Preparação para as provas de aferição
Uma vez que iriam realizar a prova de aferição, os meus alunos de 6º ano fizeram, no 3º período, duas das provas saídas em anos anteriores. Não me parece escandaloso este trabalho. Estas provas são em geral extensas e havia que prepará-los para que não se intimidassem com a medida e soubessem gerir os tempos.
Tinha previsto, na última aula de 45 minutos antes da prova, trabalhar com a minha turma de sexto ano a análise da frase complexa, relações de coordenação e subordinação, assunto tratado mas menos batalhado.
Estive no barracão tanto tempo à espera que chegassem, vindos da aula de Educação Musical que ocupa os primeiros 45 minutos do primeiro bloco da tarde (bem concebidos estes horários!), que resolvi escrever no quadro algumas recomendações para a prova. Ler com atenção, Pensar, Cumprir as instruções. Escrevi em pontos, colocando uns por baixo dos outros. Eles não apareciam. Saem tarde da aula ou perdem-se no caminho, vão à casa de banho, vão beber água, vão comer qualquer coisa que o almoço foi curto ou já passou há muito. Para enfatizar e ocupar a espera, repeti nas linhas ler com atenção, ler com atenção, pensar, pensar, pensar, cumprir as instruções, cumprir as instruções.
Foram chegando e fui-me “esquecendo” de marcar faltas já que me interessava que todos participassem na aula. Para meu espanto, abriram os cadernos e começaram a copiar as recomendações. Os mais diligentes no cumprimento da tarefa, que eu não encomendara, eram uns mariolas muito desviados no correr do ano mas tentando, nesta parte final, mostrar grande dedicação ao português já que na matemática não tinham esperança. Copiavam repetindo, tal como eu escrevera no quadro.
Berrei não é preciso copiar, é preciso ter na cabeça. Decidi então no momento - cada fila lê uma instrução. Começaram e a coisa soou-me bem. Outra vez – saíu-me. Tinha ritmo, tinha música. Fui apontando fila e frase, variando, variando, foram-se levantando, a coreografia foi aparecendo. Usamos assim o tempo da aula. Lá se foi a coordenação e a subordinação p’ró galheiro. Eles adoraram e eu gostei. Foi forte. E ficou de “hino” o pensaaar, pensaaar, pensar/pensar/pensar que passaram a usar quando lhes parecia oportuno.
E a performance não foi arrasadora – dois B, dois D (um deles até escreve textos razoáveis mas só eu consigo decifrar-lhe a letra e tem sido batalha perdida alterar isto) e um E de um rapaz chegado este ano de Cabo Verde e pouco entrosado ainda com a escola - com turmas grandes e complicadas é difícil o trabalho de proximidade que encurte estes processos. Os restantes ficaram pelo C, quer aqueles aos quais já atribuíra nível quatro quer alguns de nível dois.
Tiveram os B aqueles alunos a quem atribuíra nível cinco. Mãos largas ou o condicionalismo das circunstâncias? Houve um único A na escola e foram duzentos os alunos que realizaram a prova. E era tãããão fáááácil – diz-se!
Tendo percebido este ano, pela tarefa de supervisão de que estive incumbida, que as provas são no final reenviadas às escolas, não entendo por que não trabalhamos nelas agora, neste tempo que se pretende seja de preparação do próximo ano lectivo. Seria útil para o meu trabalho verificar como tinham os meus alunos reagido. No trajecto para o arquivo morto podiam fazer uma passagem pelas minhas mãos. Se se pretende que estas provas sirvam para melhorar as nossas práticas, este secretismo opõe-se a esse desiderato. Podiam emprestar-mas por uma semana, ou por três dias, ou, marcar um encontro dos professores de português do 6º ano, dar-lhes as provas para a mão, deixá-los durante algum tempo analisar o trabalho realizado pelos seus alunos e mandá-las de seguida para o “lixo”.
Farei proposta em reunião de departamento e logo se verá.