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M. Eugénia Prata Pinheiro

quinta-feira, maio 31, 2007

Avaliação, alienação

Partindo do pressuposto de que a escola continua a fazer sentido e que pode passar conhecimento, pressuposto que, enfim, me traz algumas dúvidas, há que de momento enfrentar o magno problema da avaliação.

No que toca às escolas evita-se. Faz-se de conta que se põe em marcha um processo de avaliação interna arranjando uma comissão. Por departamento, muito democraticamente, por eleição, voluntariado ou sorteio, lá se encontram os membros para a dita. Os conselhos pedagógicos tomam conhecimento de que a comissão está constituída. Fica na acta. Pronto, está concluída a avaliação interna. E este modo de fazer na escola é a reprodução do que faz o próprio ministério que envia dados falsos para esses organismos internacionais de controlo. Num recente relatório da Unesco fica isso provado. Portugal está, por exemplo, colocado entre os países que fazem selecção na entrada para a profissão.

No que toca aos professores a coisa fia mais fino. O processo está inquinado à partida. Fica claro no arranjo inicial que o objectivo exclusivo é o da poupança. Assim, jamais se pretenderá que todos ganhem excelentes performances. Pretende-se apenas que pelo funil da carreira vão passando poucos, poucochinhos, que o erário, além de reduzido, não é para desbaratar em aprendizagens.

É assim que ficam fora deste concurso 1 para titulares de quê aqueles professores que se ocuparam das suas aulas. Feitas as continhas - 56 pontos por estarem ao serviço, 35 por não terem faltado, 1 ponto pelo satisfaz que obtiveram num qualquer desses anos - 92 é curto. Faltam 3 pontecos.

Naturalmente que, com o ambiente então reinante no que respeitava à avaliação, ninguém estava para se dar ao trabalho de requerer a classificação de bom. Já antes se fizera um ensaio de avaliação nas passagens para o 8º escalão e para nada serviram os bons ou muito bons aí obtidos. Em nenhum ponto do agora defunto estatuto, esta diferenciação entre o satisfaz e o bom tinha qualquer significado. Aliás aquela avaliação não tinha em si qualquer significado. Servia apenas para ocupar o tempo e constar no currículo de uns quantos elementos dos conselhos pedagógicos que indiscriminadamente atribuíam a menção de satisfaz a todos, quer fossem os maiores baldas quer não. Parece-me portanto absolutamente ilegal que essa "avaliação" ganhe neste momento esta força discriminatória. Se tivesses requerido o bom, tinhas 5 pontos e ias a concurso. Não requereste, tramaste-te. Mais ainda quando a palhaçada permite que alguém que até faltou bastante, se borrifou para as aulas ou até poucas tinha para dar porque acumulava cargos, vá agora buscar pontos aos cargos ou aos cursos que, baldando-se, teve tempo para fazer e salte airosamente para o concursinho. Pior ainda se, quando a coisa apertou, se pôs ao fresco com atestado de longa duração ou licença sem vencimento, como conheço casos.

Tudo isto dá o mote para o que irá ser a avaliação dos professores.

Não tem sentido a preocupação com os resultados dos alunos. Não é por aí. Aliás está a parecer-me que cada vez mais se caminha na senda do Carneiro Pacheco, o célebre ministro da instrução de Salazar. Ensine-se o medo, a delação e a ignorância. Pôr os alunos a pensar abre o caminho à crítica e à liberdade e isso são perigosas conquistas para os tempos que correm.

Os professores que ainda não são verdadeiros funcionários que se funcionarizem. Que cumpram estritamente todas as ordens emanadas dos superiores, por mais absurdas que pareçam nunca as questionem sequer, que sigam escrupulosamente as regras sejam elas quais sejam, que passem aos alunos a ideia de que isso é o verdadeiro saber (o tal saber estar). Seguindo esta cartilha do funcionário lograrão entrar no reino dos escolhidos.

