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M. Eugénia Prata Pinheiro

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Excelente 2007

Ainda não fui para as rabanadas. Um comentário já publicado ao post de 7 de Dezembro "Substituições, parte VI - a madrinha" deixado hoje pelo meu anonymous de estimação, deu-me ânimo para voltar cá.

Alerta o nosso estimado anónimo para as duas primeiras sentenças que determinam o pagamento de substituições. Mais três sentenças de teor idêntico e teremos que receber um justo pagamento por este trabalho extraordinário (em todos os sentidos) que nos caíu em cima.

Estou na fila. Recorri, no final de Outubro do ano passado, hierarquicamente e levei uma tampa atabalhoadamente justificada. Estava na cara e na lei que o pagamento nos era devido. Não avancei para o tribunal porque já tinham entrado diversos processos. Mas guardei toda a documentação. E há que juntar as substituições do ano em curso.

Quase tenho pena da ministra. É o que dá avançar desordenada e obstinadamente. Não quis dar conta da embrulhada que a tarefa suscitava.

Ao contrário do que li há dias num jornal diário, quem carrega as substituições são os professores que não faltam. Esses formam o plantão que cobre as ausências. Com as desagradáveis consequências que as experiências vividas que tenho relatado nos posts revelam.

Percebi há pouco que há sistemas de diferenciação a funcionar dentro da mesma escola. Nos cursos de educação e formação (CEF), os professores podem faltar sem ter falta. Combinam entre si e trocam os tempos das aulas. Hoje os alunos têm mais matemática e nada de português e amanhã, ou depois de amanhã ou para a semana, nada de matemática e mais português. Fica o problema da falta, que imagino não seja frequente, resolvido sem recurso aos substitutos.

E há paradoxos.

No ano passado, face aos quatro tempos de substituição que tinha a mais no horário (de três turmas passei a ter sete), estudei as matérias das diversas disciplinas naquele início de ano lectivo e tentei fazer o melhor que sabia as aulas para que fui enviada. Indignou-se o Conselho Executivo da minha escola quando requeri, ao abrigo do estatuto, o respectivo pagamento e chamou-me a presidente para me informar que se tratava apenas de entreter os alunos. E evitava a todo o custo que fizéssemos as substituições dentro da nossa área disciplinar para que não se pudesse considerar "aquilo" aulas.

Livrei-me deste pesadelo a partir de Novembro graças à jovem senegalesa que enfiaram numa das minhas turmas e com quem fiz questão de trabalhar a língua portuguesa tendo tido para tal que travar batalha (post "Diversidade linguística" de 9 de Novembro). Fiquei depois com o horário de pantanas mas valia o esforço.

Bem tentei este ano manter esse apoio mas "as instruções da tutela dão prioridade às substituições" (está em acta) e os alunos que continuem a falar apenas francês, guzerate, mandarim, ucraniano... e se chorarem nas aulas por não conseguirem acompanhá-las assobiemos para o lado. (Tem lógica - se são imigrantes querem vir para cá fazer o quê? Não é para as obras, para as limpezas? Querem ir para a faculdade, não? Era o que faltava!)

E este ano lá vamos dar mesmo aulas, aulas com plano, sumariadas e numeradas.

Lá se vai o erário público!

E assim, em jeito de Mofina Mendes, comunico que vou finalmente enriquecer. Que as minhas substituições saem caras, muito caras.

Muito lhe agradeço, caro anonymous. Um óptimo 2007 para si e que possa ir dando boas notícias.

Agora parto mesmo para as rabanadas.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Congelados

Seleccionar as salas viradas a norte, onde nunca entra um raio de sol, para as reuniões de avaliação será um sistema de arrefecimento indicado para a conservação de professores por mais uns anos ao serviço. (E professores congelados, no estrito sentido do termo, não chateiam, não mexem, não comentam...)

