Escola
sábado, maio 30, 2009
Lenços negros
O adeus aos anões
Santana Castilho
Escrevo este texto na véspera de mais uma manifestação de professores, com o intuito de partilhar com os colegas algumas reflexões sobre o tema. A economia de meios que o espaço limitado impõe arrasta-me hoje para um estilo telegráfico. Perdoem então a secura:
1. É verdade que muitos entregaram objectivos individuais, no quadro de uma lógica indigna que gritaram antes não aceitar. É verdade que muitos ajudaram a legitimar, com a sua participação, uma ideia de gestão que promove o caciquismo e demove a autonomia. Posso sugerir (coerência à parte, é evidente) que aceitar e vergar não significa concordar?
2. Se o anterior é relevante, não menos relevante são os muitos, porque felizmente são muitos, que não entregaram, não legitimaram, não aceitaram e não vergaram.
3. Tenho reflectido bastante e estudado algo, por razões profissionais e políticas, sobre o processo de tomada de decisão. Quando uma iniciativa de reclamação produz um resultado evidente, visível, ficamos contentes e felicitamo-nos. Quantos resultados bem maiores, porém, ficam sem o nosso regozijo, só porque não são visíveis? Quantas decisões em processo não regressaram ao limbo do esquecimento porque uma manifestação de protesto as enterrou antes de sem paridas? Vale a pena pensar nisto!
4. Entretanto, permitam-me que recorde, em exercício certamente redundante, que boa parte das enormidades previstas caíram (por enquanto) porque os professores se levantaram. O julgamento de uma política, por parte da opinião pública, e o seu consequente esclarecimento, era um, no início, mas é outro, agora. A quem e a que se deve a evolução? Apesar de ser a hora do adeus aos anões, os dinamismos políticos em jogo aconselham a não baixar a guarda.
5. Muitas organizações estão envolvidas numa luta comum, com vivências próprias de emoções diferentes, com estratégias de actuação dispares e com visões divergentes do que se devia fazer. Uma coisa, porém, as deve continuar a unir: a certeza de que as fracturas fortalecem o adversário. De forma assumida ou não, a actuação de cada um acaba exercendo alguma influência emocional nos outros. Lembremo-nos que, muitas vezes, vemos o indicador espetado em direcção ao outro, sem nos darmos conta de ter um polegar virado para nós. O sentido desse conceito tão decantado que dá pelo nome de responsabilidade não se suspende quando a acção é substituída pela omissão. O juiz supremo, nesta matéria, é a nossa consciência. E é sempre mais fácil resolver um sentimento negativo relativo ao que fizemos do que lidar com o remorso que resulta daquilo que não fizemos. Também vale a pena pensar nisto!
6. Numa manifestação, o número de manifestantes é obviamente relevante. Cem mil na primeira e cento e vinte mil na segunda, num universo profissional de cerca de cento e quarenta mil, fizeram história. Está feita. Ninguém a poderá apagar. Quantos serão amanhã? Não sei, mas sei que serão muitos. Os suficientes para defender a honorabilidade de ser professor.
Não esqueçam os lenços negros!
A(pós)P(ostagem). Boa ideia! Já comprei tafetá preto. Dá para cento e poucos adeuses(?). Se mais houver, melhor será.
Sobre a avaliação - José Gil, no Público
(...)
Relação afectiva foi destruída
JG – Absolutamente, porque, para empregar a sua palavra, houve uma exponencialização dos parâmetros. É incrível o número de parâmetros, das grelhas de avaliação, das propostas. Sem se saber como é possível. Em Portugal passou-se uma coisa muito má. Tudo aquilo, a avaliação que o Ministério propõe, com que não estou de acordo, pressupõe uma relação entre professor e aluno que foi destruída.
Quando se vai aferir numa grelha de avaliação a relação afectiva entre professor e aluno, porque somos muito espertos e sabe-se que a afectividade
tem uma importância enorme na cognição, na aprendizagem cognitiva. Mas a relação afectiva foi destruída.
P - Não estava já a sê-lo antes?