Assim vamos - avaliação, alienação.

Esta aferição servirá para quê?

Nesta história das provas de aferição está a sair-me sempre o ás.

Durante as provas calhou-me o isolamento profiláctico que me poupou à figura de urso.

Agora nas classificações os deuses também me protegeram e isto merece detalhe.

Até este ano, sempre que houve provas de aferição eu, porque estava no 10º jurássico, estava impedida de participar na função. Arranjei sempre explicações simpáticas para a exclusão - pretende-se que funcione como formação e eu estou a chegar à reforma (não, nunca me passou pela cabeça ..."com os pés para a cova ou caquética"); o processo é pago e eu estou no topo, que ganhem os menos abonados.

Surpreendentemente este ano acabou-se o dinheiro e lá foi o meu nome na lista. E na verdade já não estou perto da reforma, rejuvenesci à força (os pés para a cova e a caquexia são agora pormenores de somenos).

Mas temos supervisora da escola e isso impede que seleccionem de lá classificadores. Deixo para outra altura esta super visão que brota do nosso seio e que tanto jeito me deu.

Foram os deuses, o meu santo Alzheimer!

Danar-me-ia ter de oferecer aí umas 30 horas de trabalho a somar às 40 semanais que venho a cumprir desde o início do ano lectivo (30 na escola e uma média de 10 em casa). Não sei como não se exigem contrapartidas, nem que seja em dias de férias.

Danar-me-ia ter de gastar tempo e dinheiro do meu bolso em deslocações inesperadas de alguns quilómetros, para recolher as provas que me caberiam, como tem acontecido a tantos professores envolvidos no processo.

Incomodar-me-ia reduzir a pontuação na redacção do texto final por desrespeito pelo "universo de referências iniciais e incoerências na progressão" que uma segunda leitura do texto poderia impedir e que foi vedada aos alunos. E suponho que nenhum se lembrará de apresentar com aspas o diálogo, tal como aparece no texto inicial.

A falsidade do anonimato, pois suponho que em parte se perdeu, também não me agradaria.

Olhando a prova e as classificações atribuídas às diversas respostas, cada vez mais me parece que será possível construir um instrumento de aferição para 50 ou 60 minutos. E este excesso de papel (19 páginas na Língua Portuguesa 2º ciclo, 17 no 1º ciclo, 22 páginas na Matemática do 2º ciclo e 23 páginas no 1º) que se consome nestes exercícios é, sem dúvida, um mau ensinamento para os alunos. É ensinamento para mim que ao longo do ano me esmifro para conter o gasto de papel e cópias na escola, gastando do meu bolso em casa inúmeros tinteiros e resmas de papel. Que me venham cá com a conversa do esgotamento do plafond atribuído a cada um e da falta de verbas!

Fiquei há dias a saber que os alunos que estão no 4º ano em escolas do agrupamento e que não sabem ler, ficarão dispensados da prova de aferição. A dispensa parece-me justificada mas ser-lhes-á apenas marcada falta como a qualquer outro que esteja doente, ou haverá registo real dessa situação? É que no próximo ano lectivo eles virão para o 5º ano. No início deste ano lectivo, numa das minhas turmas com 24 alunos, dois deles não sabiam mesmo ler. Um terceiro começava a arranhar. Uns dez liam e compreendiam o que liam. Onze, portanto, ainda andavam a tactear.