Sujeita ao sistema de frio esqueci-me. No afogadilho do preenchimento de não sei quantos registos de avaliação, relatórios, planos de recuperação e desenvolvimento, acta, anexos, rubrica aqui e acolá, em conselhos de turma de vinte e quatro alunos, num tempo de duas horas, com instruções que variam de um dia para o outro, esqueci-me que tinha proposta de trabalho para os colegas da Área de Projecto.

Nesta turma, já em finais de Novembro, uma aluna foi transferida para uma escola da zona de Almada para onde a família foi viver. No último dia de permanência na escola, a turma decidira fazer um almoço de despedida.

Tudo tratado em cima dos joelhos. Dez almoçaram em casa ou na escola . Os outros contaram com o almoço da festa. E que havia para comer? Um frango assado, algum pão, dois pacotes grandes de batatas fritas e umas quantas garrafas de sumo.

As aulas da tarde nesse dia foram complicadas. Catorze jovens esfaimados discutiam quem se tinha abarbatado das pernas do frango, contavam as migalhas que cada um comera.

Ataquei o mau uso que tinham feito dos vinte e cinco ou trinta euros de que dispunham para o banquete e pus na minha cabeça sugerir como tema a trabalhar na Área de Projecto o planeamento de uma actividade destas. Já uma vez fui por aqui com uma turma e foi interessante. Pensar a adequação dos alimentos ao tempo e ao lugar, calcular quantidades e preços, pensar a separação dos lixos decorrentes da função, antever riscos - facas, latas, datas de validade - é tudo conhecimento necessário.

Deixei escapar a oportunidade. Santo Alzheimer me acuda.

E há mais quem precise dos favores do santo.

A colega que substituí no 9º ano de Português (post "Ainda as vozes de burro"), já depois de todos os Conselhos de Turma concluídos, abordou-me indagando pelas auto-avaliações que os alunos tinham escrito nessa aula de substituição. Lá a informei que tudo tinha sido imediatamente entregue no Conselho Executivo que lhe deveria ter feito chegar toda essa documentação útil para o seu trabalho. Esqueceram-se?

Decidimos ambas pôr pedra no assunto durante estas férias festivas e reclamar depois.

Agora vou fazer montes de rabanadas e partir para longe destas tecnologias.

Um excelente 2007 para todos.


sábado, dezembro 16, 2006

Queridos alunos

Recebi ontem uma carta da Cátia.

Com a família reemigrou. Foram para a região de Paris há uns quatro ou cinco anos. Localizar os ex-alunos no tempo é uma das dificuldades com que me defronto. Na altura escrevemo-nos um pouco sobretudo para, ao enviar-lhe notícias e bilhetes dos colegas de cá, aligeirar o sentimento de perda e diminuir o medo do desconhecido. Também com este último objectivo trabalhei com ela durante aquele mês de Julho o francês básico que serviria para dar força à família na longa viagem de camioneta que os levaria ao destino e nos primeiros dias de instalação. Deixou de precisar de nos escrever. Larguei-a na sua nova vida.

A Cátia cresceu. Deixou de lado as setorices. Trata-me pelo nome com um belo "caríssima" atrás.Diz que vai tudo bem por lá - excepto o muito frio e a chuva - e que "já não tenho mais brincadeiras, é só estudar para ter um bom diploma". E sentiu saudades e quer notícias de todos. Reconhece que "já não tou a escrever muito bem português". (Mais uma vez o verbo tar ganhou-me.) Manda-me uma fotografia para que não a esqueça - lindo sorriso, grandes olhos negros e tranças enfeitadas. Envia-me um grande, grande beijo e um abraço e remata com um adoro-vos.

Partilhem, portanto, comigo este surpreendente presente natalício.

Reatarei esta comunicação.

Contratados precários

Embora, como antes vimos, o concurso fosse um pouco trapaceiro nos seus pressupostos, tinha na sua fase final alguma clareza. A lista estava ordenada e, à medida que apareciam horários, iam sendo atribuídos de acordo com o escalonamento. Pelo que ouvi na escola, a partir de Janeiro, passamos ao "salve-se quem puder". Poder que, ao que dizem, assenta em ter amigos nos conselhos executivos.