JG - Tem vindo a ser destruída, mas actualmente a sua destruição foi precipitada pró esta reforma. E pelo tratamento a que os professores foram submetidos. É preciso que o professor tenha uma autoridade espontânea. E idealmente não tenha que a exercer. A relação antiga do mestre e discípulo na Renascença, por exemplo, é essa. Não é uma relação de poder.
P - É uma relação de reconhecimento?
JG - Em que o discípulo vai aprendendo para chegar ao ponto em que ele vai estar no máximo das suas possibilidades. Não é uma comparação entre mestre e discípulo. Ele já não precisa do mestre e é o mestre a dizer-lhe: ‘Vai-te embora’. Isso já não existe agora, mas é um modelo de que nós precisamos, de certa maneira.
Nas crianças, na escola primária, a relação afectiva com a professora é fundamental para as aprendizagens Se se corta esse laço aquilo dá imediatamente impossibilidades. É um obstáculo.
Posso dizer, toda a gente pode dizer, que um dos efeitos da politica do Ministério da Educação foi virar todos contra todos. Virou-se os alunos contra os professores. Como é que é possível dar uma aula nas condições que me contam os meus alunos, que são hoje professores?
P- É uma característica que também já vem de trás, que não é apenas responsabilidade deste Ministério. É também da comunidade, das famílias?
JG – Sim, mas o que se fez foi precipitar uma tendência que deveria ter sido estancada. Denegriu-se ainda mais, com aspectos que nós conhecemos, que são denunciados, e que são verdadeiramente insuportáveis. Não é só a arrogância de que se fala, é o desprezo. Depois ser desprezado pelos alunos. O desprezo leva ao desprezo que os alunos podem ter e podem exprimir. Quem és tu? diz o aluno para o professor. Como é que quer que haja grelhas de aferição da aprendizagem ou que haja aprendizagem que funcione neste esquema?
P- Parece ser a vertente esquecida, quando é fundamental da escola, a aprendizagem
JG- A aferição, a avaliação, tem de dedorrer dos conteúdos e não o contrário. E isto foi feito com multiplicação amadorística, nada profissional, era quase para cobrir uma falta de pensamento sobre o que ensino, sobre o que é ensinar, sobre o que a formação. Não estou falar em velhas ideias humanista de formação. Sei que é preciso outras coisas novas. Mas disso tem que se falar. O que é que se ensina, como se ensina? Como desenvolver uma curiosidade que preexiste na criança? Hoje ninguém mostra curiosidade. Não há curiosidade. Porquê? Depois aparecem as arrogâncias da ignorância, que é o pior que há.
Você não existe
P– No seu entender, qual é o objectivo deste modelo de avaliação?
JG - Em Portugal havia uma espada de Damocles sobre o Ministério, todos os Ministérios, que é o dinheiro. Por outro lado, há um problema real de que os sindicatos não falam.
A nossa escola não estava boa. Muitos professores, ou pelo menos uma parte deles, não têm qualificações. Com a avaliação, alegadamente, matavam-se dois coelhos: reduziam-se as despesas, reduzindo o pessoal, e punha-se fora os que não eram bons.
Mas o que é que aconteceu?. Muitos dos que eram bons é que saíram. sairam. Porquê? Não aguentam. E o que é que eles não aguentam? Não aguentam não poder ensinar, não aguentam não poder ter uma relação em que precisamente se construa um grupo em que o professor age, em aprende ensinando, em que os alunos querem.
Tem que haver avaliação. Não pode é haver a inversão da subordinação da avaliação porque agora se estuda para se ser avaliado. Veja as Novas Oportunidades, para que é que serve? (...)
sexta-feira, maio 29, 2009
Despedidas, adeuzinhos...
Excelência
Manif a 30 - Vêm mesmo!
quarta-feira, maio 27, 2009
Fazer e fazer de conta
Furtei ao Francisco Trindade do "anovis anophelis"
FAZER E FAZER DE CONTA
A escola portuguesa – a cura pior que a doença
Um outro equívoco é necessário a este carrossel, nomeadamente, que tudo é quantificável (...) [e] pode ser avaliado por intermédio de questionários, e assim por diante. Talvez vinte por cento das coisas o seja, e pode ser que vinte por cento destes exercícios indutores de eficiência tenham algum valor ou que valham as horas e horas do nosso tempo e de preenchimento de formulários que requerem. É verdade que é possível medir através de um questionário se o serviço prestado no bar é rápido ou se as casas de banho estão limpas, mas nunca é demais dizer que aquilo que acontece aqui dentro de mais essencial, a experiência de [ensinar e aprender] (...), não pode ser [assim] avaliado e permanece um mistério (...)