Quando no início do ano detectei a situação (porque não constava claramente em nenhum relatório) e a expus em departamento e conselho de turma não foi possível encontrar soluções. Naturalmente que em espaço de aula com a turma é impossível fazer trabalho individual com estes alunos. E só com trabalho nesses termos seria possível que ganhassem essa "competência". Mas tudo é interdito. É interdito tirá-los da turma durante um ou dois meses para que alguém destacado para o efeito trabalhe com eles para que voltem depois ao trabalho normal. É interdito tirá-los da frequência de algumas outras disciplinas para que, usando os meus tempos não lectivos, pudesse com eles fazer esse trabalho. É interdito mandá-los de volta para o 1º ciclo e se de lá vieram sem aprender, seria uma ida em vão. Então a sequência acontece de forma natural - lá vão abandonando as aulas e a escola. Um deles, com apenas onze anos e habilidade para o desenho, resistiu, embora flutuante, até ao terceiro período, atrapalhando frequentemente as actividades que se iam desenvolvendo e em que não conseguia participar. Qualquer deles me pareceu ter normais capacidades de aprendizagem. Como é então isto possível? Que se passou durante o 1º ciclo?

Servirá para quê esta aferição? A ver vamos.












quarta-feira, maio 30, 2007

Maio, maduro Maio...

G R E V E


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kaos

terça-feira, maio 29, 2007

Greve geral no dia 30

Não me move a simpatia pelos sindicatos. Quando jovem, nos idos de 74/75, tive ilusões. Embarquei dedicadamente na construção de um sindicato para os professores. Duas listas foram a votos nessas primeiras eleições - a lista A, patrocinada pelo PCP já com larga organização no sector, e a lista B que agregava gente variada, simpatizantes de outros partidos ou independente deles.

Fiz parte da lista B que tinha por lema "Todo o poder às escolas". Rápida organização de um grupo de pessoas desconhecidas (apenas alguns laços de amizade entre algumas ou de actividade cívica desenvolvida). Corremos a região da Grande Lisboa fazendo reuniões de professores fortemente participadas. Debates nas rádios e nos jornais. E perdemos por pouco, o que, com as condições existentes na altura, foi um resultado excelente mas que não pôde impedir a situação de controlo e de marasmo em que o sindicato mergulhou. Há já uns anos largos dessindicalizei-me e registo como curriculo negativo ter de algum modo contribuído para o nascimento e consolidação daquilo que tem sido o SPGL. Lá que foi um passo atrás, foi. E não deram passos para a frente todos os outros sindicatos que, como cogumelos, foram surgindo.

Ficou-me o desagrado da corporaçãozinha, do controleirismo, do combate faz de conta para obtenção de umas quantas regalias personalizadas, dos condomínios fechados e de luxo. Ficou-me o travo amargo das sórdidas alianças com os poderes instituídos, para impedir avanço e largueza de acção.

Não me parece que este tipo de organização nos dias de hoje tenha préstimo. É revelador o modo como esta "greve geral" foi convocada e é defendida pelos timoneiros. Não há entraves ao continuado esboroar do tecido económico e à montagem de um estado policial com bufaria anexa.

Mas vou fazer greve.

A vida de grande parte das pessoas está a tornar-se difícil com um governo que sacrifica os já desprotegidos. O desemprego aumenta, as dívidas à banca deixam famílias no limiar das suas capacidades de sobreviverem com alguma dignidade. Cortam-se apoios e recursos às populações mais carenciadas. Continua estendido o tapete do despedimento escondido por palavrões novos como flexigurança.

No que toca de perto as escolas, as coisas vão mal.

Nem vale a pena referir os problemas que se vivem no ensino superior, sobretudo no privado, com cobertura do ministério de tutela e dos organismos inspectivos.

No básico e secundário, apregoando-se o desejo de qualidade e de combate ao abandono, fecham-se escolas e aumenta-se o número de alunos por turma. As instalações degradadas vão continuando a degradar-se. Um pré-primário abrangente continua miragem.

Reduzem-se funcionários, reduzem-se professores. O processo de colocação perde clareza. Aumenta-se o horário de permanência dos professores nas escolas sem que se criem condições para o aproveitamento desses tempos que constituem apenas uma inútil sobrecarga. Ignora-se a lei e não se paga trabalho extraordinário obrigatoriamente desenvolvido. Aumenta-se a idade de reforma numa profissão que não se compadece com o desgaste.

