz sem consultar a DRE. DRE que, afirmo-o por experiência própria, em sede de recurso hierárquico por parte de um professor, se coloca do lado da hierarquia independentemente da razão que assista ao professor. São estes comissariados prepotentes que se vão impunemente reproduzindo nos próprios conselhos executivos muitas vezes mais papistas que o papa.
Chega. Big brother, amanhã faço greve.
Fiz parte da lista B que tinha por lema "Todo o poder às escolas". Rápida organização de um grupo de pessoas desconhecidas (apenas alguns laços de amizade entre algumas ou de actividade cívica desenvolvida). Corremos a região da Grande Lisboa fazendo reuniões de professores fortemente participadas. Debates nas rádios e nos jornais. E perdemos por pouco, o que, com as condições existentes na altura, foi um resultado excelente mas que não pôde impedir a situação de controlo e de marasmo em que o sindicato mergulhou. Há já uns anos largos dessindicalizei-me e registo como curriculo negativo ter de algum modo contribuído para o nascimento e consolidação daquilo que tem sido o SPGL. Lá que foi um passo atrás, foi. E não deram passos para a frente todos os outros sindicatos que, como cogumelos, foram surgindo.
Ficou-me o desagrado da corporaçãozinha, do controleirismo, do combate faz de conta para obtenção de umas quantas regalias personalizadas, dos condomínios fechados e de luxo. Ficou-me o travo amargo das sórdidas alianças com os poderes instituídos, para impedir avanço e largueza de acção.
Não me parece que este tipo de organização nos dias de hoje tenha préstimo. É revelador o modo como esta "greve geral" foi convocada e é defendida pelos timoneiros. Não há entraves ao continuado esboroar do tecido económico e à montagem de um estado policial com bufaria anexa.
Mas vou fazer greve.
A vida de grande parte das pessoas está a tornar-se difícil com um governo que sacrifica os já desprotegidos. O desemprego aumenta, as dívidas à banca deixam famílias no limiar das suas capacidades de sobreviverem com alguma dignidade. Cortam-se apoios e recursos às populações mais carenciadas. Continua estendido o tapete do despedimento escondido por palavrões novos como flexigurança.
No que toca de perto as escolas, as coisas vão mal.
Nem vale a pena referir os problemas que se vivem no ensino superior, sobretudo no privado, com cobertura do ministério de tutela e dos organismos inspectivos.
No básico e secundário, apregoando-se o desejo de qualidade e de combate ao abandono, fecham-se escolas e aumenta-se o número de alunos por turma. As instalações degradadas vão continuando a degradar-se. Um pré-primário abrangente continua miragem.
Reduzem-se funcionários, reduzem-se professores. O processo de colocação perde clareza. Aumenta-se o horário de permanência dos professores nas escolas sem que se criem condições para o aproveitamento desses tempos que constituem apenas uma inútil sobrecarga. Ignora-se a lei e não se paga trabalho extraordinário obrigatoriamente desenvolvido. Aumenta-se a idade de reforma numa profissão que não se compadece com o desgaste.
As absurdas alterações na carreira dos professores geram mal estar e criam fosso entre novos e velhos. Humilham-se professores já com mais de trinta anos de serviço junto dos seus alunos, sem absentismo, excluindo-os do novo concurso para "titulares de quê" e franqueando o acesso àqueles que pouco trabalho fizeram com os alunos, que faltaram mas fizeram cursinhos e/ou ocuparam cargos atribuídos muitas vezes por poderes discricionários e que, logo que a coisa apertou, meteram atestados de longa duração.
O abuso do poder tem o campo aberto como fica claro no tristíssimo episódio da DREN - ninguém varre da história o tiranete. E estas direcções regionais são os organismos que lideram a gestão nas escolas - nada se faz sem consultar a DRE. DRE que, afirmo-o por experiência própria, em sede de recurso hierárquico por parte de um professor, se coloca do lado da hierarquia independentemente da razão que assista ao professor. São estes comissariados prepotentes que se vão impunemente reproduzindo nos próprios conselhos executivos muitas vezes mais papistas que o papa.
Chega. Big brother, amanhã faço greve.
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