Alan Bennett, Untold Stories New York, 2005
O texto de Alan Bennett é sobre a National Gallery [museu de arte] de Londres e não sobre a escola portuguesa. Porém, basta um corte aqui e ali para assentar que nem uma luva...
Santana Castilho - Carta aberta
Senhor primeiro-ministro:
Como sabe, uma carta aberta é uma figura retórica. Usamo-la para dizer publicamente coisas que reputamos de interesse geral e para as quais queremos mobilizar os outros. É este o meu fito. Claro. Dispensando mantos negros de campanhas da mesma cor. A assinatura vai no fim. Responsabiliza e o senhor sabe quem se lhe dirige.
Quer acredite, quer não, começo por lhe confessar que tenho, repetidas vezes, verdadeira compaixão de si e da vida que construiu ao longo dos últimos anos. Não se pode sentir bem, mesmo que se julgue um salvador. Porque, objectivamente, o país que resulta da sua governação está pior do que o país que tomou e porque são muitos os que o têm por carrasco das suas existências. É, por exemplo, o caso do grupo profissional a que pertenço, os professores. A ministra e os secretários de Estado que o senhor descobriu infernizaram um sistema de ensino que já não precisava de ajuda para ser medíocre. Mas foram longe no cumprimento da missão que lhes determinou. Tornaram-no um caos. A responsabilidade, primeira e última, de tudo quanto aqui disse à sua dilecta ajudante, no meu último artigo, é sua. Sua, senhor primeiro-ministro! O senhor tem vindo perseverantemente a destruir a credibilidade da escola pública, a hipotecar o futuro da juventude e, com ela, do país.
Se aplicar a si próprio a ligeireza taylorista da avaliação do desempenho que impôs aos outros, estritamente assente em resultados, só pode concluir que falhou e não merece a renovação do contrato. Três exemplos, entre tantos: o senhor conseguiu a maior taxa de desemprego de sempre e uma dívida externa como nunca se viu na nossa história; sufocou-nos com a obsessão dos 3 por cento para, afinal, terminar a legislatura com um défice nunca antes atingido.
O senhor, no partido e fora dele, rodeou-se de iluminados fanáticos que lhe têm feito crer que as suas posições - melhor dizendo, imposições - são as únicas razoáveis, ainda que diametralmente opostas às da maioria a quem se destinam. E não me venha com o discurso da legitimidade que conquistou nas urnas. Começou a perdê-la no dia seguinte, quando deixou de cumprir o que prometeu aos que em si votaram.
Umas vezes de modo sub-reptício, outras de forma desavergonhada, fui assistindo à coacção social para aceitar ideias denominadas de progressistas, que não são mais que retrocessos civilizacionais. Falo da escola a tempo inteiro. Falo daquilo a que chamou escola inclusiva. Falo do desmembramento do Sistema Nacional de Saúde. Falo do desastre da Justiça e da produção legislativa pré-ordenada para fins diferentes dos do interesse colectivo. Falo do incentivo à bufaria e da continuada tentativa de domar a imprensa livre. Falo do TGV, do fim dos concursos públicos e dos ajustes directos, das derrapagens escandalosas de preços e dos favorecimentos mais que duvidosos. Falo do esbatimento desapropriado e inaceitável das fronteiras entre o Estado e o PS.
Os funcionários públicos, em geral, e os professores, em particular, foram apresentados à população como os responsáveis pelos males do país. O senhor pulverizou carreiras em nome de uma modernização que ninguém vê. Tornou tudo precário. Deitou borda fora gente experiente e competente para acabar contratando em outsorcing depois. O último ajuste directo foi feito com Freitas do Amaral, por 72.000 euros, para rever a lei das fundações. Naturalmente que não está em causa a competência do professor. Em causa está o princípio. Em causa está a memória, que ainda não se apagou, de outro contrato para colectar, por mais do triplo daquele valor, imagine-se, uma legislação que qualquer secretaria-geral dominava e utilizava no dia-a-dia.