As absurdas alterações na carreira dos professores geram mal estar e criam fosso entre novos e velhos. Humilham-se professores já com mais de trinta anos de serviço junto dos seus alunos, sem absentismo, excluindo-os do novo concurso para "titulares de quê" e franqueando o acesso àqueles que pouco trabalho fizeram com os alunos, que faltaram mas fizeram cursinhos e/ou ocuparam cargos atribuídos muitas vezes por poderes discricionários e que, logo que a coisa apertou, meteram atestados de longa duração.

O abuso do poder tem o campo aberto como fica claro no tristíssimo episódio da DREN - ninguém varre da história o tiranete. E estas direcções regionais são os organismos que lideram a gestão nas escolas - nada se faz sem consultar a DRE. DRE que, afirmo-o por experiência própria, em sede de recurso hierárquico por parte de um professor, se coloca do lado da hierarquia independentemente da razão que assista ao professor. São estes comissariados prepotentes que se vão impunemente reproduzindo nos próprios conselhos executivos muitas vezes mais papistas que o papa.

Chega. Big brother, amanhã faço greve.


sexta-feira, maio 25, 2007

Figura de urso

Talvez por ter posto em causa esse atentado pedagógico de os alunos, tendo toda a prova de aferição à frente do nariz, estarem impedidos de vir atrás durante a segunda parte, fui colocada na sala preparada para receber os indispostos ou desordeiros. Passei, portanto, todo aquele tempo das provas a corrigir tranquilamente trabalhos e a ler o jornal - não tive alunos a fazerem-me companhia nem tive que pôr a alma à venda. Muito obrigada.

Tive depois os colegas aplicadores a virem queixar-se da figura de urso que foram obrigados a fazer impedindo os alunos, durante a prova de português, de voltar ao texto quando na segunda parte se lhes pedia que em nome da personagem principal elaborassem um convite e que redigissem uma sequência para o dito texto.

Sentiram-se também num reino de idiotia quando, depois de unissonamente terem lido instruções sobre o precioso anonimato da prova, para a tal elaboração do convite se pedia que fosse indicado o lugar da festa o que veio a traduzir-se no detalhar de todas as moradas daqueles alunos. Se quem assinava todos os convites era a personagem Catarina, ela passou naquelas provas todas a morar na zona da minha escola. Se não está claramente identificado o João ou a Lídia, a escola está lá plantada a pedido dos esclarecidos técnicos elaboradores destas aferições.

Terá alguma influência no professor corrector saber que está a corrigir uma prova de um menino da Quinta da Marinha ou de um menino do subúrbio favelado? Parece-me que terá mas quem sou eu para me pronunciar! Será assunto para mestrados e doutorados nestas coisas.

Se os doutos concluírem que terá influência, gastar-se-á tinta e paciência a riscar moradas em todas as provas de todo o país porque o que aconteceu na minha escola, aconteceu em todas as outras.

E como os professores aplicadores estavam transformados em robots e impedidos de dizer fosse o que fosse que não constasse do manual, mesmo apercebendo-se da bronca que se avizinhava, cumpriram o papel que lhes estava atribuído, embora vissem a sombra gozadora de um enorme urso projectando-se nas suas figuras.

O código convencional de escola perdeu assim todo o sentido e o anonimato está em causa. Alguém será chamado à pedra por revelada incompetência que anula todo um caro processo?

Vi na imprensa que o dia 22 era feriado municipal na zona de Leiria o que implicou o pagamento extraordinário a todos os professores e funcionários da zona para que as provas tivessem lugar e estragou o feriado a todas as famílias com filhos envolvidos nestas provas. Quem paga esta brincadeira tonta? No ME não há agendas?

Já me tinha causado perplexidade que se tivessem escolhido os mesmos dias da semana para as provas de aferição e para os exames do nono ano. Perdem-se duas semanas de aulas com as mesmas turmas. Mas nos gabinetes ministeriais tudo isto passa ao lado.