Nem as vítimas perceberam ainda como a coisa se processará.

Os horários a preencher serão anunciados centralmente?

Os interessados enviarão candidatura às escolas? E em que termos? Com currículo ou com o número da ordenação? Em mão, pelo correio ou pela net?

E as escolas seleccionam com que critério? Pelos lindos olhos, pelo encantador fato, pela árvore genealógica ou pelo número da ordem?

E como é que as vítimas controlam o procedimento?

Alguém sabe as respostas a estas perguntas?

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Ainda as vozes de burro

Que às vezes chegam ao céu...

Passados uns meses é melhor que nunca. E o Conselho Pedagógico lá tomou a medida pedagógica de fazer as substituições com plano dentro da área. Talvez me tenha livrado de algumas extravagâncias. Claro que também devo ter perdido assunto para alguns textos de raiva. Não se pode ter tudo!

E a senhora ministra lá vai levando a sua avante.

Um dia destes uma daquelas jovens colegas, empenhada em fazer bem o que tem para fazer, veio recorrer à minha "experiência em cumprir plano alheio" para que lhe desse umas dicas para elaborar plano para duas aulas a que tinha que faltar para poder acompanhar o seu filho de três anos numa cerimónia na natação. E tentámos pôr tudo o que pudesse facilitar a vida aos substitutos, pudemos descobrir quem seriam e ela pôde contactá-los de modo a que as aulas ainda distantes corram bem para todas as partes. Um ponto para a ministra.

Hoje de manhã a diligente funcionária com quem já tenho encenação definida - ela aproxima-se de mim, eu grito e ela entrega-me a guia de marcha - apresentou-me o plano para a substituição da tarde - 9º ano, correcção da segunda parte do teste sobre Gil Vicente e auto-avaliação. Foi divertido voltar a trabalhar a este nível alguns assuntos gramaticais - coordenação, subordinação, conjunções.Turma simpática, mesclada de cores e tamanhos, que me pareceu disponível para aprender.

Logo que eu entrara, uma aluna cumprimentara-me de modo mais próximo - tinha sido minha aluna há uns quatro anos e travei com ela diálogo mais franco. Mais para o final da aula, quando trabalhavam nas suas auto-avaliações, uma rapariga lançou um comentário jocoso que me permitiu uma colherada brincalhona. Que também fora minha aluna - disse-me de seguida. Pedi-lhe o nome. E aquela rapariga alta, elegante, desempoeirada, simpática e sorridente transformou-se numa menina de dez anos gorducha, tímida, descrente de si, lenta em qualquer movimento, sentada a uma primeira mesa de uma qualquer sala de aula há uns seis anos atrás. Um espanto! Como gostei de a reencontrar! Um ponto para a ministra.

E hoje um dos nossos alunos ciganos deu-nos ânimo com o seu acordeão.
Afinal, muitos pontos para nós.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Habilitações

Pelo que dizem os jornais, esperam-se alterações às habilitações consideradas necessárias para a profissão. Os mestrados, as post-graduações vão ser obrigatórias para o acesso. Lá pagarão, e bem, por estes canudos. E, obtidos os canudos, a qualidade está garantida. Braga à vista.

Independentemente da formação com que chegam às escolas, conheço jovens colegas dedicados com seriedade à tarefa. Conheço outros pelos quais não dou um tostão furado. Curiosamente estes são os trepadores.

Uma destas cridas culegas aqui há tempos trazia-me a acta de uma reunião que eu secretariara para que corrigisse o português. A cachopa, que mal sabia ler e escrever e muito menos falar, era atrevida. Pelo meio dos quaisqueres que houveram estava o errastes estas frases. De arrepio. E eu que naturalmente chamo cuidadosamente a atenção para o deslize e a chamada de atenção é bem aceite e até solicitada, com esta serigaita nunca me passara pela cabeça fazê-lo que a criatura tinha escrito na testa "ignorante e reles". Chamou-me ela a atenção para erros inexistentes. Tirocínio para mestra já que está a concluir um mestrado cujo tema será "A arte de trepar" ou coisa quejanda, mestrado que servirá para galgar uns quantos degraus na famigerada carreira.