Entrámos em campanha eleitoral. Três eleições seguidas, arrastadas, com os mesmos que nos trouxeram à encruzilhada a dizerem que têm as soluções para o país, sem que ninguém peça desculpa por ter sido protagonista dos mesmíssimos erros que aponta aos adversários. Entre eles, o senhor sobressai pela falta de credibilidade. Pelo que acabo de referir, a título paradigmático, mais pela falta de cabal e atempado esclarecimento de tanta trapalhada em que tem sido envolvido. Queria que a rectidão do seu carácter não fosse com frequência objecto de dúvida. Gostaria que os olhos nos olhos da argumentação política substituísse o absurdo e a mentira manipuladora do receituário definitivo. Mas como quer, por exemplo, que o cidadão comum tome a sério o combate apressado ao enriquecimento ilícito, simulado na mesma casa que se abriu, sem pudor político nem vergonha cívica, quase por unanimidade, ao deboche do financiamento partidário? Ou que seja generoso quando o vê, lá fora, ridiculamente exposto a falar em castelhano que não domina, ou a promover computadores manhosos numa cimeira internacional?
Reconhecem-lhe dons oratórios. Discordo. O senhor é tão-só um pugilista da frase previamente fabricada (para o observador atento são significativos os seus erros discursivos: diz perdão, faz rewind e carrega no forward para prosseguir sem pestanejar). O seu vício para reduzir a argumentação ao pugilato verbal é irrecuperável, mesmo que a tarefa seja entregue à equipa de Obama que, dizem, vai contratar. Tenho para mim que o que mais o aproxima desse político é o tom da pele. Imagine como vejo grande a distância que vos separa e difícil a tarefa daqueles técnicos de comunicação. Sejam quais forem os resultados, o senhor já perdeu. Porque resignou um povo a viver explorado, sem esperança e sem alegria.
Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
quinta-feira, maio 21, 2009
Ainda a escola espinhosa
Cada vez mais me parece que estes Regulamentos Internos ajudam à deformação. Uma regra única resolve estas coisas - o respeito, respeito por si próprio e pelos outros.
Abaixo os RIs. Somos cidadãos ou meros arregimentados?
quarta-feira, maio 20, 2009
terça-feira, maio 19, 2009
Tudo vai mal
Não se pode entender que os órgãos de gestão se mantenham indiferentes às queixas que , ao que parece, vinham de longe, que os directores de turma se mantenham à margem de histórias destas.
Não se pode entender que rapazes e raparigas de 12 e 13 anos aturem passivamente tal coisa. Vão a "aulas" destas porquê? Ignoram que devem ser respeitados? Não percebem que devem recusar participar em cenas destas? Não percebem que entrar em processos de gravações é fazer um jogo tão sujo como o daquelas "aulas"?
E os pais que precisam de ver/ouvir uma gravação para acreditarem nos filhos que formação lhes estão a dar? E que passam a cassete para a comunicação social que respeito têm por si próprios e pelos filhos?
Ao serviço de quê atira a SIC para o ar a cassete? A instrução implícita será "gravem-se uns aos outros" e a seguir virá "matem-se uns aos outros" que nós cá estaremos para fazer crescer as audiências. E usam as palavras "professora", "aula" e "sexualidade" para tratar aquilo.
Uma tristeza!
PS. Li por aí que a gravação da aula teria sido sugerida ou autorizada pelo CE. Brrrrrrrr. Valha-me o La Tourette!
PPS. Não se confirmou a informação anterior. Foram as famílias que tomaram a iniciativa da gravação. Bom que repensem o modo de se relacionarem com os filhos e com a escola.
segunda-feira, maio 18, 2009
Prova de aferição do 6º ano de Língua Portuguesa
Os critérios de correcção
Como é habitual os alunos dizem que fizeram tudo bem e que era muito fácil. Grandes egos, elevada auto-estima, grau máximo de confiança.