Aparentemente coisas pequenas - estabelecimento de datas, operações para manutenção de anonimato - causam forte perturbação e põem em causa a seriedade que se pretendia impor ao processo. Avaliação negativa para o ME.

Que tal umas acções de formação? Área de Projecto?




domingo, maio 20, 2007

Titulares de quê - inscrição obrigatória

Pode passar despercebido. Aqui acede-se à ficha de preenchimento obrigatório para as candidaturas ao concurso de titulares de quê. Não tendo encontrado em lado menhum a indicação do prazo durante o qual a ficha estará acessível, o melhor é que rapidamente se proceda a esta formalidade imprescindível a qualquer candidatura.

Muitos de nós, professores destes jurássicos escalões, estamos há muitos anos arredados destas cerimónias. Teremos de habituar-nos a estas modalidades com prazos curtos, rasteirados por fins de semana.

Deixo o aviso. Se na altura devida não nos conseguimos opor a esta divisão obscura dos titulares de quê, não entreguemos agora o ouro ao bandido. Trata-se de concorrer e de exigir quadros onde todos caibam.

quarta-feira, maio 16, 2007

Provas de aferição - aferir o quê?

Fui convocada para aquela estranha função de aplicadora.

Éramos às dezenas na reunião "explicativa". Julgo que estavam convocados cerca de 150 professores. Destes, um grande número entrara na escola por volta da 8 da manhã e ia sair da escola por volta das 8 da noite. E o sentimento de que alguém estava brincando com a gente era generalizado. Ainda que alguns possam ter feito os seus cursos em universidades mais ou menos independentes, o facto é que, ao que me parece andando lá pelo terreno, todos sabem ler e são capazes de compreender as instruções.

Nos gabinetes ministeriais duvida-se que estas competências estejam adquiridas e impõem-se duas reuniões para esclarecimento do manual. Alguns, porque são directores de turma ou professores do quarto ano ou de português ou matemática do sexto, levaram mais uma reunião de bonus. É obra.

Desconfio que o efeito é exactamente contrário ao pretendido. Ao fim de dez horas de permanência na escola ninguém está já com grande disponibilidade para apreciar devidamente o show. Cai tudo em saco roto. Teria sido muito mais eficaz distribuir o manual aos aplicadores para que o lessem e, enfim, numa única reunião tratar das dúvidas que surgissem e pôr os pontos nos is. Numa altura do ano em que há muito trabalho para fazer com e para os alunos, esta sobrecarga de reuniões traduz-se num intenso desgaste deixando toda a gente sem vontade de pegar no dito manual que entretanto ainda nem nos chegou às mãos.

Claro que está acessível na net e, para os que já arranjaram disponibilidade de tempo para aceder ao texto, a surpresa impôs-se. Passo à frente o detalhe nas instruções e a macaquice do texto para leitura obrigatória e em uníssono por essas escolas fora porque admito os objectivos. Pretende-se com tudo isto criar condições idênticas na aplicação das provas para que a aferição resulte. Tudo aceitável no que toca ao "durante a prova". Ridículo o final. Que quando tudo já acabou eu ainda tenha de estar em "modo de leitura" e tenha de ler Podem sair. Obrigado/a pela vossa colaboração, só esta visão antecipada da cena leva-me às lágrimas. Mas rir faz bem e até já estou a treinar um sotaque adequado a esta despedida.