Isto de habilitações tem que se lhe diga. Há dias um jovem colega de Educação Musical (não, não é o noivo) queixava-se do seu investimento na música. Fez o curso no Conservatório e é agora ultrapassado por muitos dos que fizeram os cursos de Educação Musical nas ESEs. Estes, podendo igualmente ser professores do 1º ciclo, aí vão fazer uma perninha para acumular tempo de serviço e passar adiante no concurso.

Estes cursos "dois em um" das ESEs são fantásticos. Quase todos servem para o 1º ciclo. Um jovem que toda a vida tenha reprovado a matemática, que odeie a disciplina, faz uma licenciatura em Português e Inglês ou Educação Musical ou, ou, que a panóplia é vasta e fica miraculosamente habilitado para professor do 1º ciclo. Como se desenvencilhará para pôr os meninos a gostar de matemática é coisa a que não sei responder. Mas lá que entram no concurso em pé de igualdade com os que fizeram a licenciatura dedicada ao 1º ciclo - porque era mesmo isso que queriam- lá isso entram. E, depois de ganhar um ou dois anos de serviço no 1º ciclo, voltam já bem posicionados para o concurso do 2º ciclo, ultrapassando quem não pode usar o mesmo estratagema.

É a concorrência de crise.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Substituições, parte VI - a madrinha


Mais uma substituição de Educação Musical com plano, rescaldo ainda das núpcias devidamente planeadas pelo ME. Já fiz quatro. Sinto-me madrinha.

Hoje não cumpri nada do estabelecido - o leitor de CDs enguiçou e os alunos, complicados, não estavam disponíveis para cantar à capela (e acho que eu menos disponível estava para os ouvir!). Depois de uma tentativa falhada de adições e subtracções sucessivas, acabámos na representação de actividades/profissões por mímica. Já passou!

Vou juntar à minha antiquada licenciatura em Filologia Românica, designação caduca só interessante para charadistas, esta formação em serviço que a contragosto me impõem - substituta especializada em Matemática e Educação Musical. Engrandece qualquer medíocre currículo no caminho da titularidade. Obrigada, senhora Ministra.


segunda-feira, dezembro 04, 2006

Substituições, parte V - engano de alma

Engano de alma, ledo e cego, que a fortuna não permitiu que durasse.

Voltamos ao mesmo! Passavam já dez minutos do início do tempo quando vieram convocar-me para uma substituição de Educação Musical com plano.Plano impossível de cumprir por quem não fosse da área. Por sugestão da funcionária, levei para a aula umas fichas da disciplina que os alunos poderiam preencher.

Olhando as folhas pelo caminho deparei com palavras que jazem nas minhas memórias remotas. Breves, semi-breves, mínimas, semínimas, colcheias... clave de sol e de fá. Até me puseram a aprender solfejo e piano mas, aos cinco anos, quando a professora me bateu com força com o lápis nos dedos castigando uma falha, pedi-lhe para ir à casa de banho e desapareci porta fora. Acabou ali a minha carreira de pianista. Nunca mais foi matéria para que voltasse a minha atenção.

Apenas cinco alunos tinham tido paciência para esperar pela aula e aproveitámos para rever a formação de palavras e questões de sintaxe.

O colega de Educação Musical está a usufruir da sua licença por matrimónio. Não pôde partir para a cerimónia sem deixar plano para todas as aulas a que iria faltar.

Sem planos de aulas é proibido casar.

O Conselho Executivo entendeu como obrigatório numerar e sumariar na disciplina as duas ou três aulas por turma a que o professor faltará. E como não entendeu necessário destacar alguém da área para estas substituições, lá vai o franco atirador que esteja de plantão cumprir este engano. Faz de conta que a aula foi dada, faz de conta que as matérias foram correctamente tratadas.

E a estatística das aulas de substituição com plano vai ser magnífica e a senhora ministra vai medalhar esta gestão astuciosa.

Sem planos de aulas é proibido casar!