Começa a prova por um texto dramático com curta exploração.
Parque de ondas da Aguçadoura está parado há 4 meses devido a problemas técnicos
Quando a prova foi elaborada já a coisa tinha ido ao charco e afinal é Aguçadoura. Má propaganda, tsssss.
O trabalho seguinte, que implica a análise de um sumário da revista de onde terá sido retirado o texto anterior, está bem construído e contém um pequeno exercício de escrita.
No funcionamento da língua o exercício 16 - completar texto com formas verbais - tem uma mancha gráfica que pode fazer perder aos alunos o fio da meada. No exercício 19 - destrinça de frases simples e complexas - não gostei do "no entanto" que inicia a terceira frase mas são gostos.
Ao contrário do que já ouvi por aí, não me desagradou o tema para a escrita. Penso que será mais fácil aplicar aqui critérios de correcção. Para os correctores a tarefa será bem mais simples.
Não há nada que impeça que os alunos inventem e não é forçoso que indiquem título e autor – está aberta a possibilidade de não se lembrarem. Poderão dizer que é da colecção tal, ou de banda desenhada, ou livro de contos, mas não se lembram do título nem do autor. Poderão inventar um título e um autor. Percebi agora à tarde que uma das minhas alunas, que até leva para casa e lê livros que eu ponho a circular, optou por falar do “Ulisses” lido e trabalhado na aula este ano. Dois outros pegaram numa colecção que lhes vi nas mãos um dia destes, qualquer coisa “cueca” que me danou já que vem com erros ortográficos para os meninos em família (!) detectarem. Às vezes era bem melhor que não lessem.
sábado, maio 16, 2009
José Gil - Em busca da identidade
Sobre a avaliacão transcrevo umas linhas:
Lendo, pensando, discutindo, talvez se deixe de ouvir e gritar a famigerada palavra de ordem "avaliação sim...". Talvez se deixe de colaborar. Talvez se entenda o modo de enterrar toda a farsa.
No final de Maio há manifestação. A ver se deixamos o ar lavado.
quinta-feira, maio 14, 2009
Curiosidades - é só fazer as contas...
Vivem em Portugal quatrocentos e cinquenta mil estrangeiros
Há quatro milhões e meio de portugueses emigrados, que vivem e trabalham por esse mundo fora.
Santana Castilho em tempo de balanço
A senhora ministra falhou estrondosamente com o sistema de avaliação do desempenho dos professores, a vertente mais mediática da enormidade a que chamou estatuto de carreira. A sua intenção não foi, nunca, como lhe competia, dignificar o exercício de uma profissão estratégica para o desenvolvimento do país. A senhora anda há um ano a confundir classificação do desempenho com avaliação do desempenho e demonstrou ignorar o que de mais sério existe na produção teórica sobre a matéria. Permitiu e alimentou mentiras inomináveis sobre o problema. O saldo é claro e incontestável: da própria aberração técnica que os seus especialistas pariram nada resta. Terá os professores classificados com bom, pelo menos, exactamente o que criticava quando começou a sua cruzada, ridiculamente fundamentalista. A que preço? Coisa difícil de quantificar. Mas os cacos são visíveis e vão demorar anos a reunir: o maior êxodo de todos os tempos de profissionais altamente qualificados; a maior fraude de que há memória quando machadou com critérios de vergonha carreiras de uma vida; o retorno à filosofia de que o trabalho é obrigação de escravos. Não tem vergonha desta coroa? Não tem vergonha de vexar uma classe com a obrigação de entregar objectivos individuais no fim do ano, como se ele estivesse a começar? Acha sério mascarar de rigor a farsa que promoveu?
A senhora ministra falhou quando fez aprovar um modelo de gestão de escolas, castrador e centralizador. Não repito o que então aqui escrevi. Ainda os directores estão a chegar aos postos de obediência e já os factos me dão razão. Invoco o caso do Agrupamento de Santo Onofre, onde gestores competentes e legalmente providos foram vergonhosamente substituídos; lembro-lhe a história canalha de Fafe, prenúncio caricato de onde nos levará a municipalização e a entrega da gestão aos arrivistas partidários; confronto-a com o silêncio cúmplice sobre a suspensão arbitrária de um professor em Tavira, porque o filho do autarca se magoou numa actividade escolar, sem qualquer culpa do docente. Dá-se conta que não tem qualquer autoridade moral para falar de autonomia das escolas?