O verdadeiramente triste nisto tudo é sujeitar os alunos, crianças na sua maioria entre os 9 e os 12 anos, a uma violência requintada - com a papelada toda à frente, na primeira parte não podem mexer para diante do "pára aqui" e na segunda parte não podem mexer para trás, no que realizaram na primeira parte. Vão dizer-me que não querem entregar duas partes separadas para que não se corra o risco de confusões, perdas ou desvios que impeçam a correcta correcção. Não me convencem e obrigam-me a cumprir um papel absolutamente anti-pedagógico. Não percebo como os pais não se opõem a esta brincadeira de mau gosto. Se eu tivesse um filho nestes anos de escolaridade evitaria que ele participasse nisto, ia de férias para casa de uma avó ou tia distante. É natural que um aluno cuidadoso saia da primeira parte da prova preocupado com qualquer resposta que deu ou nem deu, durante o intervalo encontre até sozinho a solução para o que resolveu mal ou nem resolveu e, entrando para a segunda parte, sofra estupidamente porque não pode andar para trás. Tântalo desnecessário, deformador, obsceno. Uma prova de cinquenta ou sessenta minutos bem construída seria mais que suficiente para aferir competências adquiridas, capacidades desenvolvidas.

Na tal reunião explicativa pedi a justificação pedagógica para este destempero. Não competia ao secretariado local das provas. Fiquei na mesma.

A única questão que merecia análise não cabia ali.

Que será afinal que se quer aferir? O conformismo, a capacidade de sofrimento? Quer treinar-se a obediência cega a regras não entendíveis?

Venderei a alma ao fazer de fiscalzeca do folhear para a frente e, sobretudo, para trás.

Fica lavrado o meu protesto veemente.

terça-feira, maio 01, 2007

Invalidando

Julgo que competiu aos presidentes dos CEs validar ou invalidar as candidaturas ao concurso em decurso. Uma vez que se trata de mexer com a vida das pessoas esperar-se-ia que imperasse respeito, cuidado, competência. Não foi assim. Não refiro a minha escola onde me parece que o processo decorreu com correcção. Os candidatos foram chamados a prestar esclarecimentos onde havia dúvidas e a corrigir falhas. Não ouvi qualquer queixa. Mas a avaliar pelo que me chegou de um outro agrupamento a incompetência e a prepotência andou por aí.

Relato apenas uma situação reveladora das absolutas falhas do sistema.

Concorrem na primeira prioridade, os candidatos que trabalharam num dos dois anos imediatamente anteriores ao concurso. Devem para tal indicar o estabelecimento de ensino em que exerceram funções.

Hoc opus hic labor est! Os candidatos escrevem cuidadosamente a referência da escola ou escolas em que trabalharam no ano anterior .Ora muitas das secretarias colocam apenas nos registos biográficos destes professores o nome do agrupamento de escolas, não registando o nome da escola em que o professor foi colocado e leccionou e que, de acordo com o que lhes é pedido, mencionam no concurso.

Como não bate a letra com a careta, no momento de validar os presidentes dos CEs invalidam. Mesmo que no processo do candidato haja outros documentos que atestem que trabalhou de facto naquela escola e que a dita faz de facto parte do tal agrupamento, estes senhores não se dão ao trabalho de fazer essa verificação. Não se dão ao trabalho de interrogar os agrupamentos da veracidade da declaração do professor/candidato, embora aos agrupamentos caiba essa certificação em sede de registo biográfico.

O registo biográfico, preenchido relaxadamente e com benção das hierarquias pelo funcionário da secretaria, faz lei. Ignora-se que os professores não são colocados em agrupamentos, são colocados e trabalham em escolas, chamadas na aplicação do concurso estabelecimentos de ensino.

Face à invalidação, os candidatos não podem corrigir este campo porque a informação que prestaram é a correcta. Coitados, ficam inválidos e aparecerão como excluídos nas listagens das candidaturas. Quando estas surgirem terão cinco dias para reclamar, possivelmente com sábados e domingos e feriados pelo meio. Lá andarão a tratar de papelada, necessariamente a faltar às suas aulas cujo horário coincide com as horas de expediente dos organismos a que terão de dirigir-se. E não disserto sobre a raiva que decerto os invadiu...

Difícil de compreender? Mãozinha de Kafka nisto.