Apareceu na sala de professores um mapa de acções de formação creditadas promovidas por um dos centros de formação da área. Muitas sobre o uso das tecnologias. Para as frequentar paga-se, por agora, 50 ou 70 euros. Um maná. A saber para os bolsos de quem. E como sem créditos lá se vai a avaliação, é fartar vilanagem.
O que interessa? Que tenhamos os conhecimentos, que sejamos capazes de os usar com vantagens para as aprendizagens dos alunos, independentemente do modo como adquirimos esses conhecimentos? Não, não. O que interessa é que paguemos. Podemos ter na escola um colega especialista num domínio e pronto para nos transmitir o seu conhecimento. E formação nestes termos, que permite troca imediata de saberes com referências ao trabalho com as próprias turmas, com os alunos comuns, mexe natural e favoravelmente com o "clima" na escola, com as relações entre as pessoas. Mas não interessa. Não dá créditos. Créditos só pagando.
Fui participando ao longo dos anos em acções de formação. Fui, sem dúvida, aprendendo com a informação que recolhia e com a troca de experiências que facultavam. Recordo uma das que me foi mais útil. Talvez em 1984 ou 85, arranque do Projecto Minerva, uma colega de matemática, de saudosa memória porque cedo nos deixou, decidiu abrir umas horas de trabalho na escola para aprendizagem de programação em basic para os professores e alunos interessados. Era uma escola do 2º ciclo. Inscreveram-se uns vinte alunos, uma velha professora de matemática e eu. Trabalhávamos com os spectrum. Programávamos para achar máximos divisores comuns, menores múltiplos... por aí fora de acordo com o programa de matemática dos alunos. Divertimo-nos juntos e aprendemos. Lembro-me de, no final do ano, já período não lectivo, ter preparado para as colegas de português uma exploração de um texto do Eça com a dita programação - tira adjectivos, troca cores... uma brincadeira para tirar o medo do bicho/computador. Ninguém nos deu horas, ninguém nos pagou nem pagámos a ninguém. Ninguém me deu créditos mas aquela linguagem basic ainda hoje me serve. Aqui há uns anos, estando a usar um programa para construção de horários, quando os colegas (da área das ciências mas sem aprendizagens de programação) consideravam impossível uma dada manobra, eu pude consegui-la recorrendo às luzes daquela longínqua aprendizagem.
Paguei uma acção de formação na Fac. de Letras para actualizar conhecimentos na minha área dada por uns especialistas na linguística aí professores. Eles estavam fora das suas horas de trabalho (e eu também). Os créditos foram inúteis porque estava já no jurássico 10º escalão. As aprendizagens foram úteis. Paguei quando me apeteceu ir aprender como funcionava o alemão. Não havia acções de formação do ME que me permitissem esta aprendizagem. Não ganhei créditos, nem crédito, mas aumentei a minha sabedoria, aumentei o meu conhecimento de que pouco sabia. Pago os livros que me apetece comprar, as idas ao teatro ou ao cinema, as entradas nos museus, as viagens... a minha autoformação.
Diz no Estatuto da Carreira Docente que o acesso à formação contínua é um direito dos professores, que a tutela deve providenciar essa formação. Não tem cabimento qualquer pagamento para estas acções promovidas pelos Centros de Formação do ME.