A senhora ministra falhou quando promoveu a escola que não ensina. Mostre ao país, a senhora que tanto ama as estatísticas, quanto tempo se leva hoje para fazer, de uma só tirada, os 7.º, 8.º e 9.º anos e, depois, os 10.º, 11.º e 12.º. E sustente, perante quem conhece, a pantomina que se desenvolveu à volta do politicamente correcto conceito de escola inclusiva, para lá manter, a qualquer preço, em ridículas formações pseudoprofissionais, os que antes sujavam as estatísticas que a senhora oportunistamente branqueou. Ouse vir discutir publicamente a demagogia de prolongar até aos 18 anos a obrigatoriedade de frequentar a escola, no contexto do país real e quando estamos ainda tão longe de cumprir o actual período compulsivo, duas décadas volvidas sobre o respectivo anúncio. Do mesmo passo, esclareça (ainda que aqui a responsabilidade seja partilhada) que diferenças existem entre o anterior exame ad hoc e o pós-moderno "mais de 23", para entrar na universidade. Compreendo, portanto, que no pastel kafkiano a que chamou estatuto de carreira não se encontre o vocábulo ensinar. Lá nisso, reconheço, foi coerente. Só lhe faltou mudar o nome à casa onde pontifica. Devia chamar-se agora, com propriedade, Ministério da Certificação e das Novas Oportunidades. Não tem remorsos?
A senhora ministra falhou rotundamente quando promoveu um estatuto do aluno que não ajuda a lidar com a indisciplina generalizada; quando deu aos alunos o sinal de que podem passar sem pôr os pés nas aulas e, pasme-se, manifestou a vontade de proibir as reprovações, segundo a senhora, coisa retrógrada. A senhora ministra falhou quando defendeu uma sociedade onde os pais não têm tempo para estar com os filhos. A senhora ministra falhou quando permitiu, repetidas vezes, que crianças fossem usadas em actividades de mera propaganda política. A senhora ministra falhou quando encomendou e pagou a peso de ouro trabalhos que não foram executados, para além de serem de utilidade mais que duvidosa. Voltou a falhar quando deslocou para os tribunais o local de interlocução com os seus parceiros sociais, consciente de que o Direito nem sempre tem que ver com a Justiça. Falhou também quando baniu clássicos da nossa literatura e permitiu a redução da Filosofia. Falhou ainda quando manipulou estatisticamente os resultados escolares e exibiu os que não se verificaram. Falhou igualmente quando votou ao abandono crianças deficientes e professores nas vascas da morte. Falhou, por fim, quando se deixou implicar no logro do falso relatório da OCDE e no deslumbramento saloio do Magalhães.
Por tudo isto e muito mais que aqui não cabe, a senhora é, em minha opinião, uma ministra falhada. Parte sem que eu por si nutra qualquer espécie de respeito político ou intelectual.
terça-feira, maio 12, 2009
Ainda os magalhães
Depois os professores que queiram devidamente trabalhar com o dito instrumento na aula estarão em sérias dificuldades. E não só porque apenas uma parte dos alunos os têm mas porque o próprio professor não pode preparar esse trabalho. Para o preparar precisaria de conhecer antecipadamente os programas que estão instalados, organizando então os guiões para as actividades. Mas nem os professores têm magalhães, nem as escolas têm magalhães que os professores possam usar para este trabalho.
A coisa era para fogo de vista. Para o ME é bastante que uma parte dos meninos passeiem os magalhães e acedam aos jogos. E os professores que não se incomodem. Deixem lá os alunos ocupar uma parte do tempo da aula brincando no bichinho. Numa qualquer grelhazita de avaliacão inscrevam que usaram todos os dias na aula o precioso magalhães. Chegarão ao excelente quando a quota permitir. As farsas devem ser cumpridas
.
Querem avaliar quem?
Só Não Chora Quem Não Tem Coração
"De: Margarida Moreira (DREN)[mailto:margarida.moreira@dren.min-edu.pt]
Enviada: segunda-feira, 11 de Maio de 2009 19:38
Para: Escolas Sede e não Agrupadas (DREN - Externo)
Assunto: 4 ANOS DE MANDATO
Caras e caros colegas
Faz hoje 4 Anos (Surpreeeeeeesa).
Tem dias que parece (sic) que o tempo se emaranhou nas coisas e nas pessoas.
Tem outros dias em que tudo parece ter ocorrido ontem.
Contudo há algo que o tempo tem os limites certos (sic):
-Foram quatro anos bons de amizade, de solidariedade e de prazer de poder contar com o vosso profissionalismo e apoio.
DA VOZ DAS COISAS
Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho
Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz.
Fiama Hasse Pais Brandão
Em nome da Direcção o nosso (sic) muito obrigado.
Margarida Moreira"
E continua o Reitor:
Também me deu uma irreprimível vontade de dizer umas poésias:
Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes - esqueceste
tudo o que prometias...
Uma mosca sem valor
Poisa c'o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
António Aleixo
E, por fim, da autoria cá do rapaz, cá vai:
Tanta ternura, ó Magrida!
Prima-dona do Magalhães
Com quatro letrinhas apenas
se escreve a palavra mãe
sábado, maio 02, 2009
Luz do Sol desinfectante
uma directiva presidencial (de Obama) que poderia ser motivo de inspiração para a nossa administração pública: "A democracia exige responsabilização, e a responsabilização exige transparência. Como escreveu o juiz do Supremo Tribunal Louis Brandeis, 'a luz do Sol é tida como o melhor dos desinfectantes'. Na nossa democracia, o Freedom of Information Act (FOIA), que incentiva a responsabilização através da transparência, é a mais importante expressão de um profundo empenho nacional em garantir um governo aberto. No centro desse compromisso está a ideia de que a responsabilização é tanto do interesse do Governo como dos cidadãos. O Freedom of Information Act deve ser aplicado com uma clara presunção: no caso de dúvida, prevalece a divulgação. O Governo não deverá manter a informação confidencial apenas porque os funcionários públicos poderão ficar constrangidos com a divulgação, ou porque podem ser revelados erros e falhas ou por causa de receios especulativos ou abstractos. A confidencialidade nunca se deve basear numa tentativa de proteger os interesses pessoais de funcionários do Governo em detrimento daqueles que são supostos servir. Em resposta aos pedidos ao abrigo do FOIA, a administração pública deve agir prontamente e com um espírito de cooperação, reconhecendo que esses departamentos são servidores do público. (...) A presunção a favor da divulgação implica também que os departamentos devem tomar medidas positivas para tornar públicas as informações. Não devem esperar por pedidos específicos por parte do público. Todas as agências devem utilizar as tecnologias modernas para informar os cidadãos sobre o que é conhecido e realizado pelo seu governo. A divulgação deve ser feita em tempo útil." O único risco destas sábias palavras, no nosso país, é o de as mesmas serem entendidas como um apelo à propaganda do Governo... |
sexta-feira, maio 01, 2009
Rescaldos
Segunda-feira, 10 de Novembro de 2008
Terreno congestionado
Depois de o PSD se juntar à fronda contra o processo de avaliação dos professores, competindo com o PCP e o BE, resta o CDS juntar-se à manada.O oportunismo político no aproveitamento partidário de protestos profissionais é terreno congestionado em período eleitoral...
O senhor Vital Moreira, em cena de oportunismo político no aproveitamento partidário de protestos na rua, resolveu apresentar cumprimentos à manif do 1º de Maio convocada pela CGTP. Este senhor, que há uns meses me chamou vaca como se vê na citação, lá foi cumprir as determinações dos spins. Aparece agora a carpir "as agressões" que não passaram de uns quantos insultos e umas regadelas refrescantes. Ora, ora.
Quem semeia ventos colhe tempestades. E têm sido tantas as provocações destes pêesses!
Manobra eleitoral por manobra eleitoral, devia ter ido também cumprimentar todas, mas mesmo todas as outras manifes. Isso é que era investimento.